Antes da pandemia, a derrocada econômica que já atingia o Brasil há anos somada à falta de perspectiva — que perdura — fizeram com que vários sul-mato-grossenses buscassem cidadania estrangeira, principalmente a italiana, dado que o processo é mais fácil e o número de descendentes em solo canarinho é bem alto. 

Mas a onda de processos de cidadania foi brutalmente interrompida pelo coronavírus. Para quem não lembra, no começo, entre março e abril de 2020, a Itália foi o país europeu que mais sofreu, batendo mil mortes diárias e assombrando o mundo. Na sequência, vimos essa realidade ser transplantada para o Brasil, por isso o brasileiro passou a ser persona non grata em quase todos os países do mundo.

Eis que quase dois anos e 600 mil mortes depois, alguns países passaram a receber brasileiros, mediante condições rigorosas de comprovação sanitária. Espanha, Finlândia, Portugal e Suíça são algumas das nações que aceitam a entrada de turistas do Brasil totalmente vacinados. Alemanha e França também aceitam, mas fazem restrições à Coronavac.

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Sol viaja para Europa em dezembro deste ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Porém, outros, justamente como a Itália, aceitam atualmente somente a entrada de pessoas que se encaixam em certas exceções, como cidadãos do país, de outro membro da União Europeia, ou turista que comprove a quarentena de 14 dias em um país europeu.

Esse contexto fez emergir novamente a vontade adormecida de tirar a cidadania de vários brasileiros e o que se tornou um verdadeiro mercado voltou a aquecer muito.

A artista e tatuadora Sol ZZT é uma dessas pessoas. Desde 2015, quando fez intercâmbio na Itália, planeja tirar a cidadania. Seu plano era juntar dinheiro até o final de 2019 ou começo de 2020 e comprar a passagem para viajar em agosto de 2020, o que, obviamente, não aconteceu.

“Eu já tinha todos os documentos separados. O que faltava mesmo era o dinheiro, que tinha acabado de conseguir e a passagem com a data”.

O balde de água fria que deixou Sol molhada até o meio desse ano foi seco pelo avanço da vacinação e pelas notícias de abertura. Faz mais ou menos um mês que a tatuadora renovou seus documentos, pegou a grana que estava guardada e comprou sua passagem para realizar o sonho.

Mesmo assim, ainda há riscos. Sol, por exemplo, vai fazer a quarentena na casa de um primo que mora em Portugal. “Mas se eu chegar lá, fazer um exame PCR e der positivo, volto para o Brasil na hora”, disse.

O mesmo risco corre quando for à Itália. “Sei dos riscos, mas sinto que preciso ir, alguma coisa me chama lá e vou ver no que vai dar”.

Mercado da cidadania

Genaro Bruschi, sócio de um escritório em Campo Grande especializado em cidadania italiana, disse que, na concepção dele, o mercado nunca desaqueceu, o que muda agora é a forma de ir.

“Por experiência própria, quem tem o direito, tem uma grande ansiedade para obter o reconhecimento, com pandemia ou sem. O que acontece é que durante a pandemia, as fronteiras com a Europa estavam fechadas, então buscou-se os outros meios de reconhecimento da cidadania, que não àqueles que precisam estar fisicamente na Europa”.