Na certidão de nascimento, apenas um espaço em braço no lugar destinado ao nome do pai. Foi essa a situação vivida pelo empresário Frank Rossatte, de 36 anos, até os 18 anos de idade. Para ele, mais que mera formalidade no documento, a ausência da paternidade sempre representou uma falta que ia além.

“No dia dos pais era um momento em que eu sentia bastante. Na escola geralmente tem entrega de presentes e eu me sentia mal por saber que o meu não estava ali. Geralmente presenteava meu avô”, conta.

Somente no início da juventude, quando passou a entender sobre os direitos que tinha, o empresário foi em busca de ser reconhecido legalmente. “A inclusão da paternidade é importante porque envolve outros direitos legais, já que o afeto nem sempre é dado”, aponta.

A situação enfrentada por Frank por quase duas décadas é realidade recorrente. De agosto de 2021 a agosto deste ano, 2.862 crianças foram registradas sem o nome do pai em Mato Grosso do Sul, uma média de quase oito crianças por dia. Em comparação ao ano anterior, houve aumento de 223 novos casos.  

Campo Grande lidera a lista com maior número de casos. Ao todo, são 859 pais ausentes, índice de 6% do total de 14.146 nascimentos registrados na cidade no último ano.

Além do auxílio que não é dado para centenas de mães que criam seus filhos sozinhas, a ausência da figura paterna influencia diretamente no desenvolvimento das crianças. “ O pai estar presente é fundamental principalmente nos primeiros dois anos, pois é o momento da formação da personalidade, que faz com que as crianças tenham mais segurança, desenvolvam mais autonomia, autoconfiança e independência”, explica a psicopedagoga Glaucia Benini.

Segundo ela, crianças criadas sem o pai têm maior tendência a desenvolver ansiedade e dependência emocional. “Pesquisas mostram que uma criança criada sem o pai tem propensão 11 vezes maior a ter agressividade e duas vezes de repetir de ano e desenvolver atrasos na leitura, ou seja, além da formação da personalidade, interfere na área cognitiva”, finaliza.

Pela lei, quando o pai é ausente ou se recusar, no momento do registro a mãe pode indicar o nome do suposto pai ao cartório, que dará início ao processo de reconhecimento judicial de paternidade.