‘Invisíveis’: com problemas de décadas, indígenas da maior reserva de MS escolhem novo capitão
Eleições estão marcadas para o dia 20 de dezembro e disputa na Aldeia Jaguapiru reúne 6 chapas
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Moradores da Aldeia Jaguapiru, que integra a maior Reserva Indígena Federal de Mato Grosso do Sul vão às urnas no dia 20 de dezembro. Nem mesmo as inúmeras demandas que atravessam décadas são suficientes para afastar os interessados em assumir o cargo de capitão pelo período de quatro anos.
Entre as seis chapas já registradas está a do atual capitão da Aldeia Jaguapirú, Izael Morales. Com Edilene da Silva como vice, ele disputa a reeleição. A novidade do pleito é a candidatura de Nilza Meireles. Ela é a única mulher a concorrer ao cargo e faz dobradinha com Zoroastro Almirão.
Os demais concorrentes são Valdineis Ramirez e Queila Viana; Jaime da Silva e Nivaldo da Silva; Tércio Machado e Ortega Ossuna; Ramão Fernandes e Ivan Cléber. A reportagem do Midiamax apurou que inicialmente haviam nove chapas inscritas, entretanto, três não conseguiram fazer os registros das candidaturas.
Junto com a Aldeia Bororó, que em outubro deste ano elegeu Reinaldo Arevalo e Alex Rodrigues, com 1.797 votos, em substituição a Gaudêncio Benites, a Jaguapiru é responsável por uma população que totaliza mais de 18 mil moradores.
Sem água potável suficiente para consumo diário, os moradores da Reserva Federal de Dourados vivem problemas considerados estruturais, como falta de saneamento básico e também de alimentos — que ainda estão distantes de serem solucionados.
“Temos atualmente uma reserva praticamente encravada dentro da cidade com características peculiares e culturais, convivendo com demandas urbanas da própria cidade, uma vez que as aldeias estão distantes apenas uns cinco quilômetros do centro da cidade”, explica Fernando Souza, um dos líderes da reserva.
Segundo o líder, que acompanha de perto os problemas enfrentados pelas duas aldeias e também pelas comunidades que vivem no entorno das retomadas (assentamento), a reserva, apesar de ser uma realidade, tornou-se invisível ao longo dos anos. “Na verdade, essa população existe e não pode ser ignorada. São mais de 7 mil pessoas com direito a voto somente em Dourados”, pondera.
Ainda de acordo com Fernando, a Reserva Federal é também parte integrante da economia local. Segundo ele, os recursos federais que giram em torno das aldeias, além dos salários oriundos dos serviços prestados em empresas locais por moradores dessas comunidades são aplicados no comércio local.
Violência
Além da omissão do poder público em relação às políticas de garantias de direitos básicos, outra questão latente nas comunidades indígenas de Dourados é o alto índice de casos de violência.
Relatos de lideranças indígenas de Dourados mostram que 99% das ocorrências policiais nas aldeias são motivadas pelo consumo de bebidas alcoólicas e de outras substâncias entorpecentes, como maconha, crack, cocaína. Essas combinações maléficas, aliadas ao descaso das autoridades, transformam a Reserva Federal Indígena de Mato Grosso do Sul em um campo minado.
Segundo estudiosos, o alcoolismo associado aos povos indígenas é contemporâneo ao confinamento nas reservas, perda dos territórios tradicionais e esgotamento dos recursos naturais. O estímulo ao consumo de substâncias acaba sendo uma medida de controle social, isolando os índios ainda mais nas reservas, sem acesso à educação e assistência.
“Ao longo da história da colonização do Brasil, o álcool foi utilizado como ferramenta de guerra para vencer os índios, principalmente após a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Porém, a disseminação, por parte do Estado, para subjugar os índios, com o álcool, trouxe para dentro das comunidades, consequências nefastas como o aumento da violência”, explica o professor e pesquisador da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Neimar Machado de Sousa.
Em um artigo sobre álcool e drogas, o professor destaca que o uso e abuso destas substâncias tornou-se um significativo problema de saúde pública globalizado com implicações em muitas esferas da vida cotidiana, “pois compromete vínculos afetivos, afeta o trabalho, gera sofrimento familiar, prejudica a saúde, relaciona-se à violência e contribui na disseminação de doenças como o HIV e muitas outras”.
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