Com preço dos alimentos ‘nas alturas’, Auxílio Brasil de R$ 400 apenas ameniza a fome em favela de Campo Grande

Maioria dos moradores da comunidade ‘Alfavela’ vive com ao menos duas crianças em casa

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Tatiane junto com os filhos.
Tatiane junto com os filhos.

O Auxílio Brasil passará do valor médio de R$ 220 em dezembro para R$ 400 em janeiro, mas o aumento é suficiente apenas para amenizar a fome de famílias carentes de Campo Grande. Isso por conta do aumento expressivo no preço dos alimentos nos últimos meses.

A reportagem do Jornal Midiamax esteve na comunidade “Alfavela”, localizada no Portal Caiobá, em Campo Grande. A maior parte das famílias tem mais de duas crianças em casa e a ajuda de custo não tem suprido tanto, principalmente para quem já conta com pouco. É o caso da moradora Thais Celina Ribeiro de Oliveira, que fazia um verdadeiro milagre com R$ 130 por mês.

“Eu recebo o auxílio há 7 anos, mas se antes já não dava para fazer muita coisa, agora menos ainda. O gás está um absurdo de caro, quase R$ 100, quase valendo ouro. Com esse dinheiro, a gente faz uma comprinha pequena para durar o máximo que der, compra um pacote de arroz, feijão, já viu o preço do óleo?”, questiona.

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Thais Celina vai destinar 1/3 do dinheiro para a educação da filha. (Foto: Henrique Arakaki)

Tomando café da manhã ao lado da filha e do vizinho, Thais ressalta que 1/3 do valor é investido na educação da menina de 10 anos. “A gente tem que investir na educação dela para mudar de vida”.

A jovem de 25 anos Caroline Ferreira também é beneficiada com o auxílio que colabora na alimentação dos três filhos de 9, 6 e 1 ano. “Dá para comprar o básico do básico, não sobra nada. Tudo subiu de valor, o dinheiro a mais só acompanha o que já está caro. Não dá para fazer algo a mais do que esperava”, relata.

A solidariedade entre os moradores é o que fortalece a comunidade. Com oito filhos, a grávida Tatiane Arruda Rocha, 26, já vê a despesa dobrar este mês, já que os filhos mais velhos, de 11 e 10 anos, vão ter que mudar para outra escola. A mãe até tentou analisar o custo de alugar uma van, mas não tem condições.

“A escola daqui de perto é até 6ª série e eles vão se mudar para uma no São Conrado. Tentei explicar o caminho de ônibus, mas eles não sabem, tudo para eles é fazer a pé. Vi uma van, mas me assustei com o valor R$ 300 por criança, além de passar do orçamento do auxílio é muito dinheiro”, explica.

O esposo de Tatiane está com problemas de saúde e para ajudar na renda eles vendem bombons. A casa de alvenaria está saindo aos poucos, mas o auxílio daria para comprar poucas bolsas de cimento. “Tudo veio com ajuda da igreja católica, o pedreiro, mas o auxílio nem dá para ajudar”.

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Sindnei mostra a casa após o incêndio. (Foto: Henrique Arakaki)

A situação fica ainda mais precária para quem perdeu tudo em um incêndio. Há dois meses Juma Rodrigues de Almeida, 31, e o esposo Sidnei Pereira, 35, estão recuperando aos poucos o que foi destruído por chamas. Na parede da casa ainda há marcas do incêndio. No fim do ano passado, ficaram sem energia e para iluminar usaram uma vela que acabou caindo no colchão da casa. Tudo foi perdido e a maior parte do que eles têm agora é doado.

“Minha casa era arrumadinha e estamos sobrevivendo com o que tem. O auxílio não ajuda muita coisa, tenho 5 filhos, a mais nova tem 4 meses e com esse dinheiro dá para comprar um pouco de leite, fraldas e comida”, conta Juma.

Já na metade do mês, apenas uma caixa de leite, com menos de 200 ml estava na geladeira. “Não dura dinheiro, vamos comprar comida e suplemento para viver. Faço reciclagem, mas tem dia que não dá R$ 5. O dinheirinho que entra vai tudo para comida, fralda e leite”, desabafa Sidnei.

 

 

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