Com a justificativa de que só os ricos leem, a defende a taxação dos livros. Contra a medida, internautas subiram a hashtag ‘Defenda o Livro', com a volta da pauta sobre o fim da isenção tributária. Porém, diferente do que alega a Receita, as livrarias de Campo Grande percebem que há clientes de classes variadas. Desde adolescentes descobrindo o prazer da leitura a professores, os amantes da leitura variam a classe A a E. 

Proprietário de uma livraria na avenida Mato Grosso, José Batista explica que a maioria dos seus clientes são pobres. “A pessoa rica mesmo não compra tanto como os pobres, o trabalhador, o professor. Nosso perfil é de professores e eu não vejo professor rico”, diz.

O dono da livraria conta que o perfil dos leitores varia, há adolescentes descobrindo o prazer pela leitura, estudantes de graduação, mestrado, doutorado e professores. Para José Batista, os ricos são minoria entre quem compra os livros. “A grande maioria, eu diria 98% [de quem compra] são pobres. É quem está buscando uma oportunidade, correndo atrás dos estudos e, claro, os amantes do livro”, explica.

Já Lucas Valente, funcionário de uma livraria na rua 26 de Agosto percebe que os clientes são, principalmente, de classe média a alta. Ele afirma que a maioria dos clientes são estudantes e é possível perceber que as escolas particulares exigem mais dos alunos. Além disso, ressalta que pessoas de classes mais altas já costumam ter o hábito da leitura. 

Porém, isso não quer dizer que os pobres não leem. Lucas explica que há opções para todos os gostos e que como os livros estão caros, as pessoas mais humildes costumam procurar por livros usados. “São livros que, muitas vezes, foram lidos só uma vez. Estão em ótimo estado e saem pela metade do preço”, diz. 

José Batista afirma que a tentativa de taxar os livros é um desserviço. “A elite dominante quer manter o povo ignorante, burro. A política correta seria incentivar a leitura e a comercialização do livro”, comenta. 

Caso os livros sejam taxados, José prevê que as pessoas lerão ainda menos e acredita que as livrarias de Campo Grande podem acabar. “As livrarias estão fechando, somos sobreviventes. Já temos a concorrência da internet, se cobrar impostos, livrarias vão ser fechadas. Vamos ficar na mão das gigantes, como Amazon, Saraiva e Cultura”, diz o dono da livraria. 

A professora Camila Burema, de 26 anos, pode ser considerada uma amante dos livros. Incentivada pelos pais, a paixão pelos livros foi natural e vem desde a infância. A paixão pelos livros começou com uma bíblia ilustrada, depois ela ganhou gibis da Turma da Mônica e a partir de então o amor pela leitura só cresceu. “Foi sempre muito natural e me ajudou bastante na época de vestibular e porque eu não achava um fardo ter que ler”. 

Camila explica que atualmente opta por livros digitais, já que o preço dos livros físicos não é tão atrativo. Porém, sempre que tem uma oportunidade, recorre ao livro ‘convencional'. “Nada supera o cheirinho do livro novo”, brinca. 

Sobre a ideia de que só os ricos leem, Camila afirma que é preciso analisar o cenário como um todo. “Todas as classes leem, mas em formatos e conteúdos diferentes. Muitas vezes, nós consideramos apenas a leitura dos clássicos, mas sabemos que vai além disso”, diz. Camila opina que o sistema de educação deveria levar em consideração a idade das crianças ao recomendar leituras, já que recomendar livros como os de Machado de Assis logo de cara pode acabar desanimando os estudantes. 

A jornalista Maria Pereira, de 24 anos, também sempre foi apaixonada pela leitura. Ela ressalta que taxar os livros seria o caminho contrário do ideal, já que poderia desestimular a leitura cada vez mais. “O correto seria criar políticas que incentivam a leitura, o acesso à cultura e ao conhecimento em geral. As pessoas querem ler, mas são justamente os valores dos livros que desencorajam de adquirirem os livros e, consequentemente, o hábito da leitura”.