Perigosas: donos de caminhonetes denunciam arrependimento após serviço de ‘tunagem’ e até morte em MS

Vítimas buscam Justiça dizendo terem sido enganadas quanto a gambiarras que fizeram veículo perder a estabilidade

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Imagem ilustrativa | Reprodução | Wikipedia Commons

Tunadas, chipadas e ‘altamente perigosas’. É assim que muitos donos de caminhonetes, adeptos da mudança de aparência e desempenho, definem o resultado da estética automotiva com rodas, para-choques, saias laterais e suspensão, por exemplo. No entanto, quando se fala do motor, o processo que modifica as características pode trazer muitos danos, caso seja mal feito, fazendo o veículo perder a estabilidade e se tornar um perigo no trânsito.

O Jornal Midiamax teve acesso a denunciantes que ressaltam arrependimento ao fazer tal procedimento, especificamente em caminhonetes. Ao menos seis deles contrataram um advogado e processam empresas do ramo na capital sul-mato-grossense, dizendo terem sido enganados quanto a gambiarras que fizeram o veículo perder a estabilidade. Em um dos casos, a família busca Justiça após um motorista morrer na MS-156.

“Existem empresas aqui que estão fazendo gambiarras e colocando, no trânsito, verdadeiras máquinas de matar. Eu conheci ao menos 4 na cidade que fazem esse serviço de chipar a caminhonete para dar uma velocidade maior e parecer aquelas dodge ram gigantescas. Só que muitas dessas empresas colocam um calço na suspensão, algo que é proibido por lei e aí o dono perde a estabilidade conferida pela indústria”, afirmou o denunciante. 

Dessa forma, ele alega que as pessoas insatisfeitas com o serviço relatam que o carro fica, após um certo período, “bobo e dançando na pista”. “Para perder o controle da direção, nestes casos, é questão de segundos. Outra coisa, que não é informada para o cliente, é que ele precisa fazer manutenção a cada 3 meses, por conta do tempo de vida útil das peças. Antes, sem as modificações, ficava em torno de 4 a 5 anos, que é a garantia que vem no veículo”, argumentou. 

As informações, colhidas ao longo de um processo criminal em trâmite na cidade, contêm depoimentos semelhantes de vítimas. “São os próprios donos das caminhonetes, inclusive, que temem sair da sua trajetória e baterem em outro carro. Todas elas [vítimas] se dizem arrependidas, principalmente, porque achavam que estava tudo normal quando, na verdade, foram enganadas. Umas destas pessoas inclusive morreu quando estava a caminho de Maracaju e outras 6 se envolveram em acidentes de trânsito aqui”, disse.

Segundo o denunciante, todas as colisões foram causadas por ruptura de alguma peça da caminhonete. “Esses veículos possuem peso, altura, distância do volante, tudo [projetado] por engenharia. Quando se aumenta a altura, por exemplo, isso passa a forçar todas as peças diante do seu diâmetro e pode ocasionar acidentes, justamente o que aconteceu. Fora isso tem a questão das multas e todas as despesas que a pessoa tem ao pedir para desmanchar uma caminhonete, algo em torno de R$ 10 a R$ 20 mil”, comentou. 

Grande problema são os exageros, diz mecânico

Mecânico da área e que prefere não se identificar fala que não há problema em fazer modificações no veículo, pensando no aumento de potência, por exemplo. No entanto, os exageros acontecem quando a pessoa quer transformar o objeto em um “carro de corrida”. 

“Existem empresas sérias e que melhoram sim a potência, com tunagem, chipagem e que melhoram a performance. Ocorre que, neste remapeamento, muitos acabam despejando uma potência a mais no motor e, com essa autonomia, a gurizada acha que está em um canhão. O freio fica superdimensionado, a roda muito grande e a suspensão, é claro, prejudicada, prejudicando realmente a estabilidade”, argumentou. 

O Jornal Midiamax também conversou com um engenheiro Mecânico e proprietário de uma empresa de perícias. Ele diz que, caso o cliente entre com um processo contra alguma empresa e, na fase de julgamento, o juiz queira um relatório idôneo e que não envolva nenhuma das partes, pode solicitar uma perícia no veículo. Na capital sul-mato-grossense, existem empresas que prestam esse serviço.

Dono de veículo fala em preconceito

Um rapaz, que é dono de uma saveiro tunada e participa de encontro de carros rebaixados, fala que existe um preconceito e estes condutores são sempre “muito criticados”. Ele também não quer ser identificado. 

“Isso é um hobby, não só para mim, mas para muitos amigos que tenho. Nós nem corremos no trânsito, porém, somos sempre muito criticados. O estado, a prefeitura, ninguém apoia um evento nosso, mesmo quando estamos arrecadando alimentos e ajudando os mais carentes. Quando tem blitz, somos os primeiros a ser abordados e acho isso puro preconceito. Nos julgam muito, enquanto tem muito motorista por aí atropelando, matando e a polícia não faz nada”, falou.

Autuações por alteração de característica

Em Campo Grande, de acordo com dados do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito), 58.525 caminhonetes circulam diariamente. Durante as abordagens, no ano de 2021, 160 delas foram autuadas por alteração de característica. Não há em específico qual a alteração, porém, a multa inclui modificações indevidas nas rodas, suspensão ou escapamento, sendo estas também as ilegalidades mais comuns, ainda conforme o Detran-MS.

O Art. 7º da Resolução 292/2008 do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) permite modificações em automóveis, desde que o proprietário solicite autorização do órgão de trânsito responsável para a realização da alteração de característica.

O proprietário deve procurar uma agência do Detran-MS para uma vistoria de identificação do veículo e emissão da autorização para realização da modificação. Com a autorização expedida, ele procura uma oficina de sua confiança e, posteriormente, passa por uma inspeção para a emissão do CSV (Certificado de Segurança Veicular), além da inspeção do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).

Segundo o artigo 6° da resolução, para levantamento de suspensão, a altura mínima permitida para circulação deve ser maior ou igual a 100 milímetros, medidos verticalmente do solo ao ponto mais baixo da carroceria ou chassi.

O proprietário que realizar a alteração sem autorização, será penalizado conforme Art. 230, VII do CTB, infração grave com cinco pontos na carteira e multa de R$ 195,23, podendo ainda ter o veículo retido para regularização caso seja flagrado em circulação.

Denunciante aponta problemas após serviço de tunagem em carro, com calço em suspensão. Foto: Arquivo Pessoal

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