A Mata Atlântica tem perdido sua configuração original com o passar dos anos. Mato Grosso do Sul e outros 16 estados brasileiros possuem o bioma, mas apenas 24,3% desse território ainda resiste com a formação florestal.

Segundo os mais recentes dados do MapBiomas, esse tipo de cobertura, que ocupava 27,1% em 1985, caiu para 24,3% em 2021. Mais da metade (57%) dos municípios possuem menos de 30% da vegetação nativa.

Os estados com menor cobertura nativa em 2021 são Alagoas (17,7%), Goiás (19,5%), Pernambuco (23,4%), Sergipe (25,5%), São Paulo (28,4%) e Espírito Santo (29,3%).

Enquanto os estados com maior cobertura nativa de Mata Atlântica no ano passado são Piauí (89,9%), Ceará (76,9%), Bahia (49,7%) e Santa Catarina (48,1%). Mato Grosso do Sul tem 31% de cobertura.

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Mata Atlântica no Brasil (Foto: Reprodução/Mapbiomas)

Perda de Mata Atlântica madura

Além da redução em área, existe um processo de redução da qualidade dessa cobertura vegetal: entre 1985 e 2021 houve uma perda de 23% de floresta madura.

Em 37 anos, a vegetação primária foi suprimida em 9,8 milhões de hectares de vegetação e se regenerou em vegetação secundária em 8,8 milhões de hectares. Elas respondem por 26% de toda a cobertura florestal da Mata Atlântica.

“As florestas secundárias são essenciais para proteção dos rios, diminuição da distância entre fragmentos
e absorção de carbono da atmosfera, mas não possuem a mesma biodiversidade de uma floresta primária”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

Agricultura

Enquanto a cobertura florestal recua, cresce a área destinada à agricultura: esse foi o tipo de uso de solo que mais cresceu na Mata Atlântica nos últimos 37 anos. Essa atividade avançou 10,9 milhões de hectares. Se em 1985 ela ocupava 9,2% do bioma, em 2021 esse percentual alcançou 17,6%.

Nesse período, a silvicultura (cultivo de florestas) ganhou 3,7 milhões de hectares, passando de 0,7% (1985) para 3,5% do bioma. Juntos, agricultura e silvicultura já ocupam um quinto da Mata Atlântica.

O uso da terra prevalente no bioma ainda é a pastagem. Embora essa atividade tenha tido uma perda líquida de 10,5 milhões de hectares nos últimos 37 anos, um em cada quatro hectares desse bioma ainda é de pasto, que perde espaço para agricultura, mas ainda avança sobre áreas de floresta.

São 32,2 milhões de hectares, ou 24,6% da Mata Atlântica. A agropecuária, agricultura, pastagens, áreas de mosaico de usos e a silvicultura ocupam 60,1% da Mata Atlântica. Mato Grosso do Sul registrou esse fenômeno e o que antes era pasto, se transformou em terras para agricultura.

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Comparação entre 1985 e 2021 (Foto: Reprodução/Mapbiomas)

Urbanização da Mata Atlântica

O bioma também passou por um forte processo de urbanização nos últimos 37 anos. As áreas urbanizadas passaram de 674 mil hectares em 1985 para 2,03 milhões de hectares em 2021 – um aumento de 1,4 milhão de hectares. Embora 87,5% da expansão tenha se dado sobre áreas já alteradas, em 1985, 12,7% cresceu sobre áreas que eram naturais.

A degradação da Mata Atlântica já pode ter os efeitos percebidos. Um dos serviços ambientais prestados pelas florestas é produção e proteção de água. No período analisado, de 1985 a 2021, a bacia do Paraná teve sua cobertura nativa reduzida de 22,5% em 1985 para 21,6% em 2021.

A do Paranapanema e do São Francisco também tiveram uma redução da cobertura nativa, de 21,3% (1985) para 20,3% e de 57% (1985) para 52,9%, respectivamente.

“Depois de sucessivas crises hídricas afetando dezenas de cidades ao longo da Mata Atlântica, é preocupante ver a capacidade de fornecimento de serviços ambientais deste bioma ser continuamente fragilizada”, adverte Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da SOS Mata Atlântica.

“A preservação do que restou de Mata Atlântica e a restauração em grande escala são essenciais para preservarmos alguma resiliência dessa região à dupla ameaça da crise climática e da crescente irregularidade do regime de chuvas, decorrente do desmatamento da Amazônia”, ressalta, recordando que estamos da Década da Restauração de Ecossistemas da ONU.

Alguns exemplos positivos foram a bacia do Tietê, com muito pouca cobertura nativa, mas que passou de 14,29% (1985) para 15,0% (2021) e do Rio Grande, que aumentou de 17,6% para 19,7%.

Tipos de formações

Mas não foi só a cobertura florestal que diminuiu nos últimos 37 anos. Entre 1985 e 2021, houve uma perda líquida de 9% da área de formações savânicas, sendo que, em 2021, 14% delas eram de vegetação secundária.

As formações campestres repetem o mesmo processo: elas recuaram 25% entre 1985 e 2021. As restingas arbóreas perderam 12% de superfície.

O levantamento do MapBiomas a partir do mapeamento de imagens respeitou os contornos determinados pela Lei n° 11.428 de 2006, também conhecida como Lei da Mata Atlântica. Com isso, foram analisados todos os remanescentes florestais, incluindo os encraves do Piauí, Ceará e interior da Bahia.

Embora os 465.711 km² remanescentes da Mata Atlântica sejam encontrados em 17 estados, a área contínua estende-se por apenas 15 estados.