“Cortar pescoços e jogar na rua”. Essa frase e outras envolvendo queimar professores e estupro de colegas foram ditas por um aluno de 15 anos, que compartilhou um áudio de cunho homicida em aplicativos de mensagem, em Coxim, assustando todos os envolvidos com a comunidade escolar. 

Dois dias depois, em Campo Grande, outro estudante levou o simulacro de uma arma para a escola e ameaçou os demais alunos dizendo que “precisava matar alguém”. Segundo nota divulgada pela EE Hércules Maymone, o adolescente em questão tinha “ideário suicida”. Felizmente, fora o pânico, nenhuma tragédia aconteceu nos dois casos citados. 

Porém, há sinais que os pais e responsáveis pelo menor de idade ou comunidade escolar podem notar em uma tentativa de evitar que casos como os dessa semana em se repitam e tenham um fim trágico. 

Conforme o psicólogo Paulo Freedman, existem algumas mudanças de comportamentos que são comuns dos adolescentes e totalmente normais, mas o que foge desse padrão deve ser olhado com atenção. “Preocupação com o corpo, necessidade de pertencer a um grupo que não a família; mais por identificação mesmo. O adolescente começa a ir atrás das suas próprias convicções e começa a rejeitar e abandonar os ideais dos pais que não foram internalizados”, explicou ele ao Jornal Midiamax

“São comportamentos que são esperados para um adolescente. O que foge disso tem que ser olhado de forma diferente. Na dúvida, dá uma atenção para isso, pode ser uma exceção, mas pode ser um sinal de que algo está errado”, continuou Freedman.

A falta de interação, introspecção e antissocialização do menor são fatos que precisam ser observados. “É um aspecto que vai bem contra o que se espera de um adolescente psiquicamente desenvolvido”, disse o psicólogo. 

Chamar atenção ou patologia?

Sobre os casos que aconteceram recentemente, Freedman pontuou que um dos fatores pode ser o já conhecido ato para chamar atenção. “Pela idade, pode ser um fator de atenção tanto da família quanto de pertencimento ao grupo, num sentido de ‘preciso fazer algo grande para me destacar e pertencer'”, comentou. 

Em contraponto, mais especificamente no caso do Hércules Maymone, o relato de que o aluno disse que ‘precisava matar alguém' e até os ideários suicidas citados pela nota, podem ser indícios de um caso mais complexo e patológico.

“[…] tem o relato de que ele precisava matar algumas pessoas, e que estava meio transtornado, pode ser um indício de esquizofrenia também. Partindo do pressuposto da esquizofrenia, complicações da e do parto podem contribuir [para a formação da doença], uso de drogas psicoativas, que alteram a mente, parentes de primeiro grau de um esquizofrênico têm mais chances de desenvolver a doença do que as pessoas em geral”, explicou à reportagem. 

No exemplo citado pelo psicólogo, a pressão alta, que aumenta o risco de pré-eclâmpsia, uso de substâncias psicoativas e tentativas de aborto durante a gestação são alguns dos fatores que podem levar ao desenvolvimento da esquizofrenia. Porém, Freedman ressalta que somente exames e testes podem diagnosticar alguma doença psicológica. 

Ações nas escolas

Além do papel dos responsáveis em prevenir e cuidar da saúde mental dos adolescentes, o ambiente e a comunidade na escola também podem ajudar a identificar e promover atendimento profissional no âmbito escolar.

“A comunidade escolar falar sobre saúde mental e psíquica ajuda, de forma que os estudantes possam tomar contato com essa realidade, porque, às vezes, uma psicopatologia soa muito distante da realidade, quando na verdade pode estar do seu lado”, comentou o psicólogo.  Além disso, uma política de conscientização antibullying também pode ajudar a evitar tragédias. 

Em Campo Grande, a (Secretaria Municipal de Educação) desenvolve o “Programa de Valorização da Vida”, que trabalha a prevenção de suicídio, automutilação, além de prestar atendimento em casos de abuso, depressão e outras doenças relacionadas aos alunos da Reme (Rede Municipal de Ensino). Para os servidores há formações e atendimentos individuais, conforme a necessidade, segundo informou a Semed. 

Procurada, a SED (Secretaria de Estado de Educação) não informou se mantém projetos ou programas para evitar a violência, bullying ou atendimentos psicológicos na REE (Rede Estadual de Ensino).