‘Se não sair, a panela não ferve’: o drama de quem não pode ficar em casa em Campo Grande
Em tempo de restrições mais rígidas para impedir avanço da pandemia, com o novo decreto do toque de recolher para às 20h a partir do domingo (14), para quem depende do trabalho diário para garantir o almoço e a janta, o dilema entre ficar ou não em casa torna-se uma questão de sobrevivência, de comer […]
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Em tempo de restrições mais rígidas para impedir avanço da pandemia, com o novo decreto do toque de recolher para às 20h a partir do domingo (14), para quem depende do trabalho diário para garantir o almoço e a janta, o dilema entre ficar ou não em casa torna-se uma questão de sobrevivência, de comer ou não no final do dia. Nesse grupo, os trabalhadores informais são os mais afetados pela crise econômica da pandemia em Campo Grande.
“A gente não pode parar de sair, se não, a panela não ferve, dependemos do bag [saco] que enchemos para sobreviver”, disse com tristeza na voz a catadora de matéria reciclável, Maria Surubi, de 58 anos. Moradora do bairro José Teruel Filho, viu seu marido pegar Covid-19 e ficar até com 50% do pulmão comprometido, entretanto, a rotina não podia parar.
Vivendo em situação precária, a antiga moradora da Cidade de Deus não conseguiu ter acesso aos programas sociais do governo, como vale renda e bolsa família. Com o corte do auxílio emergencial, meio com o qual pagava as contas, o casal se encontra em um limbo de dívidas atrasadas. “Temos água e luz, mas está tudo atrasado. Ouvimos fica em casa, mas é nós que não temos recursos”, disse Pablo Surubi, de 58 anos.
Durante as chuvas, a água invade a moradia e o chão batido vira um barro, fogão e guarda roupa são encharcados pelo teto esburacado. “Saímos de um barraco na cidade de Deus e continuamos no barraco, quem teve dinheiro conseguiu terminar a casa. Não estamos queixando da vida, mas é o que a gente vive ”, finalizou Maria.
Não muito distante da região, no bairro Dom Antônio, o proprietário de uma casa de sucos e salgados a preços populares vive com o medo constante de um possível lockdown, termo em inglês para o ‘fecha tudo’. “Essa aqui é a única sobrevivência que tenho. Não sou aposentado e tenho 65 anos, tenho que trabalhar”, afirmou Antônio Macedo.
Com mais de 50% de queda no movimento, o comerciante fica em uma linha tênue entre cobrar as regras de biossegurança de quem frequenta seu negócio e perder mais um cliente. “O pessoal também não gosta que cobre a máscara. Não pode comer no local, o pessoal vai embora”, explicou Macedo.
Conforme as dividas se acumulam, o temor de um agravamento da pandemia fica cada vez mais próximo, e a luta para quem ‘vende o almoço para pagar a janta’ fica cada dia mais difícil. “Vai atrasando, pago uma e só pago a outra quando chegar a segunda. Brigam meses por um auxílio de R$ 250. Enquanto isso, estou aqui tentando sobreviver”, finalizou Macedo.
Para quem depende da rua
Na calçada da avenida Afonso Pena, a vendedora ambulante Micaela de Oliveira, de 21 anos, comercializa verduras e legumes das 7h a 18h, para se manter financeiramente. “Plantamos em Miranda e venho vender aqui: Tomate, milho, feijão de corda e outras verduras, minha renda é só daqui”, disse ela.
Diante de um possível cenário de fechamento, a resposta ratifica o temor de maioria dos trabalhadores informais de Campo Grande. “Ia afetar muito economicamente, porque a gente vive disso, se fechar não tem renda”, finalizou Micaela.
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