Qual é o valor de uma lembrança? Sucesso dos anos 1990 e 2000, o prédio onde funcionava o Clube da Amizade, na Vila Taveirópolis, em Campo Grande, foi posto à venda por R$ 2,8 milhões. O local é um marco e desperta a memória afetiva de muitos campo-grandenses.

O local, que tem 1.628,63 m² de área útil, foi palco de muita festança e alegria durante 35 anos. De lá, saíram muitos casais e amizades que duram até hoje.

“Recebo ligações até hoje de amigos; recebo esse carinho todo dia, tenho amigas até hoje, que vieram no meu aniversário”, conta ao Jornal Midiamax, a proprietária Dona Maria Metello, de 89 anos — completos no dia 6 de março.

Desde sua abertura, em 14 de abril de 1987, os bailes foram até o evento central e o que deram a fama do local. “Eu ia com meu marido e minha vizinha dançar e ver o povo se divertir. Tinha música boa e cantor bonito”, relembra a aposentada Ivone Olmedo, de 75 anos.

Clube movimentava o dia e a noite campo-grandense (Foto: Arquivo/ Jornal Midiamax)

A proprietária conta que fez a gestão do local e nunca perdeu um baile que organizou durante todos esses anos. “Fui em todos os bailes. Tenho a minha mesa no mesmo lugar com minha foto. Está lá ainda”, conta ela, que precisou parar durante a pandemia do coronavírus.

Apesar de não poder dançar atualmente, Dona Ivone gostaria que o Clube da Amizade abrisse as portas novamente. “Era muito bom o tempo lá, tenho saudade daquela época”, opina a mulher, saudosa.

Segundo Dona Maria, os amigos e frequentadores do Clube da Amizade também pedem pela reabertura do espaço e até a passada de bastão para a filha, já que ela, como descreve, “está cansada após 35 anos”.

“Todo mundo tá pedindo pra minha filha reabrir, mas ela não tem condições financeiras de montar um clube, de pagar o que tem que pagar. Ela tem medo, é muita burocracia”, revela a proprietária, que já sente saudades dos momentos únicos que passou lá.

(Foto: Leonardo de França/ Jornal Midiamax)

Clube da Amizade fecha as portas

De acordo com Maria, a decisão de fechar o local já estava sendo considerada desde antes do início da pandemia, mas o vírus contribuiu para a tomada de decisão.

“Fazia muito tempo que eu já queria vender, mas eu pensava assim: ‘vamos mais adiante, vamos esperar mais um pouco. A gente fica com dó né? Eu trabalhei 36 anos”, explica.

Leia na íntegra o comunicado sobre o encerramento das atividades:

“A presidente Maria Metello comunica ao público campo-grandense que está encerrando oficialmente as atividades do Clube da Amizade. Não se trata de uma interrupção por causa dos atuais acontecimentos. Essa decisão já vinha sendo considerada após 36 anos dedicados ao entretenimento e à alegria de seus frequentadores.

Dona Maria chega aos 87 anos de idade com o sentimento de dever cumprido e feliz por ter feito parte da vida de milhares de amigos e fiéis seguidores, por ter promovido o talento de grandes músicos, grupos e bandas e por ter proporcionado trabalho a um grupo expressivo de profissionais.

O sentimento de dona Maria, de sua filha Maria Mercês e de toda a família é de gratidão por fecharem as portas de uma Casa que será sempre reconhecida pela alegria que proporcionou ao público e pela dignidade que sempre marcou a trajetória do Clube da Amizade.”

Reduto de músicos

Quem também lamenta o fechamento do point de Campo Grande são os artistas regionais, que viam no local uma oportunidade de mostrar o trabalho. Na época do fechamento, o músico Marlon Maciel, conhecido nos bailões da Capital, disse que a graça de tocar nesses eventos é ver o público dançar — algo impossível em tempos pandêmicos.

“Com a pandemia, lugares como o Clube Bom Dmais, depois de anos funcionando, tiveram que fechar as portas. Esses estabelecimentos eram mantidos com eventos e sem eles foram obrigados a encerrar atividades”, lamentou ele.