Com cartazes, protestantes pedem fim da violência à população negra em frente ao Carrefour de , da mesma rede onde um cliente negro foi espancado até a morte por seguranças, incluindo um policial militar, na noite desta quinta-feira (19). O ato também foi motivado pelo Dia da Consciência Negra, comemorado nesta sexta-feira.

A presidente do TEZ (Grupo de Trabalho e Estudo Zumbi de Mato Grosso do Sul), Bartolina Ramalho Catanante, de 58 anos, organizou o movimento. Segundo ela, a violência contra pessoas negras está enraizada, e neste período, só é escancarada quando é filmada.

“É uma violência que estamos há mais de 500 anos sofrendo e sofre ainda. Não dá mais para aceitar esse tipo de coisa, isso é importante, não ape nas em 2020. Muitos negros estão morrendo pela cor da pele, pois é um estrutural, aprendemos que o homem negro é suspeito, onde primeiro bate ou mata, pra depois pegar o RG (Registro Geral)”, lamenta.

O principal pedido do movimento, após o pronunciamento vice-presidente Hamilton Mourão que declarou não existir racismo no Brasil, é criação de políticas públicas eficazes e servidores capacitados.

“Às vésperas do Dia da Consciência Negra ouvimos que não há racismo no Brasil. Nesse dia, temos que comemorar todas as conquistas da população negra, e quando isso acontece é de se indignar. Precisamos de pessoas capacitadas e quando tem, ficam fora do cargo”.

Romilda Pizani, de 47 anos, coordenadora Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de MS, explica que as redes sociais ajudado a dissipar a barbaridade sofrida por negros. “Nós temos políticas fragilizadas, em pleno século 21. A violência faz parte da vivência da população negra, o que aconteceu foi que o fato foi filmado”, disse.

Dor diária

Everson Pires, 32 anos, também é integrante do grupo TEZ, e compareceu ao protesto pela causa. Ele conta que a cor sempre influencia na rotina. Os olhares preconceituosos o acompanham desde sempre.

Supermercado de Campo Grande é alvo de protestos após morte de cliente no RS
Everson já foi vítima de racismo. (Foto: de França)

“Se eu entro de mochila, as pessoas ficam atentas, com olhar de apreensão. A polícia sempre confunde com alguém. Sempre tem que provar quem você é. ‘Negrinho do pastoreio', ‘Cirilo' ou ‘fumacinha', são apelidos que se você permitir, te bloqueiam. Isso é falta de amor. Estou aqui com meu povo preto, pela vida e pela resistência”, ressalta.

João Alberto Silveira Freitas, foi espancado até a morte, por dois homens que trabalhavam na segurança do supermercado, enquanto saia da unidade, em Porto Alegre.

O Carrefour informou, em nota, que lamenta o caso e que está adotando medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos no crime brutal. O contrato com a empresa de segurança foi rompido e o funcionário desligado da empresa. A loja não funcionou hoje por respeito à família da vítima, e estão fornecendo suporte necessário.

“Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente. Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais”, explica o comunicado.