O Brasil ainda passa pelos primeiros meses da imunização em massa contra a Covid-19. Ainda ressaltada com , moradores têm muitas dúvidas sobre a vacina, como possíveis alergias ou ‘defeitos' no sistema imunológicos após a vacinação. A médica Dra. Ekaterini Goudouris e diretora da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), esclarece as principais dúvidas sobre o assunto.

Segundo a profissional, os pacientes com histórico de reação alérgica a qualquer outra vacina, devem considerar risco na vacinação contra o . Se uma pessoa já tiver apresentado previamente um quadro de anafilaxia, particularmente causada por alguma outra vacina, é fundamental que converse com seu médico antes de receber as vacinas contra a Covid.

“Importante frisar que: não se tem observado reações anafiláticas com as vacinas em uso no Brasil no momento; e pessoas com alergia respiratória, dermatite atópica ou alergia alimentar não são consideradas de risco para anafilaxia por vacinas, a não ser que apresentem reações a algum dos componentes destas vacinas”, explica.

Outra dúvida recorrente é sobre o uso de antialérgico antes ou depois de me vacinar contra o vírus. De acordo com a médica, tomar o remédio antes da vacinação não está indicado, pois os antialérgicos não são capazes de prevenir uma reação grave e ainda podem mascarar os sintomas iniciais. O uso após a aplicação está indicado apenas em caso de ocorrer alguma reação de natureza alérgica. Lembramos que a maioria das reações a qualquer vacina são leves e não são de natureza alérgica.

A vacina pode mudar meu DNA?

“Fake news! Essa possibilidade não existe. As vacinas que utilizam material genético do SARS-CoV-2 são compostas de RNA, ou seja, não entram no núcleo das células, onde nosso DNA fica “guardado”. O material genético da vacina permanece no citoplasma da célula, em uma organela que vai produzir a proteína que é codificada pelo RNA. Essa proteína, semelhante à uma proteína do vírus, será então produzida por nossas células e vai estimular uma resposta do nosso sistema imunológico. Como se trata apenas de uma proteína que representa um pedaço do vírus e não o vírus inteiro, tampouco há risco de causar uma infecção”, ressalta.

A vacina é segura mesmo sendo produzida em tão pouco tempo?

Outro ponto das teorias de Fake News é que por estar aprovada a pouco tempo, a vacina não tem eficácia. Goudouris afirma que a medicina avançou muito nas últimas décadas. Apesar da rapidez, nenhuma das etapas ou regras de segurança no desenvolvimento e estudo das vacinas deixou de ser cumprida. Muitas dúvidas restam, como por exemplo, por quanto tempo as vacinas são eficazes, mas são dúvidas que não comprometem a segurança.

Não preciso mais usar máscara por que estou vacinado?

“Ainda não sabemos se as vacinas em uso impedem que as pessoas se infectem. Sabemos que protegem muito bem contra a doença grave causada pelo SARS-CoV-2. Por isso, medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene de mãos NÃO podem ser abandonadas, pois ainda que vacinados, existe a possibilidade de que possamos transmitir a doença a pessoas não vacinadas. É preciso que mais de 70% da população esteja vacinada para que a circulação do vírus diminua e se possa ‘relaxar' em outras medidas”.

Vacina dá alergia e defeitos no DNA? Tudo o que você precisa saber sobre a vacina da Covid-19
(Foto: Marcos Morandi)

Pessoas com imunodeficiências podem se vacinar?

Podem sim. Não se sabe se todos irão responder bem, pois depende do tipo de defeito imunológico, mas as vacinas são seguras para essas pessoas.

É preciso receber as duas doses da vacina? Por quê?

“Os estudos iniciais foram feitos, exceto no caso da vacina da Jansen, com duas doses. Portanto, a eficácia foi estabelecida utilizando duas doses, como ocorre com muitas outras vacinas. A resposta imunológica é mais forte e mais persistente para algumas vacinas quando aplicadas mais de uma vez. No entanto, alguns estudos já estão sendo realizados e demonstram que uma dose apenas de algumas vacinas pode ser suficiente para dar proteção adequada. No entanto, até que isso esteja estabelecido, é fundamental respeitar o regime de doses preconizados pelos fabricantes e pelo Programa Nacional de Imunizações do Brasil”.

Pessoas que tomam imunoglobulina podem ser vacinadas?

“Sabemos que o uso de imunoglobulina humana pode atrapalhar a resposta às vacinas. No entanto, é seguro tomar a vacina e, diante da que vivenciamos, a indicação é que as vacinas sejam aplicadas mesmo que não tenhamos certeza se a resposta imunológica será ótima”.

Tenho alergia grave a ovo e leite e, por isso, não devo me vacinar?

“Não há qualquer evidência ou relato de que alguma das vacinas contra a COVID-19 cause reações graves em pacientes com alergia alimentar”, afirma.

Essas vacinas, por serem muito novas, podem causar outras doenças em médio e longo prazo?

“Reações graves a vacinas existem, mas são raras. Nenhum tipo de efeito adverso grave foi observado até o momento que contraindique a aplicação das vacinas contra COVID-19. O benefício delas supera em muito os riscos”.

E se eu estiver com COVID-19 sem saber e tomar a vacina, ela vai funcionar ou piorar o quadro?

“Não observamos até o momento nenhum efeito grave nesse sentido”.

Essa vacina pode causar sintomas leves de gripe?

“As vacinas não são de vírus vivo. Portanto, não podem causar COVID-19. No entanto, a resposta imunológica a qualquer vacina pode ser responsável por alguns sintomas, ainda que leves, como mal-estar, dor de cabeça, dor no local da aplicação”.

A vacina vai me deixar imune ou só me defender das formas graves da covid-19?

“Os estudos têm demonstrado que as vacinas são bastante eficientes para proteger contra as formas graves da doença e que previnem em menor percentual as formas leves”.

Mesmo tomando a vacina eu ainda posso contrair o vírus e infectar as pessoas, correto?

“Sim. Ainda não se evidenciou que as vacinas sejam capazes de evitar a infecção pelo vírus, mas sim são capazes de prevenir o adoecimento, particularmente, as formas graves. Nenhuma das medidas de distanciamento, uso de máscara ou higiene devem ser suspensas após receber a vacina ou ter tido a doença”.

Por quanto tempo as vacinas protegem contra a COVID-19?

“Ainda não sabemos, infelizmente. E é preciso considerar que novas cepas estão surgindo. Até o momento, as vacinas se mantêm eficazes contra elas. É fundamental que a vacinação seja feita na maioria da população o mais brevemente possível para reduzir ou até interromper a circulação do vírus e, por conseguinte, o aparecimento de novas cepas”, finaliza.