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“Temos atualmente uma reserva praticamente encravada dentro da cidade com características peculiares e culturais, convivendo com demandas urbanas da própria cidade, uma vez que as aldeias estão distantes apenas uns cinco quilômetros do centro da cidade”, explica Fernando  Souza, um dos líderes da reserva.

Segundo o líder, que acompanha de perto os problemas enfrentados pelas duas aldeias e também pelas comunidades que vivem no entorno das retomadas (assentamento), a reserva, apesar de ser uma realidade, tornou-se invisível ao longo dos anos. “Na verdade, essa população existe e não pode ser ignorada. São mais de 7 mil pessoas com direito a voto somente em Dourados”, pondera.

Ainda de acordo com Fernando, a Reserva Federal é também parte integrante da economia local. Segundo ele, os recursos federais que giram em torno das aldeias, além dos salários oriundos dos serviços prestados em empresas locais por moradores dessas comunidades são aplicados no comércio local.

As duas aldeias da Reserva Indígena Federal ficam praticamente dentro da cidade (5 quilômetros de distância) e abrigam mais de 18 mil habitantes

 

Violência

Além da omissão do poder público em relação às políticas de garantias de direitos básicos, outra questão latente nas comunidades indígenas de Dourados é o alto índice de casos de violência.

Relatos de lideranças indígenas de Dourados mostram que 99% das ocorrências policiais nas aldeias são motivadas pelo consumo de bebidas alcoólicas e de outras substâncias entorpecentes, como maconha, crack, cocaína.  Essas combinações maléficas, aliadas ao descaso das autoridades, transformam a Reserva Federal Indígena de em um campo minado.

Segundo estudiosos, o alcoolismo associado aos povos indígenas é contemporâneo ao confinamento nas reservas, perda dos territórios tradicionais e esgotamento dos recursos naturais. O estímulo ao consumo de substâncias acaba sendo uma medida de controle social, isolando os índios ainda mais nas reservas, sem acesso à educação e assistência. 

“Ao longo da história da colonização do Brasil, o álcool foi utilizado como ferramenta de guerra para vencer os índios, principalmente após a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Porém, a disseminação, por parte do Estado, para subjugar os índios, com o álcool, trouxe para dentro das comunidades, consequências nefastas como o aumento da violência”, explica o professor e pesquisador da (Universidade Federal da Grande Dourados), Neimar Machado de Sousa.

Em um artigo sobre álcool e drogas, o professor destaca que o uso e abuso destas substâncias tornou-se um significativo problema de saúde pública globalizado com implicações em muitas esferas da vida cotidiana, “pois compromete vínculos afetivos, afeta o trabalho, gera sofrimento familiar, prejudica a saúde, relaciona-se à violência e contribui na disseminação de doenças como o HIV e muitas outras”.