“Esquecidos da Vila Nasser”, moradores sonham com a chegada do asfalto na região mais baixa
Enquanto parte do bairro recebe obras de pavimentação, outro lado tem sujeira e muita reclamação
Karina Campos –
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A segregação urbana divide moradores da Vila Nasser, enquanto uma parte está em obras recebendo asfalto, na outra, que é a região mais pobre, os moradores ainda mantêm esperanças das patrolas passarem para, finalmente, designar um cenário diferente para quem tem uma casa em um dos bairros mais antigos de Campo Grande.
Quando se fala em acessibilidade, Suzana Ferreira olha para filha, de três anos que tem necessidades especiais, e aponta todas as consequências dos pedregulhos na Rua Leopoldina. Ela não consegue usar a cadeira de rodas, o ‘quebra-galho’ é o carrinho de bebê que usa com muita força empurrando e tentando desviar das pedras.
“Ela fica balançando, tremendo conforme passa pelas ruas. A cadeira de rodas não tem condições de usar aqui, pode machucar ela e estragar. Asfaltar aqui seria um sonho”, diz a moradora.
As ruas do quadrilátero em volta foram asfaltadas, a região é uma das mais baixas. Na Rua do Rosário, Luiz Mendes da Silva, de 61 anos, se mudou a cerca de oito anos e brinca que a patrola ou manutenção passa apenas uma vez no ano, sendo considerado até um evento para quem vive na comunidade.
“É igual Carnaval, dá para contar no dedo quando vem. Quando chove a água vem com tudo aqui, desce deixando valetas abertas. Tem gente que joga entulho a noite, tratam aqui igual lixo. Nessas valetas está cheio de entulho de material de construção. A gente fica pensando que talvez passa aqui, mas só um talvez”.
Fabio Renato Conceição, de 40 anos, é um dos primeiros moradores da Rua Leopoldina. Com as chuvas do último domingo (7) até a terça-feira (9), o trecho ficou intransitável. Ele já ouviu promessas de que o local passaria por uma revitalização, isso lá em 2012, algo que nunca saiu do papel para a realidade.
“Quando chove, tem caminhão e carro que atolam, a gente mesmo ajuda a tirar. Meu vizinho leva a bicicleta nas costas até chegar no asfalto, na rua de cima, senão ele fica atolado também. Nós estamos esquecidos aqui”, conta. “Fora as erosões e a sujeira de quando o tempo está seco”, completa o vizinho Elcio Manoel, de 54 anos.
Ruas asfaltadas na Vila Nasser
Há quem também passou por muitas dificuldades até, finalmente, ter a conquista de ter a rua pavimentada, a Rua São Lucas. É o caso da Illaria Lopes, que se mudou para o bairro em 2007. O filho é cadeirante, condição após ter sofrido um acidente de moto. A frente da casa é adaptada com uma rampa de cimento, ela conta que antes do asfalto chegar, o filho tinha dificuldades para se locomover e quase não saía nos dias de chuva.
“Eu vim para cá do Paraguai, depois que meus pais morreram, só eu e ele, que tem 33 anos. É uma vila muito boa e o asfalto é bom, o que falta é mais sinalização. Quando cheguei não tinha nem previsão de ter asfalto, tinha bastante buraco. Ele sofreu o acidente de moto há alguns anos e nos adaptamos a realidade do bairro, mas ter asfaltado é uma grande conquista para todos daqui, facilita”.
Morando há 40 anos na região, um idoso de 63 anos, estampa o sorriso ao falar da alegria de morar ali, diferente da comunidade mais pobre, ele respalda motivos para comemorar o avanço econômico da região. “Na minha área asfaltou faz uns 10 anos, agora que está aumentando. Eu sou suspeito para falar mal, porque estou feliz com as condições que está hoje em dia. Quando não chovia era um ‘poeirão nadado’, agora está ótimo, só melhorias para bairro. O que acho que falta é sinalização horizontal; acidente tem em todo lugar, mas em cruzamentos é difícil não ter”.
Para Rita Pereira, de 53 anos, a pouca sinalização é motivo de preocupação, já que a casa está em um dos cruzamentos. Mesmo sinalizado com placas de pare, ela aponta que condutores passam em alta velocidade, principalmente durante os horários de pico. Há uma escola próxima, o que causa aflição por medo de atropelamentos envolvendo crianças.
“Estou aqui há 18 anos e a minha rua já era asfaltada há alguns anos, os cruzamentos não. Nela tinha só um quebra-molas, que está bem distante do cruzamento. Depois do almoço, principalmente, vejo muito carro e moto em alta velocidade. Tinha que ter pelo menos mais um quebra-molas para dar mais segurança para a gente, porque as ruas são retas e longas, eles correm mesmo sem se preocupar com quem vem do cruzamento”.
Matheus Soares de Arruda tem uma barbearia na Vila Nasser e desde o início das obras notou que a empresa responsável deixou pedras em boa parte do cruzamento, logo, quem passa perde a aderência do veículo, o que poderia resultar em um acidente. Ele também conta que quase foi atropelado recentemente em uma esquina do bairro após sair da academia.
“Para entregar a obra ainda falta muito, precisa das calçadas, do cascalho e areia que estão nos cruzamentos que são muito perigosos. Faz uns cinco meses que começou [obra], e estamos esperando que entregue algo bom, com reforço na sinalização que já tinha e vai vir”.
As obras na Vila Nasser começaram em fevereiro deste ano, com 600 metros de tubulação com o cruzamento da Rua Catarino de Almeida, no Residencial Tolentino. Na época, a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) informou que as equipes iniciaram com quatro quilômetros de asfalto, além do recapeamento de 1.307 metros da Rua Antônio de Moraes, a partir do cruzamento com a Rua Januário Barbosa e a Rua Francisco Barbato.
A extensão de pavimentação chega também nas Ruas Lindóia, São Lucas, São Bartolomeu, Carlos Scardine, Sabino José da Costa, João Guimarães Rosa, Estevão Mendonça, Iturbides de Almeida Serra e São Tiago e Dona Julia Serra.
Segundo a secretaria, a sinalização e a calçada estão no planejamento na sequência da obra que segue em execução no local.
*Material atualizado com acréscimo de informação às 15h16.
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