Horas após Bolsonaro entregar apartamentos em MS, moradores negociam: ‘4,5 mil pode buscar a chave’

Além das redes sociais, moradores usaram grupos de WhatsApp para oferecer os imóveis em Campo Grande

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Pessoas estão negociando venda de apartamentos logo após inauguração. Foto: Montagem/Jornal Midiamax

A inauguração mal tinha sido finalizada e alguns moradores do Residencial Jardim Canguru, na região sul de Campo Grande, já usavam as redes sociais para negociar os apartamentos, nessa quinta-feira (30). Parte deles, inclusive, escancararam a proposta: ‘4,5 mil pode vir buscar a chave’.

O Midiamax conversou com uma pessoa que mora na região. O jovem, que não será identificado, está desde ontem oferecendo uma motocicleta em troca de um apartamento. A intenção dele é entregar a moto e assumir as parcelas mensais de R$ 130.

“Estou oferecendo a minha moto desde ontem e já soube que três apartamentos foram vendidos, logo após a inauguração. Ontem eu quase peguei um. O rapaz tava querendo R$ 5 mil e, no desespero, vendeu por R$ 3 [mil]. Fui falar com ele novamente e já tinha vendido. Outras duas pessoas que falei já tinham vendido também”, argumentou o rapaz.

Uma mulher, que também possui um apartamento no programa de casas populares do governo, aproveitou a postagem para oferecer a casa dela. “Estou pedindo R$ 70 mil. Quero o dinheiro ou então trocar por uma casa na saída de Cuiabá, que é melhor pra mim. A pessoa transfere para o nome dela e assume a parcela de R$ 130”, disse à reportagem.

Grupos de WhatsApp estão bombando, diz delegada

Uma delegada de Polícia Civil viu as postagens e ressaltou que, além da discussão no Facebook, os grupos de WhatsApp também estavam “bombando” de conversas sobre a venda dos apartamentos no Jardim Canguru.

“Estão vendendo os apartamentos no mesmo dia em que receberam. Sei que muitos grupos de WhatsApp estão bombando. Tem tanta gente precisando e estas pessoas fazendo isso, entregando por quase nada”, lamentou a delegada.

‘Triste e revoltante’, lamenta Agência de Habitação

Apartamento no piso térreo do Jardim Canguru, em Campo Grande. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

Segundo a Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), é triste e revoltante ver estes fatos, principalmente por conta do trabalho, técnico e social, que é feito para ajudar e contemplar os menos favorecidos. “São apartamentos tão bonitos e as pessoas contempladas mal pegam as chaves e já tentam vender”, afirma a assessoria de comunicação do órgão ao Midiamax.

No caso destes apartamentos, construídos por meio do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), que é do Programa Casa Verde e Amarela, do Governo Federal, o agente financeiro e detentor do empreendimento é a Caixa Econômica Federal. Desta forma, as pessoas que assinaram contrato estavam cientes das condições, como a proibição de cedência, locação e venda, por exemplo.

Ao infringir tais condições, o morador, já inscrito no Cadmut (Cadastro Nacional de Mutuários) sabe que não poderá mais receber moradias em nenhum lugar do Brasil. Por parte da Amhsaf e da Agehab (Agência Popular de Habitação de Mato Grosso do Sul), não pode ser pedida a reintegração do imóvel, porém, o banco pode ser oficializado sobre os fatos e tomar as medidas jurídicas cabíveis.

O residencial

Residencial no Jardim Canguru é um empreendimento que integra o Programa Casa Verde e Amarela e conta com investimento total de R$ 29 milhões, porém 85% dos valores aplicados são do Governo Federal e os demais montantes do Governo do Estado. Nessa quinta-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro esteve em Campo Grande para inauguração de 300 apartamentos.

O conjunto habitacional conta com cinco blocos de quatro andares, com quatro apartamentos por pavimento, além de infraestrutura completa, com drenagem, esgoto, água, pavimentação, energia elétrica, iluminação pública e transporte público. Nas proximidades, há creches, escolas, postos de saúde e de segurança.

Bolsonaro chegando em evento de entrega do residencial no Jardim Canguru (Foto: Marcos Ermínio)

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