Cerca de duzentos indígenas que vivem isolados na aldeia Uberaba, localizada na Ilha Ínsua, a cerca de 330 km de , receberam sinal de internet. O meio de comunicação na aldeia é a única forma de contato com a sociedade externa, já que na aldeia não tem serviço de . E para chegar em Corumbá, os indígenas precisam pegar um barco e navegar durante quase dois dias.

A instalação da internet via satélite foi proporcionada pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 24ª Região e pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) com aplicação de recursos trabalhistas. O pedido foi feito pelos indígenas à Justiça do Trabalho e à PMA (Polícia Militar Ambiental) durante a 5ª Expedição de Educação Ambiental no Pantanal, organizada pela PMA em parceria com instituições públicas e ONGs, em dezembro do ano passado.

O desembargador do Gomes de Souza e o juiz do trabalho Márcio Alexandre da Silva estiveram na comunidade no mês passado para divulgar o Programa de Combate ao Trabalho Infantil e se sensibilizaram com a dificuldade de acesso e comunicação dos ribeirinhos.

“Eles relataram a necessidade de ter um sinal de internet na localidade, por vários motivos. Primeiro a distância, eles estão absolutamente isolados da cidade. Há um problema muito grande de chegar na aldeia, que demanda muito tempo de viagem por rio. E nos sensibilizou bastante a questão da escola local que, segundo o coordenador Laucídio, toda vez que ele precisava lançar as notas das crianças no sistema da Secretaria de Educação tinha que se deslocar, por um dia e meio, até Corumbá para fazer esse trabalho. Com valores que são provenientes de multas trabalhistas a gente pode atender essa solicitação da aldeia”, esclareceu o juiz do trabalho Márcio Alexandre da Silva durante conexão simbólica com a aldeia.

O desembargador João de Deus Gomes de Souza afirmou que esse é um momento ímpar para os indígenas e a Justiça do Trabalho. “Eu vi ali os excluídos do mundo. Nós conversamos com a comunidade e vimos um povo totalmente isolado. Eu espero que, com essa semente plantada, nós possamos avançar na distribuição da justiça social”, enfatizou o magistrado que lembrou que, no final do ano passado, o TRT/MS levou material esportivo para a escola local, como forma de estímulo ao esporte e diminuição da evasão escolar, iniciativa do Programa Nacional de Combate ao Trabalho Infantil.

Para o presidente do TRT-MS, o trabalho realizado na aldeia demonstra a missão social dos magistrados e dos recursos provenientes de multas trabalhistas, que devem ter uma destinação nobre. “É muito importante quando a Justiça do Trabalho se aproxima da população que mais necessita de apoio. Hoje, o acesso à internet e à rede mundial de computadores é, sem dúvida também, um exercício de cidadania”, ponderou o desembargador Amaury Rodrigues Pinto Junior.

A mensalidade do serviço de internet será custeada pelas famílias indígenas. O sinal também atenderá a Escola Toghopanãa. A logística de instalação e deslocamento foi proporcionada pela PMA. “A Polícia Militar Ambiental vai para a região e, as vezes, fica uma semana em operação. Essa comunicação é muito importante para nós também”, afirmou o capitão Diego Ferreira da PMA.

Quem são os guatós?

De acordo com o antropólogo e historiador Giovani José da Silva, a terra indígena guató é uma área de cerca de 10 mil hectares que fica na região noroeste de Corumbá. Os únicos acessos à aldeia Uberaba são por vias fluvial ou aérea. A base alimentar dos indígenas é a pesca, caça e a agricultura com o plantio de mandioca, milho e cereais.