Uma indígena da Aldeia Jaguapiru, diagnosticada com o novo coronavírus, o Covid-19 , teve que ser levada as pressas para o Hospital da Missão Caiua, em Dourados, pelo cacique Ezael Morales. O caso aconteceu na tarde desta quarta-feira (3).
Segundo Morales, a medida foi necessária porque o Corpo de Bombeiros e o Samu se recusaram a entrar na aldeia, alegando falta de equipamentos e também de preparo. Indignado, o cacique gravou um vídeo e postou nas redes sociais denunciando o descaso com a população no Estado.
O cacique fez desabafo pedindo a intermediação do procurador do MPF-MS ( Ministério Público Federal de Mato Grosso do Sul) em Dourados, Marco Antonio Delfino de Almeida em relação às dificuldades que estão sendo enfrentadas nas comunidades indígenas localizadas na cidade. “Não somos animais”, reclamou o cacique nas imagens.
Surto nas aldeias de MS
Dourados assumiu nesta terça-feira (2) a liderança em total de casos de coronavírus em Mato Grosso do Sul. O município registrou, desde o início da pandemia, 339 infectados com o causador da Covid-19, dos quais 19 pacientes, ou 5,6% do total, têm menos de 12 anos. O dado ainda mostra que a pandemia se instalou na cidade entre as camadas mais humildes da população, já que 12 dessas crianças vivem na Reserva Indígena –conhecida pela falta de infraestrutura e a situação de carência em que vivem grande parte de seus moradores.
O volume de crianças que contraíram o vírus em Dourados representa, sozinho, 25% do total em Mato Grosso do Sul. Quando esse recorte é feito para a área das aldeias Jaguapiru e Bororó, aponta-se que a reserva guarda dentro de seus limites 16% das crianças infectadas pelo coronavírus em todo o Estado –praticamente 1 em cada 6.
Os dados são resultado do cruzamento dos microdados do boletim divulgado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) na manhã desta terça com informações apuradas pelo Jornal Midiamax junto ao DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) de Dourados. O documento traz informações sobre o município de moradia, idade e possíveis comorbidades de cada pessoa que teve a infecção pelo coronavírus confirmada.
Os dados da SES, no entanto, podem já estar defasados: a DSEI já contabiliza nesta terça-feira 74 indígenas portadores da Covid-19 em Dourados, sendo que o Estado apontava 62 em seus levantamentos. Quanto a crianças com menos de 12 anos, são 14 nos dados do Distrito Sanitário –a reportagem considera os dados tabulados pela Secretaria de Estado de Saúde para permitir a comparação com o restante do Estado.
Infectologista da SES e do HUGD (Hospital Universitário da Grande Dourados), Andyane Tetila acompanha a situação do coronavírus na Reserva Indígena. Segundo ela, a alta prevalência de crianças entre os infectados na comunidade, que soma cerca de 15 mil habitantes, deve-se “às particularidades do estilo de vida dos indígenas, somada à vulnerabilidade pela baixa renda e as condições locais”.
Além da infraestrutura local ser considerada precária e do fato de a grande maioria dos moradores ser de baixa renda, a médica lembra que “os moradores da reserva vivem em casas pequenas, em famílias com cerca de 10 pessoas. Vivem com os avós, a cunhada, tias, o marido e a mulher e as crianças. A constituição familiar é grande e geralmente conta com crianças pequenas convivendo com adultos”.