Em uma linha reta, mais de 1,2 mil quilômetros separam Campo Grande e o Rio de Janeiro. Para uns, viagem longa de 17 horas ininterruptas em um carro, para um casal apaixonado, apenas mero detalhe incapaz de abalar o elo entre duas pessoas. Foi assim com o jornalista carioca Victor Luiz Barone Júnior, de 55 anos, que há 22 deixou a cidade natal e fez da Capital sul-mato-grossense o lugar que hoje chama de lar. Tudo isso em nome do amor.

Ainda com sotaque arrastado de um carioca, o jornalista conta que o primeiro contato com a cidade foi em junho de 1999, quando veio à Capital visitar um amigo em um inverno com baixíssimas temperaturas. Segundo ele, o tempo atípico lhe pregou uma bela peça sobre a realidade do clima por aqui.

“Estava extremamente frio e pensei que a cidade era fresquinha”, lembra o turista que tempos depois sentiria na pele o calorão campo-grandense.

No ano seguinte, uma sala de bate-papo foi palco para que as vidas de Victor e da fisioterapeuta Mara se cruzassem. “Eu ficava conectado na sala de Campo Grande para conversar com meu amigo de infância. Ela também estava lá e começamos a conversar”, relata.

O contato criou um elo intenso, daqueles que só o coração explica. Em um mês, os dois tiveram o primeiro encontro cara a cara e, após seis meses de namoro virtual, em fevereiro de 2000, Barone desembarcava em Campo Grande para viver sua história de amor. Hoje, relação sólida que já dura duas décadas.

Imagem do casal quando se conheceu, no início dos anos 2000. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mesmo longe do horizonte do mar e das montanhas que traziam referências geográficas, o carioca se adaptou e fez de Campo Grande um lugar para chamar de lar. “Aqui é uma cidade muito bacana para se viver. Acolhedora no sentido de tudo ser muito próximo a você. A vida não é tão louca como em um grande centro”, comenta.

Para ele, facilidades como poder almoçar em casa, resolver coisas simples do dia a dia e até o acesso à saúde, são elementos que deixam a vida por aqui mais tranquila e prazerosa. “Eu não trocaria Campo Grande por nenhum grande centro. É aqui que quero continuar e depois de mim, minha mãe e meu irmão também vieram morar aqui”, finaliza.

Juntos há 22 anos, Victor e Mara decidiram morar juntos após namoro de seis meses. (Foto: Arquivo Pessoal)

Da Jamaica para Campo Grande

Nascido na Jamaica, o também jornalista Ermson Amaedy Bryant, de 37 anos, percorreu países como França, Estados Unidos e Colômbia, mas foi no Brasil, especificamente na Cidade Morena, onde decidiu ficar. “Eu trabalhava em uma televisão do meu país e vim a primeira vez em 2013, um ano antes da Copa do Mundo”, conta.

Depois da primeira impressão, voltou ao País. Desta vez, em Três Lagoas, cidade onde conheceu a mulher com quem foi casado e teve um filho. “Conheci ela em uma pizzaria. Começamos a namorar e ela pediu para mudarmos para Campo Grande e eu topei”, explica.

Nos anos que se seguiram, Ermson se adaptou pouco a pouco ao estilo de vida em Campo Grande. Por questões pessoais, o relacionamento acabou não dando certo, mesmo assim, ele não abriu mão de continuar por aqui.

“Posso dizer que Campo Grande é minha segunda casa. Me sinto super bem aqui, fiz amizades e consegui me conectar com pessoas, apesar das diferenças culturais”, pontua.    

A admiração pela Capital, inclusive, virou homenagem em forma de texto. Escritor, o jamaicano relata experiências positivas e negativas que teve em Campo Grande em um livro que ainda será lançado. “Outro livro que já lancei vai virar um seriado no meu país, quero que algumas cenas sejam gravadas aqui”, antecipa.

Hoje, para o jornalista e escritor, ir embora não é uma opção. “Meu filho está aqui e quero tê-lo perto. Além disso, a cidade tem oportunidades”, conclui.

Cidade Acolhedora

Prestes a completar 123 anos, Campo Grande se mantém como cidade acolhedora para quem chega de diferentes cantos do mundo. Aos 48 anos, o marroquino El Youssef Houari é prova disso. De Agadir, a 549 km de Rabat, capital do Marrocos, ele atravessou um oceano e superou as barreiras de idioma e culturais para viver em Campo Grande com a cearense Zildene de Lima, de 45 anos, que há 20 vive em Campo Grande.

Zildene e Youssef se conheceram pelas redes sociais, em 2020. (Foto: Marcos Ermínio/ Midiamax)

Após primeiro contato pelo Facebook em 2020, o casal passou a manter namoro virtual até amadurecer a ideia de viver juntos, decisão que aconteceu um ano depois, em 2021. Até desembarcar no Brasil, El Youssef teve de desembolsar cerca de R$ 20 mil e enfrentar diversas burocracias com a viagem. “Eu tive muita dificuldade para chegar aqui, brinco que amo mais”, conta o muçulmano.

Hoje, ao lado da esposa em Campo Grande, o marroquino já arrumou trabalho e faz curso para aperfeiçoar o português. Agora, sonha em levar a mulher para conhecer a família no Marrocos. “Quando você se conhece só no virtual não é fácil sair do país e buscar esposa do outro lado do mundo, mas estou feliz”, revela Youssef.