Eu venci a covid: quem sobreviveu em MS conta o drama de enfrentar a doença e sequelas do coronavírus
Todos os dias são noticiadas novas mortes que o coronavírus causou em todo o país. Mas, por outro lado, também existem pessoas que venceram a doença. Vamos mostrar o drama que alguns sobreviventes passaram e ainda enfrentam após contrair a covid. “Que seja feita a vontade de Deus”. Com essas palavras o pastor Milton Marques, […]
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Todos os dias são noticiadas novas mortes que o coronavírus causou em todo o país. Mas, por outro lado, também existem pessoas que venceram a doença. Vamos mostrar o drama que alguns sobreviventes passaram e ainda enfrentam após contrair a covid.
“Que seja feita a vontade de Deus”. Com essas palavras o pastor Milton Marques, de 50 anos, entrava para ser intubado em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no dia 21 de julho do ano passado.
O pastor conta que foi tudo muito rápido. “Comecei a sentir uma dor no lado esquerdo, mas como todo brasileiro, não gosto de ir em médico. Nem imaginava que poderia ser covid. Então, fui à Santa Casa e, lá, fui imediatamente internado”, diz Milton, completando que seu estado de saúde se agravou e no 3º dia de internação estava sendo intubado.
Questionado sobre o medo do que poderia acontecer, o pastor – um homem de fé – deixa claro a fragilidade que o paciente fica nesse momento. “Depois de ser intubado, está nas mãos de Deus e dos médicos. Absolutamente, não temos controle de nada”, lembra.
Após 17 dias internado, sendo 12 deles na UTI intubado, Milton ainda não havia derrotado a doença de vez. “30 dias depois e ainda estava lutando para sobreviver. Dependia dos outros para tudo, para me locomover, ir ao banheiro. Em 12 dias, perdi 60% de músculo do meu corpo”, lembra.
Mesmo após sete meses de alta hospitalar, a luta continua. “Deixou diversas sequelas como cansaço, dores estomacais e abdominais, câimbras que eu não tinha e hoje são extremamente rigorosas. Estou segurando meu celular e minhas mãos tremem como não era antes”, comenta.
Após viver o terror que o coronavírus pode causar na saúde, o pastor é enfático ao alertar as pessoas sobre o perigo da doença. “Se cuidem, usem máscara, lavem as mãos, usem álcool constantemente. Tenho feito isso com rigor muito maior. Quem pode ficar dentro de casa que permaneça dentro de casa”.
‘Pedi a Deus mais uma chance’
O engenheiro eletricista Jean Carlo Ranucci Amaral, 45, começou a sentir os sintomas da covid no dia 5 de julho do ano passado e no dia 15 estava internado no Hospital da Unimed, onde permaneceu por 11 dias, 3 deles intubado.
Para Jean, a doença lhe proporcionou uma nova visão sobre sua vida. “Me marcou o quanto no passado estava largando mão de sensações e estava focado em outras coisas que não a minha família. Percebi que em 1 minutos poderia perder todos eles”, lembra.
Sem saber como pode ter contraído o vírus, afinal, sempre adotou todas as recomendações, o engenheiro diz que assim que começaram os sintomas sabia que estava com covid. “De imediato imaginei que pudesse ser. Estava com dor e uma sensação que nunca tinha sentido, muita febre”, conta.
Assim que deu entrada no hospital, a doença progrediu de forma rápida. “No dia após ser internado fui encaminhado para o CTI (Centro de Terapia Intensiva), muito ofegante”, explica.
Apesar de ficar pouco tempo no CTI, Jean perdeu 12 kg e precisou passar por processo de reabilitação após deixar o hospital. “Você perde muitas sensações, então, fui reaprender tudo novamente. Eu falo que covid não é problema só quando está internado, mas tem reflexos”, conclui.
‘Tem que ter muita vontade de viver’
O caso do professor terena Paulo Baltazar, 59, do Instituto Terena de Educação Intercultural, foi destaque na imprensa, quando no dia 23 de julho de 2020 precisou ser transferido por UTI aérea de Aquidauana a Campo Grande, após ter estado de saúde agravado pela covid.
Já na Capital, Baltazar ficou intubado até o dia 7 de agosto, dia em que completava 59 anos. “Um grande marco na minha vida, talvez um grande presente que Deus me deu. É um milagre, pois sai de Aquidauana com 25% do pulmão comprometido. Por isso agraço a Deus, porque me deu o milagre da vida”, enfatiza.
O professor lembra que recobrou a consciência no dia 7, quando havia recebido mensagens de apoio e lembranças pelo aniversário de familiares e amigos. “Até então, estava apagado por conta dos aparelhos, sendo monitorado por médicos e enfermeiros”, relata.
Sobre o período que permaneceu no Hospital Adventista do Pênfigo, Baltazar relata a luta pela recuperação. “Tem que ter vontade de viver, de combater. Todas as tardes eu pegava o andador e fazia minha caminhada”, conta o professor que ficou 21 dias intubado dos 30 que passou no hospital.
Assim como os demais recuperados, Baltazar diz que a doença serviu como reflexão. “Mudou [meu pensamento], com certeza. A vida é uma eterna experiência, em que precisamos tirar coisas boas dos momentos difíceis”, pondera.
Para o professor, é necessário que o caso dele e de outros sirva como exemplo. “Precisamos valorizar o outro, respeitar o outro, precisamos ter solidariedade com o outro”, disse.
Então, no dia 15 de agosto o terena conquistou a alta, mas a luta contra o covid continua. “Sai muito fraco. A cabeça ainda ficava muito pesada, não conseguia levantar. Precisava de alguém para me alimentar, dar banho, escovar os dentes. A gente volta a ser uma criança”, comenta.
Mesmo após 7 meses da alta, Baltazar sente as sequelas da covid até hoje. “Continuo tomando os medicamentos e, de vez em quando, tenho dores intensas no corpo”, conta.
‘Ficou a amizade’
O caso do empresário Nelson da Silva, 55, não precisou de internação, mas passou pela situação junto com a esposa. “Meu pulmão ficou 10% comprometido, já a minha esposa deu 25%”, relatou.
Nesse período, Nelson conta que sentiu cansaço, mas sem exagero. “Já a minha esposa suava de molhar o lençol, teve tremedeira e muito mal estar”, lembra.
O que ficou desse período, que passou isolado em casa, foi a amizade com o médico que o atendeu, dr. Marcelo Santana. “Gostaria de deixar claro que a posição do médico foi importante, pois me tranquilizou. É uma pessoa muito humana, um excelente profissional. Todo dia ligava, perguntava como estava. De tudo, de uma coisa negativa ficou algo positivo”, conclui.
Apesar de não ter tido complicações por conta da doença, Nelson viu vários familiares ficarem em situação mais delicada. “Meu irmão ficou com 45% do pulmão [comprometido]. Minha irmã foi uma situação bem complicada, atingiu 60% [de comprometimento dos pulmões]”, explicou, completando que a irmã já deixou o hospital, mas continua o tratamento em casa.
Por fim, Nelson diz que mantém os cuidados com a saúde de forma ainda mais rigorosa. “Isso foi em novembro. Dá vontade de viajar, mas estamos nos preservando, saindo o necessário, não temos nos arriscado”, conclui.
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