Sem eficácia comprovada, ivermectina volta a testes e pode ser receitada em MS

O medicamento voltou a ser tema de debate e novo estudo é feito pela Universidade de Oxford

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Já se passou mais de um ano de pandemia e a ivermectina continua entre os termos mais buscados pelas pessoas nos mecanismos de pesquisa. O debate a respeito do uso da medicação no tratamento contra o coronavírus voltou a surgir, mas ainda não há eficácia comprovada no tratamento contra a doença. Em Mato Grosso do Sul, os médicos têm autonomia para receitar o medicamento aos pacientes. 

A ivermectina é um medicamento utilizado para tratar piolho e sarna e, na pandemia, se tornou muito popular diante da possibilidade de ajudar no tratamento e prevenção da covid-19. O presidente Jair Bolsonaro, por diversas vezes, defendeu o uso do medicamento combinado com a cloroquina no tratamento precoce da doença, o chamado ‘kit covid’. 

Nesta semana, o presidente voltou a defender o uso de medicamentos sem comprovação científica, como a hidroxicloroquina e a ivermectina. Bolsonaro disse que os remédios foram ‘satanizados’ pelo suposto lobby das farmacêuticas. 

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Presidente recomenda tratamento precoce. (Foto: Reprodução/Facebook)

Diferente do presidente, o Ministério da Saúde enviou documentos à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid e disse que os medicamentos do ‘kit covid’ são ineficazes. “Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimabe não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população”, diz o documento, divulgado pelo site Congresso em Foco. 

A eficácia da ivermectina

Apesar de várias pesquisas já terem sido realizadas, a eficácia da ivermectina na prevenção e tratamento do coronavírus não foi comprovada. Um dos estudos que apontava a possível eficácia do medicamento, chefiado pelo médico Ahmed Elgazzar, foi recentemente despublicado. 

A pesquisa apontava que os pacientes tratados com o medicamento tiveram recuperação mais rápida e redução da mortalidade em 90%. Contudo, o estudo foi derrubado após suspeita de plágio, parágrafos inteiros da pesquisa teriam sido copiados de sites. 

Agora, cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, realizam uma nova pesquisa sobre o uso de ivermectina em casos de covid. O estudo fará a comparação entre as pessoas que receberam a ivermectina e os pacientes que receberam os cuidados rotineiros no sistema de saúde britânico. Mesmo com alguns resultados positivos iniciais, o pesquisador-chefe, Richard Hobbs, disse que seria prematuro recomendar a ivermectina para pacientes com coronavírus. 

A pesquisa da Universidade de Oxford foi usada pelo presidente Jair Bolsonaro para recomendar, mais uma vez, o uso do medicamento. “Parabéns, vamos entrar em contato com a Universidade para ver se a gente pode acompanhar esse estudo já que aqui no Brasil é uma complicação enorme”, disse.

Médicos têm autonomia para receitar em MS

Mesmo sem comprovação científica, os médicos podem receitar a ivermectina para tratamento do coronavírus em Mato Grosso do Sul. O CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) reforça que, no caso de covid ou em qualquer outro tratamento, “o médico tem autonomia para definir junto ao paciente qual a melhor terapêutica a ser adotada”.

Em abril, uma médica chegou a se trancar em uma sala no posto de saúde após ser atacada por pacientes que queriam o ‘kit covid’. Um casal queria a receita com os medicamentos ivermectina e cloroquina, mas quando a médica explicou que os remédios não tinham eficácia comprovada, os pacientes começaram a gritar e ofendê-la. 

Depois do ocorrido, o Sinmed-MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) divulgou nota sobre a sobrecarga mental dos profissionais da saúde. “O que ocorre é que as pessoas já chegam com a conduta que elas acreditam ser a ideal e não aceitam ouvir nada em contrário”.

Em abril, o secretário estadual de saúde comentou sobre os riscos no uso do tratamento precoce. “Estão chegando em estado grave nos hospitais, muitos destes é porque usaram alguns chamados kits de tratamento precoce, que não têm nenhuma validade. Usam em casa e quando chegam ao hospital, chegam num avanço muito grande da doença, quadros que levam ao óbito”, reforçou Geraldo Resende em uma live da SES (Secretaria de Estado de Saúde).

Riscos da ivermectina

Diante do uso do medicamento para prevenir ou tratar o coronavírus, médicos começaram a alertar sobre os riscos à saúde. Profissionais já relataram casos de hepatite medicamentosa, quando há uma inflamação ou lesão no fígado causada pelo uso do remédio. O problema pode levar o paciente a precisar de um transplante ou até mesmo à morte. Alguns sintomas de que há um problema no fígado são cansaço, fraqueza, urina mais escura, pele amarelada e confusão mental. 

A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) não recomenda o tratamento precoce com qualquer tipo de medicamento, incluindo a ivermectina. “Os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19”.

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