#CG122 Café ‘Fecha Nunca’ e ‘Dancing Guarany’: a Rua Alegre que você não conhecia

Rua 7 de Setembro era conhecida pela alegria, festas, cabarés e onde também aconteciam assassinatos e brigas

Arquivo – 19/08/2021 – 12:03

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Cabarés, assassinatos, disputas, homens armados em bailes, pessoas assassinadas em meio a festas e corpos largados na calçada: o que parece ser enredo de filme norte-americano, com bangue-bangue e briga pela mocinha mais bonita da cidade, na realidade era o retrato da rua 7 de Setembro, conhecida, em meados de 1910, como a Rua Alegre.

A cidade que estava sendo construída, se desenvolvendo, com os primeiros habitantes que procuravam oportunidades, tinha seu ponto ‘nevral’, com agitação de uma vida boêmia, a rua 7 de Setembro ou Rua Alegre como você preferir. Lugar onde as ‘moças da vida’ viviam em cabarés, fazendo a alegria dos moradores, como também dos visitantes, que passavam por Campo Grande, em negociatas de gado.

Passando atualmente pela rua, que ostenta lanchonetes árabes e lojas tradicionais, nem dá para imaginar os relatos acima, feitos pelo historiador e escritor Paulo Coelho Machado. 

Prostituição

Muitas moçoilas despertaram paixões entre alguns, o que acabou em brigas e até assassinatos das próprias meretrizes, que esnobavam os cortejos. O mais famoso dos cabarés, que de dia era frequentado por famílias de ‘bem’ e à noite se transformava em ‘casa da luz vermelha’ — como se chamavam os prostíbulos antigamente — era conhecido como ‘Café Fecha Nunca’.

Famílias de ‘bem’ evitavam até passar pelo local, mantendo, assim, as suas filhas longe de más influências. Mas, as festas mais badaladas ocorriam nos salões da 7 de Setembro. Andar armado pela região era normal, já que, a qualquer momento, poderia ser desafiado a lutar e defender sua vida, em até mesmo uma disputa por lâmpadas acessas. 

Café fecha Nunca — O local era muito procurado por quem chegava à cidade e já queria saber onde estava o estabelecimento. Era o mais frequentado na época de glória. Mas, o local acabou fechado definitivamente na década de 50, onde voltou a funcionar um comércio regular.

Dancing Guarany — O salão também era um dos locais mais badalados da 7 de Setembro, que tinha um enorme salão onde eram feitas festas disputadíssimas. O cabaré ficava entre a Avenida Calógeras e a rua 14 de Julho. As polcas paraguaias eram as grandes atrações do local, que tinha vários quartos para os encontros. Muitos desses encontros acabaram em brigas, disputas e assassinatos.

Mas nem só de cabarés vivia a rua mais alegre de Campo Grande. Em 1913, um cinema que tinha até banda tocando nos intervalos das sessões foi inaugurado. Descrito como um cinema de ‘primeira ordem’, no local a sociedade campo-grandense ia para assistir a sessões disputadíssimas, por três vezes na semana.

Depois da década de 50, a alegria da rua 7 de Setembro estava com seus dias contados, já que foi feita uma campanha para que os cabarés e as moças da vida fossem expulsos do local. Os moradores da região achavam que, com o crescimento da cidade, o logradouro merecia mais do que ser conhecido como a rua do meretrício. 

Palco para muitas disputas amorosas entre clientes e suas concubinas ou entre os homens que queriam marcar território, mostrar quem tinha mais poder e quem era o mais temido, assim era a rua Alegre.

Hoje se transformou em parte do centro comercial da cidade, com concentrado de lojas de roupas a clínicas médicas, lanchonetes, nada do que possa lembrar o que um dia foi a 7 de Setembro.

A rua 7 de Setembro não é a única a contar histórias de quando a Cidade Morena estava em formação, mas deixo a sua curiosidade aflorar. Quem quiser saber mais, é só procurar as obras do Paulo Coelho Machado, escritor historiador, advogado e professor de Direito, que nasceu em Campo Grande, onde foi vereador.

Membro da Academia Sul-mato-grossense de Letras, em memória (faleceu em 26 de julho de 1999), ocupou a cadeira 21.  Foi secretário de Agricultura de Mato Grosso; presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul). Presidiu a Liga da Divisão do Estado. Escreveu “A Parceria Pecuária” (1972), “A Criminalidade em Mato Grosso”, “Processo e Julgamento de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1954), “Arlindo de Andrade, Primeiro Juiz de Direito de Campo Grande” (1988); e a série Pelas Ruas de Campo Grande — “A Rua Velha” (1990), “A Rua Barão” (1991), “A Rua Principal” (1991), “A Rua Alegre”, “A Grande Avenida”, 2000.

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