Após incêndio com morte em Campo Grande, dono doa produtos e chora: ‘era como um filho’
Atônito, dono da loja não deu entrevistas; hotel atingido por chamas está sem hóspedes
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A poucos passos de chegar na entrada da loja de tapeçaria que possui há cerca de 15 anos, o proprietário do comércio que pegou fogo na tarde desta terça-feira (23) não conseguiu ficar de frente com o prédio. Na lateral, no cruzamento das ruas Barão do Rio Branco com Alan Kardec, o empresário ajoelhou e não conteve as lágrimas. Poucos minutos após deixar o local, na manhã desta quinta-feira (24), pessoas que passavam pela pilha de tapetes deixada após a contenção de chamas, recolhiam algumas peças e colocavam em carros.
Muito abalado, o comerciante não falou com a imprensa e pediu para um amigo informar que não tinha condições de tentar entender o que aconteceu, “pois o funcionário era como um filho”. Lucas Correa Queiroz, de 21 anos, morreu carbonizado e o corpo foi encontrado após mais de seis horas de buscas pelo Corpo de Bombeiros.
Nas primeiras horas da manhã, pessoas em situação de rua que costumam ficar na região da antiga rodoviária já tinham revirado a pilha de tapeçarias na tentativa de achar ferro, cobre e outros materiais que podem ser revendidos.
Uma das mulheres que revirava os tecidos, e não será identificada, afirmou ter passado na casa de uma amiga e foi avisada de que o dono tinha autorizado recolherem os tapetes. “Dizem que já saiu muita coisa boa por aqui. O dono já falou ‘vamos jogar tudo fora, podem pegar’. Do jeito que está não tem como ele aproveitar”, justificou.
Ela ainda relata que muitas das pessoas ali são também funcionários e donos de tapeçarias ou lojas de tecido — assim como ela, que também é artesã —, e que o material, se limpo, pode ser reaproveitado. “Vou tirar uns dois rolos de cima e dá para usar em capa de banco, sofá, estojo. Eu queria levar um monte, se tivesse carro. Vai vir uma patrola, colocar no caminhão e jogar lá no lixão”, alega.
O hotel ao lado continua sem hóspedes pela manhã. Na recepção, a reportagem foi informada que o proprietário está em uma reunião sem hora para acabar. Segundo o delegado Guilherme Rocha, da Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro, o laudo pericial irá apontar se o prédio da tapeçaria ficou comprometido, além do hotel. Um relatório feito pelo Corpo de Bombeiros também ajudará nas investigações.
Guilherme disse que o corpo de Lucas Correa Queiroz, de 21 anos, encontrado no mezanino do prédio passou por perícia preliminar ainda no local, sendo liberado. O prédio passa por perícia nesta manhã de quarta-feira (24). O delegado não quis comentar sobre a possível ‘brincadeira’ que acabou causando o incêndio com morte.
Segundo o delegado tudo será investigado e o laudo deve ficar pronto em 10 dias. De acordo com o major dos Bombeiros, a tapeçaria não tinha certificado de vistoria, por isso foi notificada e multada. Ainda segundo os Bombeiros, se o local tivesse o certificado, teria facilitado a saída de Lucas. A tapeçaria só tinha uma entrada e saída.
O prejuízo estimado da tapeçaria é de cerca de R$ 2 milhões. A multa aplicada é de 200 Uferms, o que equivale a R$ 8.512.
O incêndio
O fogo na tapeçaria teve início por volta das 16h10 dessa terça (23), próximo à antiga rodoviária, no Cruzamento da Rua Barão do Rio Branco com a Rua Alan Kardec, no Centro de Campo Grande. Foram utilizados mais de 60 mil litros de água para controlar as chamas. Após mais de 6 horas de trabalhos, os bombeiros encontraram o corpo de Lucas já sem vida.
O corpo de Lucas foi encontrado por volta das 23 horas em um mezanino da tapeçaria. O fogo só foi controlado por volta das 20 horas de terça (23).
‘Brincadeira’ que terminou em morte
Informações da comunicação do Corpo de Bombeiros indicam que uma brincadeira com tinta spray e um isqueiro deu início ao fogo. Lucas, então teria sido atingido pelo fogo e logo depois entrou para o interior do prédio com o corpo em chamas. Depois disto, ele não foi mais visto.
Amigos de Lucas relataram que ele foi até o andar superior, onde há um mezanino. A maior dificuldade dos bombeiros durante o incêndio era o acesso à parte térrea para o combate, devido à grande quantidade de materiais inflamáveis. Todo o material foi retirado com uma retroescavadeira. Por causa deste incêndio de grandes proporções, muitos bombeiros que estavam de folga, foram ao local para ajudar.
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