Chamar clientes ‘no grito’ vira febre no Centro e pode render até R$ 1 mil por semana em Campo Grande

Em época de máscaras, abordagem com microfone e ‘no grito’ virou moda pelo comércio

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Ao caminhar pelas ruas de Campo Grande, principalmente na região central da cidade, encontrar pessoas chamando clientes para comprar em determinada loja está se tornando cada vez mais comum. As estratégias são variadas — mulheres atraentes, jovens divertidos, locutores com microfone, pessoas com panfletos —, mas o objetivo é sempre o mesmo: ‘fisgar’ clientes.

Os que trabalham na área consideram o serviço importante e um diferencial para os comércios, principalmente no final de ano. A renda varia, alguns com carteira assinada, outros recebendo por diária, mas os valores não são considerados ruins e podem chegar a R$ 1.000,00 por semana.

Antônio Pereira, de 61 anos, é uma das pessoas que utiliza a voz como uma fonte de renda extra ao expor as promoções em uma loja de reparos de celulares para todos que caminham pela rua 14 de Julho. Por alguns minutos, a reportagem observou Antônio trabalhando, simpático, o alto volume de sua caixa de som parecia não incomodar os pedestres, mas também não conquistou muitos clientes.

O locutor refuta e afirma que o trabalho é importante para angariar clientes e faz com que o comércio se destaque dos demais gerando um maior fluxo. E se o profissional é um diferencial para o comércio, o próprio locutor busca diferenciais para si mesmo — uma forma de se sobressair diante da concorrência.

“Espontaneidade” é a palavra-chave para Antônio, que aproveita o intervalo entre uma promoção e outra para brincar com os pedestres, “não adianta só ler um roteiro, tem que ser carismático”. É nessa premissa que o locutor aposta há três anos, período em que começou a trabalhar na área, após incentivo de um amigo.

“Ele tinha uma lojinha de capinha de celulares, fui trabalhar com eles alguns dias, dar uma ajudada e ele pediu para eu chamar as pessoas com um microfone, falar das promoções da loja. Foi aí que ele começou a me incentivar com isso, eu comprei uma caixa de som e comecei a fazer algumas diárias, hoje já faz parte da minha renda”, explica.

Não somente caixas de som

Uma volta por algumas ruas que concentram grande parte do comércio no Centro da Capital fazem perceber que não somente locutores com caixas de som fazem parte do universo de pessoas que atuam conquistando clientes para seus patrões. Na Avenida Afonso Pena, andar sem ser convidada para comprar um celular, capinha e ganhar película ou então entrar em algum salão para cortar o cabelo é quase impossível.

Há 10 anos no local, Juliely Spiler já se tornou figura conhecida dos frequentadores do Centro. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Em alguns casos jovens brincando com os pedestres, outros apenas relatando os serviços, outros comerciantes apostam na aparência de mulheres e homens com roupas joviais e cabelos bem cuidados, ainda que novos e visivelmente com pouca experiência. Já outros comerciantes não descartam a experiência no ramo, no momento de contratar.

Juliely Spiler dos Santos, de 31 anos, está no ramo há dez anos, sem microfones ou caixas de som, ela aposta na boa conversa com as pessoas na hora de convencer os que caminham pela calçada a dar uma passada no salão de beleza onde trabalha, caso a pessoa não tenha tempo ou disposição, é entregue um panfleto com todos os serviços prestados no local.

Diferente dos locutores, Juliely é contratada e recebe mensalmente pelos serviços, que não são medidos pela quantidade de clientes que coleta. “O movimento estava muito fraco e não era culpa nossa, teve a pandemia, pessoas com menos dinheiro, mas agora está dando uma melhorada, inclusive vai aumentar a quantidade de pessoas trabalhando chamando clientes”, comentou.

Com o grande fluxo de pessoas entrando e saindo nos comércios da região é difícil diferenciar se foram ou não convencidos pelos cartazes nas vitrines, locutores, jovem com panfletos ou redes sociais, mas é perceptível que a famosa propaganda de porta de loja chama a atenção e pode ser um ponto extra para conversar um cliente a entrar no comércio.

(Matéria editada dia 30/11 para retirada de um dos personagens, a pedido) 

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