Ainda apelidado por muitos de “Rita Poeira”, o Bairro Rita Vieira vem aos poucos conquistando o status de área nobre de Campo Grande, principalmente após os investimentos no tão sonhado asfalto para os moradores. A grande porção de terra que inicialmente se transformou em loteamento residencial após o filho da mulher que leva o nome do bairro, o fazendeiro Zacarias Vieira de Andrade deu espaço a pessoas, em substituição as suas vacas leiteiras, em meados do ano 1985. Segundo cronograma da Prefeitura Municipal de Campo Grande, as obras de asfalto e recapeamento começam neste mês de agosto.
Um dos moradores mais antigos do bairro, Vivaldino Ferreira Gonçalves, de 70 anos, quase não será encontrado se perguntarem por ele utilizando seu nome de registro. Ele é conhecido por todos como “sr Bardô” e pouco consegue explicar sobre sua história e de sua família sem dissociar da história do Rita Vieira. Morador do bairro São Lourenço, ele decidiu mudar para o então loteamento e comprou um dos poucos terrenos disponíveis ao se encantar pela natureza do lugar onde mora até hoje, ao redor da Rua Francisco de Souza.
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“Só tinha chácara por aqui, pouca gente e nenhum asfalto. Comprei um terreno e eu mesmo construí minha casa. Além de não ter pavimentação, não tinha nem a avenida Interlagos nem a Rita Vieira. Criei meus dois filhos aqui, e hoje eles permanecem no bairro”, relembra.
Ainda que esteja feliz e acredite na valorização que o asfalto pode trazer ao bairro, Bardô admite que ao precisar de um caixa eletrônico ou lotérica, ele e outros moradores ainda precisam se deslocar para os bairros vizinhos. “No dia que temos que pagar as contas, vamos no Itamaracá ou no Coopharádio porque banco ainda não tem por aqui”, lamenta. Acostumado a acompanhar o subir de tijolos ao seu redor, ele relembra com orgulho a construção de quatro residenciais, e a chegada do quinto.
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Junto ao Bardô, Sueli Pereira, de 54 anos, é uma das moradoras mais antigas. Ela lembra que, ao comprar sua residência na Rua Rio Bonito, há 35 anos, ainda estava grávida da primeira filha, hoje com 34. “Quando mudei para o bairro era como se fosse uma fazendona, tinha muito mato e pouquíssimas casas. Ainda existia a chácara do Sr. Zacarias, dono da antiga fazenda Rita Viera. Eu ia muito lá comprar leite para minha filha”, recorda.
Sueli viu o bairro crescer, ganhar comércios e obras como escolas, creches e condomínios. Ao longo desses anos, um marco de desenvolvimento foi a pavimentação da avenida hoje denominada Toros Puxian, em frente ao histórico Rádio Clube Campo. “Depois que abriu a avenida Rita Vieira que o bairro começou a se desenvolver. Na época que cheguei aqui com certeza tinham mais vacas soltas andando do que pessoas”, ironiza.
Proprietária de um bar próximo a sua residência, Sueli notou que a construção de casas – e consequente valorização dos imóveis – começou há cerca de 15 anos, e a vinda de mais comércios e empreendimentos há cinco. “Até agora ainda é meio devagar em relação a comércio, eu acho. Mas depois que asfaltaram as ruas em que passam as linhas de ônibus, os preços dos terrenos subiram. Na época que cheguei você encontrava terreno de R$ 2500”, afirma.
A desvalorização da região, ainda no final dos anos 1990, era devido à quantidade de assaltos e furtos em residências. Sueli, seu marido e as duas filhas – de 34 e 22 anos – viram muitos vizinhos se mudar devido à demora da chegada do asfalto, o que fez com que a poeira e terra entrassem para o interior das residências. “Acredito que depois que passar asfalto nas casas vai ser um dos melhores bairros de Campo Grande, é próximo do Centro e o corredor gastronômico da Bom Pastor valorizou bastante a região. Antes a gente contava nos dedos as casas que ainda não tinham entrado, porque eram distantes umas das outras e entravam para furtar”, relembra.

Antes moradora do Bairro Monte Líbano, a secretária Kel Ferraz, de 41 anos, mudou em 2008 para o Bairro Rita Vieira. Durante esses 13 anos, ela casou, teve um filho e trouxe a mãe para morar no bairro. Moradora da rua Roterdan, ela começou a ver a região se desenvolver a partir de 2018, com a instalação dos condomínios residenciais e lembra que a rua era uma das únicas que tinha asfalto, por ser linha de ônibus.
Kel também tem uma forte ligação com a Escola Municipal Professora Iracema Maria Vicente. Em 2008, ela havia acabado de ser aprovada no concurso da Prefeitura Municipal e acreditava que um dia iria trabalhar na escola que viu ser construída. “Quando fui chamada já estavam todas as vagas daqui preenchidas, e iriam me mandar para uma escola muito longe. Depois, fui remanejada para a Iracema porque a Semed (Secretaria Municipal de Educação) viu que eu iria trabalhar há duas quadras de casa, e até hoje estou lá”, lembra.
Memorável durante sua chegada ao Rita Vieira, Kel lembra o dia em que chegou a ver um cavalo passando em frente à grama da sua casa. “Eu assustei porque era uma coisa muito distante da realidade de área urbana. Acompanhei também a retirada dos trilhos e a construção da avenida Interlagos. Outra coisa que me marcou muito eram as enxurradas porque várias casas ficavam alagadas mesmo”.
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A secretária afirma que a conquista do asfalto é fruto da luta dos moradores, organizados na associação do bairro. Unidos, ela lembra que o pedido é feito há décadas, com a esperança de que o esperado progresso do Rita Vieira chegasse com o passar das máquinas.
Presidente da associação de moradores há três anos, Yara Freitas lembra que “a briga por asfalto” acontece há nove anos, e há cinco eles fizeram um abaixo assinado e entregaram na Prefeitura. “A partir daí começou todo processo de licitação do asfalto. Ainda precisamos de muitas coisas, como mais uma praça e um espaço para a sede da associação. Há previsão também de que o Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) seja revitalizado nos próximos meses”.
Vice-presidente da associação, Orlando Serrou Camy, de 55 anos, mora no Rita Vieira há cinco e percebeu que a expectativa de chegada da pavimentação fez com que surgissem novos comércios, que antes os moradores tinham que se dirigir a outros bairros para consumir. “Agora perto da minha casa tem hamburgueria, padaria, pizzaria, barbearia e houve investimentos em novos comércios. Embora o asfalto ainda não tenha iniciado, a rede de esgoto já está quase pronta”.
Orlando mora com a esposa, filha, genro e neto na rua Maria Justina de Souza, e já percebeu a presença das máquinas de pavimentação nas últimas semanas. Contrariando a maioria da opinião dos moradores, ele trata as famosas ‘enxurradas’ com saudosismo. “Apesar das ruas de terra serem ruins, deixará saudade a imagem das chuvas e as ruas parecendo córregos”, brinca.
Prestes a completar 67 anos, Teresa Longhini mora na mesma rua que Orlando e também já percebeu o aumento dos empreendimentos no ramo da alimentação, ao redor de sua casa. Contudo, ela comemora a chegada dos futuros vizinhos apenas com o anúncio de que um dia o tão sonhado asfalto chegará. “O único problema do bairro é a poeira, e quando chove o barro. Só com a divulgação que está começando o asfalto, nem terreno mais tem para vender. E quem tem não vende por enquanto”, aposta.
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Assim como Kel, Teresa ‘migrou’ para o bairro há sete anos. Antes era moradora do Monte Líbano e hoje garante que o sonho do asfalto já é realidade próxima. “Minha rua nunca teve asfalto, mas o sonho está sendo realizado. Fizemos várias reuniões aqui em casa pela associação de moradores. Hoje em dia tem até loja de roupas infantis, esmalteria e academias aqui por perto”, relembra.
Conhecido na região por ser “o construtor”, o engenheiro civil Rogério Luiz Wolf afirma que a demanda não acompanha mais a disponibilidade de terrenos para construção, após o anúncio do asfalto e rede de esgoto. “Aumentou bastante a procura de clientes interessados em morar no bairro, mas quase não tem mais terrenos para construir. Quem tinha, tirou o anúncio de venda para esperar passar o asfalto e vender por um preço melhor”, admite.
A reclamação de parte dos clientes era, disparadamente, a quantidade de poeira que a “terra de chão” faz nas residências. Segundo Luiz, os lotes do bairro costumam ser grandes, o que faz com que as construtoras dividam um terreno em várias casas. “Um terreno de 450 m², por exemplo, conseguimos fazer duas casas com três quartos. Em terreno de esquina fazemos até quatro casas”, afirma.
Conforme informações da Prefeitura Municipal, estão previstos, ao todo, 19 km de asfalto para o Rita Vieira, sendo 14,5 km de ruas que receberão a pavimentação e 4,5 km que serão recapeadas. As obras de drenagem começaram nesta sexta-feira (6), onde estão programados 510 metros de drenagem para captar a enxurrada que desce da parte alta do bairro, a partir da rua Ana Basília até a rua Assunção, por onde escoará pela drenagem já existente. A empresa responsável, a Equipe Engenharia, deve investir cerca de R$ 17 milhões, após vencer a licitação – publicada no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) desta sexta.
As ruas que já têm asfalto, mas serão recapeadas, incluem Assunção, Vera Cruz, Mariza Andrade Ribeiro, Rio Bonito, Garimpo e Avenida Paraisópolis.
Confira no mapa as ruas que devem receber asfalto a partir deste mês de agosto