Acessibilidade: Pessoas com deficiência narram desafios para uso do SUS em Campo Grande
Já imaginou precisar de algum serviço de UBS (Unidade Básica de Saúde) e quase não conseguir entrar no local, porque não pensaram em você? Essa é uma das realidades que muitas PcDs (Pessoas com Deficiência) passam em Campo Grande. Além de calçadas esburacadas, muitas rampas de acesso não são apropriadas para eles. E quando conseguem […]
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Já imaginou precisar de algum serviço de UBS (Unidade Básica de Saúde) e quase não conseguir entrar no local, porque não pensaram em você? Essa é uma das realidades que muitas PcDs (Pessoas com Deficiência) passam em Campo Grande.
Além de calçadas esburacadas, muitas rampas de acesso não são apropriadas para eles. E quando conseguem entrar no local, ainda passam dificuldade para falar com atendentes devido à altura dos balcões e até para irem ao banheiro.
Este é o caso do estudante de psicologia, Luís Vinícius Quintana, que aos 18 anos já possui uma série de vivências desagradáveis por Campo Grande. Luís é cadeirante e se mudou para a Capital em busca de tratamento. Usuário do SUS, ele comenta que a maior dificuldade que encontra é nos sanitários das unidades de Saúde.
“A maior dificuldade que já encontrei foi para usar os banheiros, pois nem sempre são adaptados, então a gente tem que se virar”, destaca. Além disto, o estudante lembra dos desafios de circular dentro das unidades. “Na parte interna às vezes falta um pouco de espaço para transitar com a cadeira”.
Situação comum
Para a presidente da Amdefms (Associação de Mulheres com Deficiência em Mato Grosso do Sul), Mirella Ballatore, a situação é a mesma. Mirella também faz uso de cadeiras de rodas e apesar de utilizar pouco o SUS, já se deparou com dificuldades nas unidades de Campo Grande.
“O CEM (Centro Especializado Municipal) é um dos locais mais inacessíveis, pois os balcões de atendimentos são um dos mais altos que já presenciei”, lembra. Além disto, por ser presidente da associação, recebe relatos de outras mulheres.
“Tivemos um caso de uma mãe cadeirante grávida que estava participando do planejamento familiar, mas o acesso ao local era totalmente inacessível”, conta Mirella. Ela destacou que outras formas de acessibilidade também são negligenciadas, como piso tátil para pessoas cegas e falta de intérprete de Libras para pessoas surdas.
Unidades antigas
De acordo com a Prefeitura de Campo Grande, existem 109 unidades de Saúde, entre unidades básicas, de urgência e emergência, saúde mental, odontológicas e da rede especializada. Ao Jornal Midiamax, a gestão admitiu que “grande maioria destas unidades possuem mais de 20 anos de construção e não possuem acessibilidade em seu projeto de execução”.
Para adequação, a Prefeitura já realizou reformas e intervenções em 29 UBS nos últimos quatro anos. Foram executadas “rampas, corrimões e banheiros adaptados para cadeirantes. Além disso, nove unidades novas foram entregues neste período, todas já com projetos de acessibilidade incluídos”. Vale lembrar que outras 62 unidades de Saúde da Capital ainda não possuem acessibilidade garantida para PcD.
As USF (Unidade de Saúde Familiar) Azaléia, Marabá, Três Barras, Rochedinho e Anhanduí devem receber adequações para acessibilidade de mobilidade no primeiro semestre de 2021. O secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, destacou que “são unidades mais antigas, que foram inauguradas em um período onde não havia tanta preocupação em evitar escadas e colocar apoios para pessoas com dificuldades motoras, como idosos e pessoas com deficiência”.
Falta de acessibilidade em todo lugar
Assim como qualquer outra pessoa, PcDs possuem uma vida, que inclui: assuntos urgentes, trabalho, estudo e lazer. Em 2021 era esperado que a acessibilidade fosse realidade na sociedade. No entanto, a vivência para Luís e Mirella não é mesma que de outros campo-grandenses.
“No centro da cidade, as calçadas costumam ser estreitas e esburacadas, as lojas e restaurantes também são apertados”, relata Luís. Com isso, o estudante enfrenta outros perigos em uma simples caminhada, como o trânsito e até mesmo cair da cadeira de rodas. “Fico bem exposto em algumas situações, principalmente quando preciso andar pela rua, pois, a calçada está sem condições de andar”.
Para Mirella, a situação é precária em ambientes públicos e privados. “As rampas são mal feitas e sem segurança, ausência de rampas, degraus na maioria do comércio em geral, sem acessibilidade às pessoas cegas e surdas”, detalha.
Inclusão ou ilusão?
No Brasil, apenas em 2000 foi criada uma lei especialmente para inclusão da acessibilidade no país. A Lei nº 10.098 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das PcD ou pessoas com mobilidade reduzida.
A legislação federal garante que espaços de uso público devem ser planejados ou adaptados para que promovam o uso de todas as pessoas, inclusive PcDs. Mesmo respaldada por lei, Mirella se sente abandonada pela sociedade. “Quando me deparo com essa realidade cotidiana, me sinto excluída, sinto como se meu dinheiro valesse menos”.
Luís, que enfrenta a mesma realidade, comenta que fica indignado. “Me sinto excluído também, pois isso limita muito nossas interações, mostra que esses lugares não foram feitos pensando na gente, nunca são”.
Por fim, o estudante destaca que é preciso repensar as formas de adaptar os locais. Para ele, não basta apenas reformar o ambiente, é necessário ouvir as pessoas relacionadas. “Deviam ouvir pessoas com deficiência, saber exatamente quais são as nossas demandas”.
Serviço
Em Campo Grande e outras capitais do país existe um sistema de denúncias para situações de falta de acessibilidade. Ligando para o 156 o cidadão poderá relatar o local e a situação que foi flagrada.
Além disto, é possível entrar em contato com repórteres do Jornal Midiamax. Basta enviar o relato para o WhatsApp no número (67) 99207-4330.
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