A cidade de Ribas do Rio Pardo, a 97 quilômetros de Campo Grande, é um verdadeiro canteiro de obras. São quadras inteiras só de casas sendo levantadas do zero e ao mesmo tempo. O Jornal Midiamax esteve na cidade para conferir os detalhes de toda movimentação causada pelo início das obras para instalação de uma das maiores indústrias de celulose do mundo, a Suzano, que deve ficar pronta no primeiro trimestre de 2024. Quando entrar em operação, a nova fábrica terá 3 mil postos de trabalho, entre próprios e terceiros, atendendo as operações industrial e florestal.

Este é um dos maiores investimentos privados do Brasil, se não o maior em curso no País, na ordem de R$ 14,7 bilhões. Um projeto dessa magnitude gera mudanças significativas na cidade, muitas delas já começaram a ocorrer, como o aquecimento do comércio, do setor de serviços, abertura de restaurantes, de hotéis, entre outros.

Logo na entrada de quem chega por Campo Grande, na BR-262, é possível ver quase um bairro apenas com construções, o bairro Estoril. Os mais displicentes podem confundir o espaço com construções de casas populares pela quantidade, mas não, elas são diferentes entre si e com finalidades distintas também. 

O “boom” imobiliário de Ribas é só mais um dos reflexos imediatos da chegada da megaempresa. O anúncio feito há alguns meses e o início das obras têm movimentado a economia local de um jeito nunca antes visto.

A Prefeitura Municipal, inclusive, pediu ajuda ao (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) para levantar a quantidade de obras que estão sendo realizadas na cidade, dado que o aparato do Poder Público não tem condições de acompanhar.

“Por cima, mensuramos mais de 200 obras ao mesmo tempo, entre reformas e construções”, conjectura o prefeito João Alfredo Danieza (PSOL).

Tudo aumentou

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Fábio recebe mais de 20 ligações por dia (Foto: França)

A demanda por compra e locação de imóveis é o maior indicativo desse aquecimento. Segundo Fábio Úngaro, de 37 anos, corretor que atua no mercado de Ribas há mais de seis anos, faz três meses que “tudo virou ouro”.

“Para venda, o preço dos terrenos aumentou cerca de 100% e dos imóveis cerca de 70%”, diz ele.

Fábio não trabalha com aluguéis faz alguns anos e isso está explícito em suas redes sociais. Mesmo assim, tem recebido de 20 a 30 ligações todos os dias de pessoas procurando imóveis para alugar.

Ele explica também que o mercado está sofrendo com forte especulação. “Eu penso que a hora de vender e comprar é agora. Tem muita gente segurando demais as vendas de terrenos e imóveis. Daqui a pouco as empresas grandes vão fazer loteamento e começar a vender parcelado. Isso vai atrair mais clientes por conta das melhores condições de pagamento”.

Já Jackeline Dal Bello Carmona, 35 anos, começou a trabalhar com corretagem há dois meses, justamente no período que iniciou a procura. Ela conta que o valor dos aluguéis triplicou.

“As primeiras empresas (terceirizadas) que vieram locaram vários imóveis para alojar os funcionários e aí inflacionou o mercado, pois o imóvel que é pesado para uma família pagar R$ 3 mil por mês é barato para uma empresa comparando a despesa de um hotel ou pousada”.

Porém, ela acredita que conforme os alojamentos vão ficando prontos a tendência é o preço abaixar, além de ter mais opções disponíveis. ”A previsão é que logo desocupem vários imóveis”.

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Agnelo teve 20% no aumento de seu comércio (Foto: Leonardo França)

Venda de materiais

Agnelo Carneiro de Lima, de 55 anos, é dono de uma loja de material de construção há 13 anos em Ribas. Feliz pelo aumento imediato de 20% em seu movimento, ele admite que a cidade ainda não tem estrutura para atender à demanda atual, muito menos a que virá.

“A cidade tinha uma carência, a própria população está investindo, mas ainda estamos meio perdidos”, explica. Ele atende principalmente clientes menores, que por sua vez investem na cidade com a expectativa gerada pela Suzano.

Mesmo envolto a algumas dúvidas, o empresário está investindo. Ele comprou um terreno ao lado da sua loja para aumentar o depósito. “Preciso aumentar minha estrutura de estoque para atender principalmente essas obras na cidade”.