Após dois anos de pandemia do novo coronavírus, os relatos de dificuldade para se adaptar ao trabalho remoto — que iam desde a falta de ergonomia à dificuldade de separar trabalho e descanso — parecem ter sido superados por parte dos campo-grandenses: para os ouvidos pelo Jornal Midiamax, o home office saiu do status de medida emergencial para um modelo de trabalho possível, produtivo e até mesmo lucrativo. 

Nos primórdios da crise da covid-19, por volta de março de 2020, os trabalhadores foram pegos de surpresa e precisaram se adaptar “do jeito que dava”, afinal, era preciso seguir as regras das organizações de saúde, que restringiram de forma severa a circulação em vias públicas, assim como o deslocamento em transporte coletivo.

Porém, a adaptação chegou e muitos trabalhadores, hoje, defendem o modelo como uma tendência e não trocam o home office pelo trabalho presencial. Como para a gerente de Recursos Humanos Tathyanne de Almeida, de 37 anos, em que o melhor ponto de trabalhar em casa é a maior disponibilidade de tempo.

“[A maior vantagem é] ter mais tempo para cuidar minha rotina pessoal e estar perto dos meus filhos. Vejo que o home office contribui para a qualidade de vida das pessoas, já que trabalhando de casa você não precisa se preocupar com trânsito, consegue organizar melhor uma rotina de alimentação mais saudável e estar mais perto da família”, disse ao Jornal Midiamax.

Durante a pandemia, Tathyanne até mudou de casa para que os filhos pudessem ter um espaço melhor para o e aproveitou para arrumar seu “cantinho” de trabalho. “Adaptei um cômodo para ser um escritório, para que pudesse ter minhas coisas de trabalho organizadas”, contou. 

Tathyanne e os filhos de 6 e 3 anos no escritório montado em casa. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Da mesma forma, o gerente de Marketing Marcel Ebner, de 39 anos, notou que sua qualidade de vida melhorou passados todos esses meses trabalhando em casa. “Tenho mais tempo para mim, gasto menos com locomoção e ganhei mais qualidade de vida. Sinto que sou mais produtivo no home office, pois tenho menos distrações. Continuo tendo as mesmas horas de trabalho que tinha antes, mas posso acordar um pouco mais tarde para começar a trabalhar”, refletiu.

Para Marcel, o modelo de trabalho remoto deu novas possibilidades para o funcionário. “Nesses quase dois anos, evoluímos muito em relação ao . Mas, ainda estamos aprendendo a trabalhar dessa forma. Em contrapartida, as relações profissionais foram prejudicadas, já que, no modelo tradicional de trabalho, o dia a dia aproxima as pessoas, gera empatia e acaba fazendo algumas trocas mais dinâmicas”, opinou.

E a qualidade de vida também aumentou com um melhor ambiente de trabalho domiciliar. “Eu arrumei um quarto para chamar de escritório, organizei meus livros e meu espaço de trabalho. Fecho a porta quando termino de trabalhar. Tem funcionado muito bem”, contou Marcel.

Marcel organizou os livros, instrumentos e materiais de trabalho no mesmo lugar. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Flexibilidade 

A ida para o trabalho remoto foi inusual para a gestora de produtos Anne Bartira, de 32 anos. Segundo ela, porém, a ideia de trabalhar juntinho dos animais de estimação acabou conquistando-a.

“A princípio, preocupei-me se iria me adaptar e até achava estranho quando outra pessoa falava que trabalha de casa. Mas, logo depois de alguns meses, eu me adaptei. Passei a amar o home office e gostaria de trabalhar para sempre nessa modalidade. Trabalhar o dia todo ao lado das minhas cachorrinhas, com certeza, é um dos melhores benefícios”, declarou Anne, que assim como Marcel, também garante aquele soninho extra de manhã e também os hábitos saudáveis.

“Hoje não preciso me preocupar em acordar horas antes para me locomover e até me arrumar para ir para o trabalho. Pude começar a fazer exercício físico pela manhã e em casa eu consigo me alimentar mais saudavelmente, pois consigo preparar minhas refeições na hora do meu almoço”, acrescentou.

Anne planejou o escritório no novo apartamento. (Foto: Arquivo pessoal)

 

Unanimamente, quem está em home office adaptou e melhorou o seu local de trabalho — e Anne até planejou seu escritório no novo apartamento. “Caso não estivesse em home office, nós não íamos montar um escritório. Mas, devido ao cenário, nós já colocamos ali no planejamento do marceneiro a instalação de um escritório para que eu pudesse ter um lugar exclusivo para trabalhar”, disse.

Nem tudo são flores

Nem todos os segmentos comemoram o teletrabalho. Por exemplo: trabalhadores da área da educação relatam que o período de aulas remotas — já contornado em MS — prejudicou a aprendizagem dos estudantes. Como demonstrado no relato do professor e empresário Fábio Luiz: “Como professor, vejo que o teletrabalho não ajuda no processo de ensino e de aprendizagem. O dia a dia com o aluno é fundamental para o desenvolvimento e para diminuir dificuldades”.

“Tive que aprender a lidar com programas diversos de armazenamento de dados e fornecimento de material aos alunos. Um processo totalmente novo para ambos o lados, que exigiu muita dedicação”, continuou. 

Como todo educador nos últimos dois anos, Fábio também não teve como fugir do aparato tecnológico para dar aulas. “Montei uma sala de aula mesmo, comprei uma cadeira nova e melhor, melhorei o provedor de internet. Isso foi difícil, pois há um serviço muito ruim oferecido pelas operadoras”, contou. 

“Só havia um benefício: saía da aula já estava na minha sala ou na cozinha e, é claro, livre do trânsito diário”, disse o professor, que atua oferecendo treinamentos de gestão para profissionais e empresas.

O professor Fábio teve que lidar com um ‘mundo novo' com o home office. (Foto: Arquivo pessoal)

 

O que fizeram as empresas?

Com o avanço da vacinação, a grande maioria das instituições públicas e privadas, empresas e escolas voltaram para o modelo presencial. Porém, há lugares que decidiram continuar com o modelo remoto ou aderiram ao híbrido. Tathyanne, Marcel e Anne trabalham na empresa Digix, que aderiu ao modelo misto. Conforme Marcel, a empresa fornece notebook, monitores e cadeira ergométrica, além de um “auxílio home office”. 

Fábio é Sócio da Tex Treinamentos, um dos empreendimentos da Dijan de Barros Gestão e Treinamentos. Segundo o empreendedor Dijan de Barros, as empresas vão continuar com o trabalho remoto sem pretensões de voltar ao presencial. “Não retornamos mais para o escritório. No nosso caso, a experiência do home office foi positiva e decidimos torná-la permanente. Colhemos bons frutos neste ano que passou trabalhando de forma mais prática, objetiva e leve”, declarou ele ao Jornal Midiamax.