Se você é daquele leitor que também lê com as mãos e prefere ter o livro físico – mesmo que seja para ler e depois colocá-lo para adornar a estante – saiba que sebos e livrarias tradicionais estão se alinhando com a tecnologia para manter viva essa tradição, que foi ‘engolida’ na era do kindle e do PDF.

De delivery a loja online, os estabelecimentos se atualizaram para atender esses leitores mais tradicionais, que fazem questão de ter os livros físicos. Fundada há 34 anos, a Hamurabi Livraria, conhecida pelos ávidos leitores de Campo Grande, foi uma das que sofreu com a digitalização da leitura.

“Sempre tem aquele cliente que quer [o livro] fisicamente. Entretanto, a mídia digital tomou grande parcela dessa venda de livros. Os sebos precisaram se modernizar e a Hamurabi procurou interagir dentro desse mundo digital”, diz o fundador, José Cícero de Pino, de 68 anos.

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José Cícero, da Hamurabi Livraria (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Segundo ele, a alternativa encontrada foi criar uma loja virtual, que também expandiu os negócios. “Hoje temos um acervo com mais de 30 mil livros cadastrados na internet para venda”, explica ele, dizendo que vende para todo o Brasil. “Não é barato, é um serviço que tem mão de obra substancial, mas é importante principalmente para as livrarias de usados”, completa ele ao Jornal Midiamax.

Questão de gerações

Para o empresário, Daniel Soares, de 40 anos, da Daniel Livros, a preferência por livros físicos ou digitais tem a ver com a forma que o leitor foi ‘educado’ a ler. “Nossa geração e a anterior acabaram acostumando a comprar. Tem muita coisa em Kindle e PDF, mas ainda assim há um público grande de livros novos e usados”, opina.

Segundo ele, a pandemia aumentou ainda mais as vendas já que as pessoas estavam em casa e começaram a ler mais. “Do mesmo jeito que foram para o Kindle e PDF, tem um público que veio para a livraria”, complementa Daniel à reportagem.

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Daniel Soares, da Daniel Livros (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Para atender a essa demanda, o estabelecimento começou a trabalhar com o delivery e recebe uma média de 10 pedidos por dia. “É o advogado que não quer sair do escritório e precisa de um Vade Mecum, a senhora que não quer sair de casa ou o acadêmico que pede um livro na universidade”, explica ele sobre os pedidos.

Para o empresário, os hábitos de leitura aumentaram em 20% a venda de livros. Isso fez com que ele conseguisse expandir os negócios abrindo mais um espaço na loja.

“Os grandes intelectuais sempre foram apaixonados pelos livros usados. Eram pessoas que frequentavam sebos com intuito de encontrar uma obra rara. Hoje continua tendo procura porque tem pessoas que gostam de ter o físico, independentemente de estar ou não disponível online”, opina o fundador da Hamurabi.

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Há leitores que preferem os livros físicos (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

Perfil dos leitores que frequentam as livrarias

Nem só dos romances água com açúcar de John Green e Nicolas Sparks vive o leitor campo-grandense. Segundo José Cícero, os mais vendidos na Hamurabi são os livros ‘Cem Anos de Solidão’ (Gabriel García Márquez) e o clássico ‘Capitães de Areia’ (Jorge Amado).

Entretanto, ‘Raízes do Brasil’ (Sérgio Buarque de Holanda) e ‘A importância do ato de ler’ (Paulo Freire) também saem bastante.

Reinner Silva, administrador da Hamurabi, adiciona os mangás como os mais procurados. “O público é muito diverso, tanto de quadrinhos, quanto a específicos de história e filosofia. No mesmo dia vem a mãe atrás do livro de filosofia e o filho atrás dos quadrinhos japoneses”, conta ele ao Jornal Midiamax.

Já na Daniel Livros, as vendas são desde romances para adolescentes a mangás e livros de Serial Killer. E, claro, os best sellers que viraram séries da Netflix. “Tudo é questão do tipo de público”, diz Soares.

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Livrarias precisaram adentrar também no mundo digital, sem perder a tradicionalidade (Foto: Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)