#CG122: Verdade ou mito? Entenda controvérsia sobre Campo Grande como ‘capital de Maracaju’
Estudiosos defendem que tudo não passou de um equívoco na história da Capital
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Campo Grande completa aniversário de 122 anos de fundação neste mês, mas as informações sobre sua história ainda são controversas. Uma delas aponta que Campo Grande teria sido capital do ‘Estado de Maracaju’ na década de 1930. O fato é que, sem documentos que comprovem que houve de fato um movimento divisionista que transformou a cidade na capital de Maracaju, a tese foi se espalhando e muitos acreditam ser verdade até hoje. Contudo, historiadores defendem que tudo não passa de um equívoco.
Basta dar um ‘Google’ na palavra-chave ‘Estado de Maracaju’, que há uma série de sites com artigos sobre o assunto. Na Wikipédia, por exemplo, a explicação é que o Estado de Maracaju foi uma criação revolucionária de um estado federativo brasileiro que existiu sem autorização da União, de 10 de julho a 2 de outubro de 1932.
Os discursos a respeito da criação de um novo Estado começaram a surgir na década de 1932, enquanto ocorria a Revolução Constitucionalista. O movimento era liderado por São Paulo, defendia uma nova Constituição e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Getúlio Vargas. Na época, cidades do Sul do até então Mato Grosso, como Campo Grande, Ponta Porã e Maracaju, por exemplo, aderem à Revolução, conforme explica a historiadora e diretora do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), Madalena Greco.
“O Vespasiano Martins, que era prefeito de Campo Grande, foi empossado governador do Mato Grosso. Então, ficaram governos paralelos, um em Mato Grosso e outro aqui, no sul”, explica a historiadora.
O governo de Vespasiano no sul do MT dura poucos meses e só dois anos depois da revolução é que começa a ser discutida a criação do Estado de Maracaju. Greco explana que a ideia é debatida com a criação da liga-sul-mato-grossense, que tinha ideais divisionistas, ou seja, de separar Mato Grosso da região sul.
“É um equívoco, Campo Grande nunca foi capital do ‘Estado de Maracaju’, nunca houve esse estado. O que havia era uma proposta para que se chamasse ‘Estado de Maracaju’ e que a capital fosse Campo Grande, mas isso nunca saiu do papel. Era um plano da liga, mas em nenhum momento da história houve um Estado de Maracaju”, reforça.
O historiador e professor universitário, Eronildo Barbosa, explica que tanto a história não é verdade, que na época em que esteve no poder, Vespasiano Martins quis dirigir o estado inteiro, não só a região sul. Apesar da Revolução Constitucionalista ter sido o embrião para a divisão do Estado, a ideia acabou não indo para frente.
“Você encontrava jovens, em 1934, impressionados com a ideia de emancipação, eles tentam colocar na Constituição de 1934, mas depois todos viram deputados, executivos e não fazem nada pela emancipação”, argumenta o historiador.
Barbosa ainda relata que a história sobre o chamado Estado de Maracaju acabou se tornando popular por conta de um historiador que já foi presidente do IHGMS. “Nunca houve. Não existe um documento dizendo que existiu um Estado de Maracaju (…). Ele era um homem com uma boa formação histórica, escreveu livros importantes para o Estado. Mas, por não ter formação de historiador e por ser uma pessoa de muita autoridade, as teorias dele passam a ser encaradas como verdade. Foi muito contestado por essa tese [do Estado de Maracaju], inclusive por companheiros com frases do próprio instituto histórico, mostrando que foi um erro”.
Confusão pode ter tido origem em loja maçônica
A história sobre Campo Grande ter sido capital de Maracaju pode ter surgido em uma loja. Segundo Barbosa, uma confusão de nomes pode ter contribuído para que muitos acreditassem na história de que Campo Grande foi capital de Maracaju.
“O comando do governo provisório, que chegou a ter um governo provisório, aconteceu aqui em Campo Grande. Aconteceu numa loja maçônica na avenida Calógeras, o nome da loja era Maracaju. A maioria dos revolucionários de 1932, se é que podemos usar essa expressão, eram de maçons ligados a essa loja. Como era loja Maracaju, isso pode ter aberto algum caminho para uma ou outra pessoa falar que houve um Estado de Maracaju, mas isso não está documentado”.
A historiadora Madalena Greco também reforça que o ‘Estado de Maracaju’ não passa de um mal-entendido. “Falam: ‘ah, mas nós poderíamos ter tido o ‘Estado de Maracaju’. Isso são interpretações da história que acabam passando, mas não condizem com a verdade. Aqui no Instituto Histórico temos toda a documentação do período do Vespasiano Barbosa”, garante.
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