A família materna dos filhos, de 9 e 6 anos, de Pâmela Oliveira da Silva, de 27 anos, pediu a guarda provisória das crianças após a morte. Pâmela não resistiu e morreu, na última segunda-feira (28), com 90% do corpo queimado durante um incêndio na casa. Antes de morrer, ela teria denunciado crime que teria sido cometido pelo companheiro na frente dos filhos, de acordo com a família, em Rochedo.

Segundo a advogada Janice Andrade, as crianças chegaram em Campo Grande para o velório da mãe com a tia, entretanto, devido à gravidade do caso e as ameaças do companheiro aos familiares de Pâmela, solicitou a medida protetiva. Os filhos seguem com os familiares e o rapaz continua importunando e ameaçando, segundo a defensora.

“Sempre ameaça a família, mesmo com a medida protetiva, aterrorizando dizendo que vem para Campo Grande, que sabe o endereço [do avó], que vai processar. Nossa preocupação é que no decorrer das investigações ele se sinta pressionado e atente contra a vida das crianças, tendo em vista que elas testemunharam os fatos”, disse.

A Polícia Civil de Rochedo aguarda o recebimento do laudo pericial para concluir as investigações sobre a morte de Pâmela. Conforme explicado pelo delegado Roberto Duarte Faria, da delegacia de Rochedo – onde Pâmela morava com o marido e os dois filhos – é aguardado o laudo da perícia feita na residência que pegou fogo, para confrontar com o depoimento dado pelo marido na confecção do boletim de ocorrência registrado no dia dos fatos, 21 de julho, como tentativa de suicídio e incêndio.

O laudo será feito pelo Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) de Campo Grande, e mesmo que seja feriado municipal devido ao aniversário da Capital, o delegado afirma que vai solicitar ainda nesta sexta-feira (26) urgência no envio do documento.

Um dos filhos do casal foi ouvido em depoimento especial na Depca (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) de Campo Grande, e segundo o delegado Roberto, a versão é compatível com o depoimento do marido de Pâmela.

“Ela [a criança] contra exatamente a mesma história que o pai, fala que o pai socorreu a mãe, jogou o cobertor para apagar. Depois do laudo vamos dar continuidade às investigações, ouvindo as testemunhas”, relata.

Ainda conforme explicado pelo delegado, o médico e os enfermeiros que prestaram o primeiro atendimento à Pâmela também serão ouvidos, logo após o recebimento do laudo.

Família acredita em feminicídio

Segundo o pai da Pâmela, Roberto Martins, a filha lutava para ficar viva e nos últimos dias conseguia falar, mesmo que baixo. “No dia do incêndio, minha outra filha que mora a umas três casas de lá, foi até a casa dela porque tinha acabado a luz na dela. Chegando lá viu a Pâmela chorando, perguntou o motivo e ela disse que não era nada. Ela insistiu e ele [companheiro] xingou. Depois ela foi socorrida”.

Os detalhes sobre o crime assustaram a família, pois, durante o atendimento médico, Pâmela teria contato para a irmã e o pai que havia discutido com o rapaz. O casal estava junto há 11 anos. O crime teria acontecido na presença de um dos filhos, uma menina de seis anos.

“Eles brigaram e ela ia sair de casa. Ela contou que ele pegou um galão de gasolina e jogou no quarto todo, jogou um coberto em cima dela e ateou fogo. O quarto todo começou a pegar fogo. Ela conseguiu ir até uma caixa d’água”.

Ainda abalado, Roberto disse que Pâmela passou 14 dias entubada e sedada, começou a dar sinais de melhora quando retiravam os procedimentos gradativamente após o período em coma. “Ela foi forte, só eu sei o quanto ela foi forte. Não conseguia se mexer, falava baixinho. Ela chegou a falar ‘estou indo embora’ para gente”.

Brigas frequentes

Pâmela não costumava falar sobre as brigas e desentendimentos com o companheiro, entretanto, Roberto conta que por várias vezes seguiu viagem para buscar a filha que ligava pedindo para ir embora da casa onde vivia.

“Cansei de pegar a estrada e quando chegava perto do Detran ela ligava de novo e falava que não precisava mais. Eu ligava todo dia, falava todo dia com ela; não falava se ele batia nela, mas que brigavam feio. Ela conheceu ele lá, nós morávamos aqui em Campo Grande, ela foi para lá em 2008 depois da morte da mãe. Sempre fomos próximos, mas ela não contava se sofria violência doméstica, mas que brigavam muito”.

Incêndio

A família da vítima procurou a Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) e alegou que o marido é quem teria jogado gasolina nela e ateado fogo. Após a morte de Pâmela, familiares dela procuraram a polícia informando que no dia 21 de julho, em Rochedo, ela ficou em estado grave após a residência onde mora com o marido pegar fogo. Ao procurarem sobre o ocorrido, os policiais encontraram uma ocorrência registrada como tentativa de suicídio. Entretanto, a irmã afirmou que o suspeito seria o marido da vítima, e que ele teria tentado matá-la.