Entre os 71 mortos por coronavírus em Mato Grosso do Sul está Atanásio Cabreira, de 67 anos. Ele estava internado no Hospital Evangélico e passa a ser a segunda vítima da doença na Reserva Indígena de Dourados em apenas oito dias.
Atanásio morava na aldeia Jaguapiru, onde já exerceu o lugar de capitão e era da etnia Terena. O filho Edson Cabreira contou ao Jornal Midiamax que ele estava internado há 21 e que inicialmente ele estava sentindo muitas dores na região da barriga e em seguida foram feitos alguns exames, entre eles o de coronavírus, que deu positivo.
“Ele era tudo pra mim. Sempre foi um pai exemplar e era uma pessoa importante não só para a família como também para a comunidade, quando foi líder da Aldeia Jaguapiru na década de 90 por quatro anos. Era uma pessoa que pensava no coletivo e tinha uma grande preocupação com as causas indígenas”, conta Edson.
O filho também revela que mesmo depois de entregar o cargo de capitão, ele continuou trabalhando para a comunidade, quando se converteu para religião evangélica e se tornou pastor da Igreja Pentecostal Tenda dos Milagres. “Era uma pessoa muita querida pelos moradores da Aldeia Jaguapiru”, relata Edson apontado o dedo para as pessoas que ficaram às margens da estrada que passa frente ao pequeno cemitério.
Ao contrário do que aconteceu no sepultamento de Evaristo Garcete, dessa vez a cova foi feita por um amigo da família. “Cada sepultamento indígena tem um jeito de acontecer que é mais ou menos parecido. O que a gente estranha são todas essas recomendações em virtude dele ter morrido por Covid. Mas a gente respeita porque pelo que estou vendo nesses meus cinquenta anos de vida é que esse vírus é muito perigoso e não respeita ninguém”.
Cânticos de despedida
“Eis aqui um servo do Senhor que cumpriu muito bem a sua missão e agora retorna aos seus braços”, disse um pastor da Tenda dos Milagres e rápidas palavras de conforto à família, enquanto alguns amigos e fiéis mantinham uma certa distância, do lado de fora do cemitério, e entoavam cânticos de despedidas.
Logo depois do sepultamento, um indígena se aproxima da reportagem e diz: “Eu conhecia muito bem ele. Era como se fosse um pai para mim. Estou muito triste hoje porque infelizmente perdemos mais um dos nossos. É mais uma liderança que parte e deixa a gente mais fraco”, comenta Orozino Ribeiro, de 41 anos, morador da aldeia.
Sem conseguiu disfarçar as lágrimas Orozino exalta a memória do amigo que partiu. “Essa morte é uma grande perda para a nossa comunidade. Nasci aqui e cresci acompanhando os bons exemplos que ele deixou para nós. Para quem soube guardar, serão de grande valia”, conta o indígena.