#Retrô21: Quando tudo parecia melhor, nova onda de Covid tira paz e vidas, mas não a esperança
Final de 2020 foi marcado por uma falsa sensação de segurança, que potencializou a onda de contágio em 2021
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Tsunamis são ondas gigantes que se formam nos oceanos a partir de abalos sísmicos subaquáticos. Quando atingem o continente, essas ondas tendem a se repetir deixando um rastro de destruição material e emocional.
É assim que temos vivido nos últimos dois anos: sob um grande tsunami chamado coronavírus, que a cada onda destrói vidas inteiras, não só as levando, mas também tirando a capacidade de aproveitá-las em sua plenitude.
Nesse contexto, o ano de 2021 começou com sentimentos contraditórios: de um lado a angústia causada pela herança traumática de 2020 e do outro a esperança pelas notícias do processo avançado do desenvolvimento das vacinas, que passou, a ser uma nova novela no Brasil.
Respiro entre ondas
Num breve período em 2020, principalmente no mês de outubro, logo após o primeiro pico de contágio, pensou-se erroneamente que estávamos nos livrando da Covid, e os números reforçaram essa percepção.
Nesse período, segundo o boletim epidemiológico da SES (Secretária de Estado de Saúde), vários dias registraram média abaixo dos 250, 200 casos confirmados por dia, números bem menores que os dias com mais de 1.000, 1.500 casos diários registrados nos meses anteriores.
Outubro de 2020 inteiro teve 12.638 casos confirmados, quantidade que só voltou a ser registrada em agosto deste ano, quase 1 ano depois, com 12.619 casos confirmados.
Nova onda
Nesse intervalo, entre outubro de 2020 e o meio deste ano, vivemos a mais duradoura e mortífera onda de casos, não só comparado a nossa experiência anterior, mas a qualquer país do mundo.
Logo em dezembro de 2020, menos de dois meses depois, o número de casos tinha mais que dobrado. Foram 34.700 casos confirmados com 597 mortes. A partir daí começou o novo calvário.
Muitas pessoas, ainda levadas pela aparente calmaria do breve hiato de casos, não haviam entendido a gravidade do momento e insistiram no desrespeito às regras sanitárias. Esse comportamento potencializou o contágio levando a um primeiro semestre de 2021 desastroso em Mato Grosso do Sul. Novamente os dados comprovam o momento.
Janeiro de 2021 começou com 27.260 casos e 573 mortes, fevereiro com 20.507 casos e 415 mortes, março já pulou para 34.040 e 1.107 mortes, a primeira vez que atingíamos mais de mil mortes por Covid na história de MS. Já abril teve 32.587 casos e 1.411 mortes, maio subiu para 42.540 casos e 1.140, chegando ao ápice em junho quando o número de casos confirmados atingiu 44.866 e 1.327 mortes.
Medidas do poder público
Uma das principais medidas criadas em Mato Grosso do Sul para balizar os decretos municipais foi o Programa Prosseguir, do Governo do Estado. O programa avalia os indicadores de taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), disponibilidade de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), taxa de mortalidade, testes, incidência e casos entre profissionais da saúde. O Prosseguir estabeleceu bandeiras de classificação com cores para as cidades, em que cada cor significava um conjunto de regras a serem seguidas.
O programa se transformou ao longo do tempo e foi flexibilizado recentemente, em julho. A mudança consistiu basicamente numa inversão no modo como o Comitê Gestor do Prosseguir descreve o que pode estar aberto ao público. Agora, tudo pode abrir independe da cor da bandeira. As cores só servem de indicativo para dizer o máximo de pessoas que podem estar em um local de acordo com sua capacidade.
Antes, existia uma lista de serviços essenciais, de característica discricionária, que apontava exatamente o que poderia ficar aberto ou não, segundo a cor da bandeira. A lista, nesse momento, está bem mais enxuta e traz apenas locais de aglomeração que podem oferecer risco e, por isso, precisariam de um controle de ocupação proporcional, mas sem precisar ser fechados completamente.
O programa Prosseguir também foi objeto de “embate” entre Prefeitura de Campo Grande e Governo do Estado. Isso porque em junho, quando cumprir as diretrizes do Prosseguir era uma obrigação, o prefeito Marquinho Trad (PSD) não concordou com a decisão do Comitê e decidiu manter a bandeira vermelha por ocasião do Dia dos Namorados enquanto a classificação do Prosseguir indicava a bandeira cinza. Na semana seguinte, o Prosseguir passou a ser uma recomendação aos municípios.
Junho também foi o mês em que vários decretos de flexibilização começaram a ser publicados em Campo Grande. No dia 14, o funcionamento do comércio foi flexibilizado, em seguida foram regrados eventos, uso de máscara, entre outros.
Vacinação
O jogo começou a virar em Mato Grosso do Sul com o avanço da vacinação. Apesar da primeira pessoa a ser vacinada ter recebido a primeira dose em 18 de janeiro de 2021, os frutos da campanha de imunização só começaram a ser colhidos a partir de julho, muito por conta da lentidão com que as doses chegaram ao Brasil.
Até o momento, 72% da população já se vacinaram com as duas doses em MS. Foram aplicadas 4,6 milhões de doses, entre 1ª, 2ª, 3ª e dose única. Já a taxa de ocupação global de leitos SUS/UTI apresenta cenário acima de 50% apenas na macrorregião de Dourados que está com 65%. Em Campo Grande, ocupação é de 50%, Corumbá 35% e Três Lagoas 34%.
Diante desses números, mesmo com as flexibilizações, houve uma redução vertiginosa de casos e mortes a partir de agosto de 2021, que, como já informado, marcou 12.619 casos e 398 mortes. Em setembro, despencou para 4.336 casos e 158 mortes, em outubro para 3.546 casos e 52 mortes, em novembro 2.339 casos e 30 mortes e, até o momento, em dezembro, são 700 casos e 8 mortes.
Teremos uma nova “nova onda”?
Variantes inéditas do coronavírus, como a temida ômicron, que surgiu após a variante delta, causam incertezas em relação ao futuro do controle da Covid no mundo inteiro. O Reino Unido enfrenta nova onda de casos sem precedentes — nessa última semana, registrou 78,61 mil infecções, o maior número diário desde o início da pandemia. A França já retomou restrições para viajantes do Reino Unido. Na África do Sul, onde foi inicialmente detectada, a ômicron já responde por mais de 90% das novas infecções.
Algumas constatações já foram feitas, entre as quais a de que a ômicron é significativamente mais contagiosa, mas ainda há muito a ser descoberto sobre essa nova variante. Por isso, ainda é cedo para saber o potencial de estrago dela. Porém, várias cidades e estados já estão colocando a barba de molho e suspendendo eventos comemorativos de fim de ano, como shows de Natal e Ano Novo, além do Carnaval, como em várias cidades de MS.
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