Sem Carnaval, quem vive na Esplanada lamenta falta da renda extra, mas comemora sossego
Em ano de pandemia, o Carnaval com blocos de rua, vendedores ambulantes e aglomerações não foi realizado em Campo Grande. Para quem vive na região da Esplanada Ferroviária, ponto tradicional da folia de rua, o ano atípico gerou sentimentos diferentes. Há quem comemore o sossego e aqueles que lamentam a falta da renda extra que […]
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Em ano de pandemia, o Carnaval com blocos de rua, vendedores ambulantes e aglomerações não foi realizado em Campo Grande. Para quem vive na região da Esplanada Ferroviária, ponto tradicional da folia de rua, o ano atípico gerou sentimentos diferentes. Há quem comemore o sossego e aqueles que lamentam a falta da renda extra que o período proporciona todo ano.
Para quem mora na região desse ponto histórico desde 1996, a ausência das festas foi motivo de comemoração. “No meu caso, foi a melhor coisa que podia ter acontecido. Não tenho nada contra o Carnaval, gera renda, mas aqui não tem estrutura”, conta Eunice Nunes França, de 62 anos.
Conforme a moradora, a realização do evento acarretava uma série de problemas de segurança e saúde pública, devido à falta de preparo e fiscalização. “Não comporta a quantidade de pessoas, cansei de socorrer jovens morrendo por uso de drogas ou bebida e não ter condições de entrar um socorro”, detalhou Eunice.
O medo também fazia parte da rotina nas noites de festa. “Eu não podia dormir e não podia sair. Já arrancaram a cerca da minha casa para brigar”. Fora isso, o direito a propriedade privada também foi violado na edição de 2020. “Já chegaram a invadir minha casa, cagar na minha porta e dormir nos fundos”, desabafou a moradora.
Por outro lado a professora aposentada, Ilma Nantes, de 66 anos, é residente do local desde a época que a ferrovia foi fechada, e afirmou tem sentido falta do evento. “Eu gosto do movimento, não sei os outros moradores. Era sempre cheio, vinham moças e pessoa de idade, vinham se divertir. Aqui em Campo Grande quase não tem lugares para isso”, detalhou a moradora.
Além disso, o período de festividade proporcionava uma forma de renda extra, gerando um lucro adicional para muitos moradores, o que compensava o transtorno. “Vendia cerveja e alugava o banheiro do fundo, tinha uma renda extra. Faz barulho? Faz, a rua fica suja, mas a gente limpa depois”, finalizou dona Ilma.
Lucro versus transtorno
Colocando os dois pontos na balança, a enfermeira Rita Cesco, de 36 anos, também era uma das moradoras que aproveitava os dias de festa para lucrar, mas afirma que a ausência do Carnaval foi muito bem-vinda. “Achei ótimo, houve tranquilidade e a gente pode descansar. A gente ficava preso e não podia sair com o carro. Agora tivemos livre acesso, não tivemos problemas com Bagunça, sujeira e confusão”, disse ela.
Habitante da região desde 2001, Rita viu nos últimos anos uma forma de garantir uma boa renda extra, entretanto, ela reforça que não há dinheiro que pague acordar cedo e não sentir mau cheiro.
“A gente alugava para as pessoas que vendem bebidas e o banheiro era por R$ 3. O aluguel era de R$ 150 com direito a todos os dias de festa. Na primeira noite o banheiro rendeu R$ 600 e no final do carnaval R$ 2 mil. Todo dia tinha que lavar a calçada, você sentia o cheiro de urina, mijavam na planta e no muro. É um valor que não compensa pela paz de agora”, finalizou Rita.
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