Empresários da reciclagem lucram com alta do ferro e escapam de crise da pandemia em Campo Grande
O ano de 2020 foi de crise e pesadelos para diversas empresas e áreas econômicas do Brasil e do mundo, muito por conta da pandemia que assolou o planeta e ainda não chegou ao fim, apesar disso, alguns setores viram seus lucros aumentarem, como é o caso das empresas que atuam na reciclagem em Campo […]
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O ano de 2020 foi de crise e pesadelos para diversas empresas e áreas econômicas do Brasil e do mundo, muito por conta da pandemia que assolou o planeta e ainda não chegou ao fim, apesar disso, alguns setores viram seus lucros aumentarem, como é o caso das empresas que atuam na reciclagem em Campo Grande.
“Foi ruim no comecinho da pandemia, mas depois melhorou, na verdade teve até um aumento na demanda”, conta Davi Narvaes, proprietário de uma empresa de reciclagem no bairro Tijuca.
Contente com a melhora nos negócios, Davi tem consciência que a pandemia está sendo um período difícil para muitas pessoas, mas admite que não pode reclamar de seu negócio.
Para ele, essa melhora tem um motivo específico, a alta no preço do ferro. “Antes (início de 2020) eu pagava R$ 10 ou R$ 15 em 100 quilos de ferro, hoje eu estou pagando R$ 100”, explica Davi. “As pessoas saem daqui felizes da vida”, brinca.
Conforme os valores apresentados pelo empresário, era pago cerca de R$ 0,10 a R$ 0,15 centavos no preço do ferro, hoje o mesmo material está sendo recolhido por R$ 1 o quilo.
Davi não sabe explicar o que motivou a alta no quilo do ferro “não sei muito bem, acho que tem a ver com a China”, comenta. Motivo inclusive, que ele demonstra não se importar muito, já que o aumento no valor do ferro, fez com que as pessoas fossem mais ao descarte e vendessem outros materiais.
“Olha, a pessoa vem aqui para descartar/vender o ferro, mas aí ele aproveita e já traz tudo que tem em casa, a latinha, o cobre e acaba deixando tudo, ainda mais na pandemia, que as pessoas passaram mais tempo em casa e viram os lixos acumularem”, explica.
Edson Nani, que também trabalha no mesmo ramo, mas com sua empresa instalada na Vila Planalto, também não encontra motivos para reclamar da pandemia, ao menos na área dos negócios.
Por telefone, Edson se mostra entusiasmado com o boom que o negócio teve nos últimos meses. “Quando mandaram fechar tudo foi ruim, mas depois melhorou, ficou até melhor que no ano anterior (2019), muita gente começou a trazer os recicláveis, teve um aumento na demanda”.
O proprietário da empresa também comenta sobre o ferro, o exemplificando como um dos fatores do aumento. “O preço do ferro subiu muito, antes eu pagava cerca de R$ 0,20 centavos no quilo, hoje estou pagando R$ 0,80”, explica.
Apesar de apresentar o ferro como principal motivo, Edson acredita que a pandemia em si foi um fator de melhora, para ele as pessoas terem ficado mais tempo em casa fez crescer o número de clientes no seu negócio.
“O morador fica em casa, ela via gerando o próprio resíduo, vê o lixo acumulado, que as vezes a gente nem presta atenção e então começaram a trazer para o descarte, acabou aumentando o número de clientes”, conta.
Davi e Edson não estão errados ao apontar o minério de ferro como grande impulsionador de seus negócios ao longo de 2020, isso porque o material sofreu grandes altas durante o ano passado, muito por conta do mercado Chinês.
O minério de ferro terminou o ano de 2020 com alta de 74% no seu valor, algo não esperado por pequenos empresários como Davi e Edson. De acordo com o diretor executivo da CNS (Companhia Siderúrgica Nacional), Luis Fernando Martinez, essa alta ocorre por conta da importação chinesa.
“Um dado importante é que os altos-fornos na China estão operando mais de 90% e o país está importando placas do Brasil e da Rússia. Estamos trabalhando com o aço chinês a US$ 500 a tonelada”, comentou Luis Fernando, em entrevista ao portal Valor, em outubro de 2020.
Os dois lados da moeda
Como já diz o ditado, toda moeda possui dois lados, e nem sempre os dois podem ser otimistas. É o que ocorre na área dos recicláveis, a felicidade dos compradores reflete a frustração dos catadores.
Uma moradora do portal Caiobá, que preferiu não se identificar, sobrevive da reciclagem e atua como diarista, a segunda fonte de renda desapareceu durante a pandemia e a reciclagem, que nunca apresentou o melhor cenário, se tornou ainda mais dificultoso.
“Antes eu fazia diária e reciclava latinha e outros materiais, com a pandemia eu perdi minhas diárias, muita gente perdeu emprego ou diminui salário e pararam de pagar diárias, acabou sobrando só a sucata, o problema é isso aconteceu com muita gente”, contou.
A moradora da “favela do Caiobá”, como ela mesma chama, explica que muitas pessoas que moram no local tinham suas rendas provindas dos famosos ‘bicos’, seja limpando casas, cortando gramas, ajudando em obras e trabalhos do tipo.
Com a chegada da pandemia, muitas dessas pessoas não conseguiram mais trabalhar, e viram na reciclagem uma saída para colocar a comida na mesa. Andando pelas ruas do bairro, em conversas como moradores, é fácil encontrar pessoas que começaram a trabalhar com a reciclagem e relatam as dificuldades encontradas.
“Eu trabalhava com obras, aí com a chegada desse vírus não consegui mais trabalhar, comecei a catar latinha, e muita gente também fez isso, aí sobra poucas né?! Já não tem show, eventos e nada para gente ir pegar as latinhas, aí o pouco que aparece acaba sendo dividido por mais pessoas, isso complicou ainda mais nossa vida”, disse outro morador.
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