Com a pandemia de coronavírus e a crise econômica no país, alguns sul-mato-grossenses têm sonhado com a vida no exterior. A jornada não é simples: há muita burocracia e uma série de obstáculos, como o planejamento financeiro, a fluência em uma nova língua e a busca por um emprego como imigrante. Porém, mesmo com as restrições, há quem sonhe com uma vida mais próspera fora do Brasil. 

A Ana Palma, de 23 anos, é um exemplo. Há três anos na luta pela cidadania italiana, Ana viu tudo se complicar durante a pandemia. O processo ficou ainda mais demorado e ela viu o valor do euro disparar. Mesmo assim, ela ainda sonha com uma vida melhor na Itália. 

O sonho surgiu depois de ouvir histórias contadas pela mãe sobre a família italiana. À princípio ela nem considerava a possibilidade e acreditava que só poderia visitar o país por intercâmbio ou trabalho, até que começou a pesquisar sobre a cidadania italiana. “Busquei entender o que era e como fazia. Depois comecei a ir atrás das histórias da minha família pra ter certeza se de fato eu tinha essa descendência”, relata.

Ana conta que conseguiu montar a árvore genealógica e começou a correr atrás da papelada, para provar que sua família era da Itália. “Não foi nada fácil, porque não contratei assessoria na área. Levei um tempo até encontrar toda a documentação necessária. Quando entrei com o pedido na justiça, em seguida veio a pandemia e atrasou minha audiência, mas com muita esperança e paciência cheguei da reta final”.

A jornalista entrou com o pedido de cidadania em fevereiro de 2019 e só em fevereiro deste ano recebeu a sentença positiva. Ana explica que o pedido foi aprovado, mas o Estado ainda pode contestar. Depois, o advogado envia a sentença ao comune italiano para transcrição da certidão de nascimento. 

“Em seguida solicito o meu AIRE, que é como se fosse um CPF nosso, e por último meu passaporte vermelho. Tendo essa documentação eu já posso ir e vir para a Itália, serei oficialmente cidadã italiana e terei obrigações legais com os dois países”, explica.

Para quem sonha em morar fora, a principal dica é: pesquise e planeje muito antes de ir. A jornalista ressalta que é preciso coragem e determinação. “Eu preciso pensar que chegarei em um lugar onde não conheço ninguém, não terei emprego de imediato e precisarei alugar uma casa ou apê para morar”.

Ana Palma explica que a jornada não é fácil e que precisa economizar muito para conseguir se mudar. Ela chegou até a cogitar desistir da vida na Itália, mas a situação de crise vivida no Brasil falou mais alto. “Vejo pelos noticiários a situação crítica que nosso país está enfrentando, mesmo antes da pandemia, da saúde precária, educação desvalorizada, índices de criminalidade nas alturas, entre outros fatores e fico pensando: ‘caramba, não quero construir um futuro no meio dessa situação difícil'”.

Pensando em um futuro melhor, a vontade de morar fora do Brasil só aumenta. Com a pandemia, a situação foi ficando mais difícil e, para a maioria dos brasileiros, o salário já não rende como antes. “Ontem mesmo estava vendo um vídeo de uma brasileira que mora na e ela mostrou o tanto de coisa que ela comprou no mercado com 20 euros, dava pra encher um carrinho pequeno. E no final ela pergunta: ‘o que dá pra comprar com 20 dinheiro no país que você mora?'. Eu fiquei pensando naquilo e pensando o quão difícil é conseguir ter o mínimo de qualidade de vida”, diz Ana Palma.

Para quem quiser seguir o caminho de Ana e buscar a cidadania italiana, a dica é pesquisar muito e ter certeza do que quer, afinal, o processo não é nada barato. É preciso calcular os gastos e procurar a forma mais rentável de conseguir a cidadania. Além disso, é preciso ficar atento aos golpes.

“Eu digo para pesquisar bastante porque infelizmente, como é uma área que cresceu bastante, há muita gente que quer passar a perna em você. Cobrar um valor fora de mercado, enfim. Por isso, pesquise bastante antes de fechar com alguém”.

Como conseguir um visto? 

Apesar de ser o sonho de muitas pessoas, conseguir o visto para viajar ou morar por um tempo no exterior não tem sido fácil em meio à pandemia. Com os consulados fechados, o processo passou a ser moroso. Porém, para quem quiser começar a se planejar desde já, o primeiro passo é tirar o passaporte. 

A World Service presta serviço de assessoria e conversou com a reportagem sobre a busca de vistos em MS. A gerente de vistos Mariana Miranda explica que a procura diminuiu muito por causa da pandemia, já que os consulados estão fechados, impossibilitando a retirada do visto. Porém, a busca pelo serviço voltou a crescer a partir de dezembro de 2020. 

“Os clientes que estão dando entrada no processo estão cientes dos prazos, que estão demorando e que o consulado ainda permanece fechado. Ainda não deram uma data definida para reabertura”, diz Mariana. 

Para a gerente, o primeiro passo para conseguir um visto de turismo ou estudos é conseguir o passaporte. Ela explica que conseguir uma permissão para morar definitivamente no exterior é mais complicado. “[Para] residência geralmente são mais burocráticos, às vezes precisa de advogado de imigração, então nós como assessoria acabamos auxiliando nos caminhos que o cliente deve seguir, porém não intermediamos no processo todo”.

Com os sul-mato-grossenses voltando a procurar vistos no exterior, o perfil é variado. “Nosso público ultimamente está geral, tanto jovens como pessoas mais velhas, muitas famílias procurando tirar o visto americano de turismo, pois muitos estão com programada e paga, mas ainda não possuem o visto. E para o intercâmbio a maioria é jovem, porém como está tudo parado estão se programando para fazer mais pra frente. Então se posso dar uma dica às pessoas que estão querendo tirar o visto, é se programar o quanto antes”, orienta Mariana.

Passo-a-passo para tirar passaporte

Conforme instruções listadas no site da PF (Polícia Federal), confira o passo-a-passo para conseguir um passaporte.

  1. Preencher o formulário: o primeiro passo é reunir toda a documentação necessária e preencher o formulário disponível no site da PF. 
  2. Pagar o boleto: Em seguida, é preciso pagar pelo passaporte. O boleto é gerado logo após o preenchimento do formulário. A taxa comum é de R$ 257,25 e a taxa em casos de urgência e emergência é de R$ 334,42.
  3. Agendar atendimento: O solicitante deve escolher a unidade lembrando que deverá retornar à mesma para buscar o passaporte pronto. 
  4. Comparecer à unidade: O atendimento é presencial, inclusive no caso do menor. A documentação necessária deve ser apresentada em via original na unidade escolhida, no dia horário agendados. Durante o atendimento são coletadas impressões digitais e uma fotografia facial. Após o atendimento, o prazo de entrega será informado pelo posto. Em geral, o prazo é de 6 dias úteis.
  5. Receber o passaporte: O passaporte é entregue somente ao titular, na mesma unidade em que foi solicitado. Menor de 16 anos deve estar acompanhado por responsável legal. Menor de 12 anos não precisa comparecer e o passaporte pode ser entregue ao responsável legal.