Couro de porco no feijão substitui bife no prato de quem briga com alta nos preços em Campo Grande
Com inflação que não se via há décadas, preços dispararam e famílias passaram a substituir ou deixar de comprar produtos do mercado
Clayton Neves –
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Na casa da dona Antônia Guimarães, de 65 anos, o bife no prato virou item de luxo e deu espaço a pele de porco, que ela cozinha com o feijão. “Pago R$ 10 no quilo do couro de porco e é isso que consigo comprar”, revela a idosa que depende da aposentadoria para viver.
Com a alta nos preços e aumento da inflação, Antônia conta que nos últimos anos a rotina de ir ao supermercado mudou muito. Agora, ela só sai de casa após pesquisar preços e já não compra de uma vez só todos os itens que precisa. “Vai que no meio da semana aparece alguma promoção boa”, comenta.
Em casa, as mudanças também chegaram. Além da carne, outros itens foram substituídos ou até saíram da lita de compras. “Já tem tempos que não tomo leite e também reduzi bastante a quantidade de óleo que uso na comida. O feijão só compro o preto. É mais difícil de cozinhar, mas pelo menos é mais barato”, completa.
Alta da inflação
A realidade da dona Antônia é reflexo do processo de inflação que, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), não se via há décadas no País e que afeta drasticamente os mais pobres.
“Há uma mudança nítida no hábito dos consumidores na hora de ir ao supermercado, influenciada pela continuidade de um processo de inflação que não experimentávamos há décadas, e que tem se feito sentir com mais intensidade para as pessoas que recebem baixos salários”, explica a economista Andreia Ferreira.
De acordo com a especialista, “as idas aos supermercados têm se transformado em dor de cabeça, pois, até mesmo a escolha de itens mais básicos da alimentação comprometem o orçamento”.
Para se ter uma ideia, última pesquisa do Dieese feita em Campo Grande, relativa ao mês de junho, apontou que o comprometimento do salário mínimo líquido para a compra de uma cesta básica representava 62,68% deste salário. Então, de uma renda líquida de R$ 1.121,10, sobrava apenas R$ 418,45 após a compra da cesta.
“Poder de compra é uma coisa que a gente não tem mais. Nem em dia de promoção está dando para ir ao mercado porque está tudo muito caro”, desabafa a cabeleireira Alaíde dos Santos, de 26 anos.
Na porta de um supermercado, Alaíde empurrava um carrinho de compras. Com alguns itens para alimentação dela e dos filhos, de 7, 6 e 2 anos. “Paguei R$ 370 e aqui está só o básico para eu e minhas crianças passarmos a semana”, relata.
Segundo ela, a carne deu lugar ao frango, o leite para os filhos, só da marca mais barata. Já para tentar economizar centavos, compras maiores são feitas em atacadistas. “As coisas estão muito difíceis e, o pior de tudo, é que as crianças pedem as coisas para a gente”, finaliza.
Mudança no jeito de vender
E se entre os consumidores os hábitos mudaram, entre as marcas e comerciantes modificações também chegaram. Segundo o Dieese, as marcas mais conhecidas no mercado alteraram o volume dos produtos para não perder vendas.
O sabão em pó passou de 1 kg, por exemplo, passou a ser vendido em caixas com 800 gramas. Marcas de papel higiênico, antes com 30 metros, passaram a vir com 20. Enlatados como milho e ervilha passaram de 200 g para 180 g e agora estão em 170 gramas.
Nas prateleiras, misturas lácteas passaram a predominar, tanto nas de iogurte, quanto nas de leite condensado, assim como miúdos de carnes que eram descartados, mas passaram a ser comercializados.
“Podemos concluir que o fim da política de valorização do salário mínimo em 1° de janeiro de 2019 e a falta de reajustes adequados aos demais salários ao longo dos últimos anos, tem complicado um cenário que já não estava fácil”, completa a economista Andreia Ferreira.
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