A situação das famílias periféricas de Campo Grande está em situação crítica, a e a falta de subsistência estão afetando de maneira voraz a vida desta parcela da população. “Esses dias, uma pessoa conseguiu uma doação de três quilos de feijão. Ela alimentou todos os filhos, mas ela não conseguiu comer. Daí ela não conseguia dormir, então ela tomou uma pinga”. A ativista Nilda Pereira, diretora do Instituto Brasileiro de Inovações pró-Sociedade Saudável Centro-Oeste (IBISS/CO), enche os olhos d'água ao lembrar do acontecimento. A cena dá a dimensão da tragédia social em curso nas periferias de Campo Grande.

Os pedidos de ajuda têm se multiplicado numa velocidade assustadora nos últimos meses. “A fome aumentou de uma forma absurda. Todo santo dia chega gente aqui na instituição pedindo alimento com suas crianças porque não tem comida pra fazer naquele dia”, relata Nilda Pereira.

Ela abriu as portas da organização que dirige, na última quinta-feira, para receber 500 cestas básicas entregues pelo coletivo Comitiva Esperança como parte da campanha Brasil Sem Fome, desenvolvida pela Ação da Cidadania.

Falta alimento 

“A gente trabalha com aproximadamente com 60 crianças que estão em um período muito sensível, muitos pais e mães dessas famílias perderam o emprego e estão sem ter o que comer em casa”, conta Henrique Anunciação que é líder comunitário na Comunidade Negra São João Batista.

Hoje, 116 milhões de pessoas – 55,2% das casas brasileiras – não têm acesso pleno e permanente a alimentos e 19 milhões de brasileiros enfrentam a fome em seu dia a dia. Os dados são da pesquisa desenvolvida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), divulgada mês passado.

É o caso das populações indígenas urbanas de Campo Grande. A líder comunitária da Aldeia Marçal de Souza, Silvana Souza, diz que 90% dos indígenas que migraram pra capital trabalham na construção civil. “Artesãos e feirantes também estão sem trabalho”, conta. “Devido a pandemia, eles ficaram desempregados, faltou emprego e nesse momento falta o alimento na mesa das nossas famílias indígenas”.

A líder indígena Silvana Souza (máscara amarela) realiza entrega de cestas básicas em aldeia urbana na periferia de Campo Grande. Divulgação: Comitiva Esperança. (Foto: Acervo Pessoal)

Sociedade anestesiada

Para João Mazini, do coletivo Comitiva Esperança, o aumento “brutal” da miséria nos últimos meses releva uma outra em curso: a da fome.

“Cesta básica não resolve a fome, mas nos ajuda a aliviar sofrimento e também denunciar o problema”, declara o ativista. “Se nós estamos vivendo num contexto onde toda nossa família está bem, nossos amigos alimentados, nós precisamos agradecer e também ter a consciência de que esse não é o mundo real, lá fora a situação é desespero”, completa o ativista.

Segundo ele, embora a gravidade da situação só aumente,as políticas públicas para lidar com o problema e o número de doações por parte de empresas e pessoas física vem diminuindo.

“Nós estamos fazendo o que podemos e precisamos que todo mundo venha para luta. Eu tenho certeza que, sem muito esforço, toda pessoa bem-intencionada pode encontrar na sua vizinhança mesmo alguém ou alguma instituição precisando de ajuda nesse momento”, encerra Mazini.