O Rio Anhanduí, na região do Jardim Jóquei Club, em Campo Grande, tem apresentado um cenário não muito animador. Lixo, de todo o tipo, é despejado às margens das águas de modo desenfreado. No local, existem peixes e cágados, que acabam convivendo com plásticos, sacolas e todo tipo de material descartado.

Annyara França, engenheira civil, passa pelo local diariamente e relata cenas de tristeza. Ela expõe uma situação pior, quando há chuvas na cidade e o lixo acumulado nas ruas do bairro cai dentro do rio, que fica na Avenida Ernesto Geisel.

“O problema é que tem uma rua que dá direto na avenida. Na primeira chuva que der, todo aquele lixo da rua vai parar lá dentro do córrego e o córrego vai ficar mais imundo do que está agora. E não tem ninguém que cuida do rio. Eu passo ali todo dia e vejo essa cena”, contou.

Nas proximidades do rio também há muita sujeira e objetos jogados. Até mesmo na avenida é possível encontrar lixo esparramado. Na região, há outro dilema que se soma ao problema ambiental, os moradores de rua. São pessoas em situação vulnerável, que acabam descartando qualquer tipo de artefato em qualquer lugar.

“Às vezes, as pessoas põem o lixo na frente de casa para o gari levar. Aí, o morador de rua procurando coisas para reciclar, vender ou para comer, vê o saco de lixo e revira o lixo das pessoas. Você vê essa situação por lá, que é a precariedade da vida das pessoas, né? Na região tem muito morador de rua. Tem gente que mora lá na beira da avenida”, detalhou.

Riscos aos seres vivos

O lixo, que pode ser tóxico, prejudica a vida animal do rio. Cágados nadam ao lado de tampas de garrafas, sacolas plásticas e outros objetos pequenos, que podem ser ingeridos pelos répteis e comprometer sua saúde.

A bióloga Luciana Valério, que é mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, explica que esses animais podem ser tão prejudicados que chegam a morrer em virtude do problema existente em seu habitat.

“Esses animais podem ficar presos nesses resíduos, sacolas, garrafas, plásticos, e podem acabar morrendo. Engolindo um resíduo desse, achando que é um alimento, o animal morre. Ou então, ele pode ficar preso a um objeto, não conseguir subir para respirar e morrer dessa forma”, explicou a bióloga.

Cágado é visto nadando na superfície do Rio Anhanduí – (Foto: Felipe Ribeiro)

 

A questão vai além do dano à fauna do rio. A professora Ana Paula Teles, que é Engenheira Sanitarista e Ambiental, esclarece que o despejo inadequado do lixo em rios promove a incidência de doenças prejudiciais ao próprio ser humano.

“A geração de resíduos sólidos é inerente às atividades humanas. O acúmulo e a destinação inadequada de tais itens têm comprometido a saúde dos ecossistemas aquáticos, visto que normalmente se tornam receptores finais desses elementos, contribuindo para a proliferação de animais sinantrópicos, que podem transmitir doenças e causar agravos à saúde humana e animal”, destacou.

O que diz o município

Questionada sobre a situação no bairro Jardim Jóquei Clube, a Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Gestão Urbana) informou que a região tem sido monitorada pela fiscalização, visando coibir tal prática no entorno do Rio Anhanduí.

A secretaria ressalta, ainda, que o descarte em local impróprio é uma irregularidade. A pessoa flagrada responderá por crime ambiental e poderá levar multa que varia entre R$ 2.478,50 e R$ 9.914,00.