O caso de desvio de R$ 50,8 milhões de uma empresa de agronegócios em e que envolve duas mulheres que se identificam como mães de santo atuantes em São Paulo, colocou  as religiões afro descendente no centro dos debates e pode chegar ao MPF (Ministério Público Federal).

“Mais uma vez estão querendo colocar as religiões de origem africana no banco de réus com esse desvio milionário. É preciso deixar claro que esses atos isolados não podem ser generalizados e não representam uma prática comum entre os povos de terreiros da nossa cidade”, afirma Lucimar de Souza Arguelho, presidente do Comafro (Conselho Municipal de Desenvolvimento dos Direitos Afro Brasileiro).

Segundo Lucimar, que também é conhecida como Luhara, o Comafre tem organizado discussões virtuais nos últimos dia e programou uma reunião para tratar do assunto. “Vamos conversar sobre o caso porque ele nos diz respeito e coloca em cheque valores ancestrais do nosso povo. Muita gente não sabe separar uma coisa da outra”, diz Luhara, como é conhecida.

Ao ressaltar a defesa do sincretismo religioso existente na afro, Lucimar também aproveita para fazer um alerta. “Tem pessoas que acabam usurpando elemento ritualísticos das religiões afro para conseguir benefícios próprios. Em alguns casos, elas usam isso como ferramentas de persuasão, com ameaças, como se fosse um culto do mal. A origem dessas religiões é o bem”,  afirma a presidente do Comafro.

O pensamento de Luhara é compartilhado por Darlei Rodrigues dos Santos, o Pai Darlei. “Nossa religião muitas vezes tem sido associada à atividades lícitas. Mas esses atos são de pessoas mal intencionadas, como é o caso dessas mulheres que se identificaram como mães de santo e incentivaram a prática do golpe. Não quero jugar ninguém, mas elas são criminosas”, pondera.

Segundo Pai Darlei, entre as pessoas que praticam a religião afro de raiz, não existe tabela de cobrança de preços. “Antes de procura um terreiro de umbanda ou qualquer outra religião, as pessoas precisam saber a história de cada pessoa. Não dá pra ir acreditando no primeiro charlatão que aparece”, orienta o religioso, ressaltando que no caso dele, quando a pessoa oferece dinheiro, ele pede incenso ou vela.

“Não existe cobrança de valores aqui no nosso terreiro. Eu sobrevivo do meu que é duro, até porque trabalho literalmente em uma pedreira. Pratico a religião para fazer caridade, aconselhar as pessoas para seguirem o caminho do bem. O resto é charlatanismo”, conta Pai Darlei, que dirige o terreiro Casa da Cultura Umbanda Filho de Ogum, que fica no Jóquei Clube. Nesses tempos de pandemia, segundo ele, o local está fechado para atendimento ao público.

'Querem religiões afro no banco dos réus', rebate movimento sobre desvio de R$ 50,8 milhões em MS
Altar do terreiro de Pai Darlei, em Dourados. (Arquivo pessoal)

Levantamentos feitos pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento dos Direitos Afro Brasileiro apontam que somente em Dourados existem mais de 130 terreiros. “Não temos o mapeamento de todos. Pode ser até que existam mais terreiros que trabalham com a difusão da cultura afro, mas nem todos ainda estão cadastrados”, conclui Luhara.