Parte da dinâmica natural dos ambientes, a ocorrência de erosão é uma realidade em propriedades rurais que historicamente utilizou-se de meios como corte raso ou seletivo de espécies da vegetação, queimadas, implantação de agricultura e pecuária, e onde não há preocupação com uso de técnicas de conservação do solo e da água.

Essa realidade nada incomum causam problemáticas ao e ao produtor rural. Diante dessa realidade, o professor de Geografia do campus de (Cpaq) Vicente Rocha Silva coordena a pesquisa “Monitoramento de processos erosivos em voçoroca na bacia do Córrego João Dias, localizada na área rural do município de Aquidauana – MS”.

“A ideia é monitorar o processo de evolução da voçoroca em área de uso da terra atual de pastagens, baseado em observações e medições do avanço da feição erosiva acelerada. E assim, propor medidas de controle do processo erosivo a nível local de propriedade rural, objetivando a recuperação do ambiente degradado e a restauração de um uso racional, de acordo com a fragilidade ambiental do ambiente antropizado”, explica.

Na região de clima quente e úmido, a precipitação do tipo chuva é considerada como o mais importante agente no processo de erosão hídrica, segundo Vicente, e na paisagem, um dos principais agentes indutores dos processos erosivos está ligada ao uso da terra.

“A degradação dos solos devido ao mau uso da terra provoca erosão de partículas dos solos (argila, silte e areia) que entram em movimento e são transportadas pelo escoamento superficial em direção as áreas de menor declividade, geralmente até os canais fluviais. Esse processo acelerado de erosão em forma de sulcos, ravinas e voçoroca causa vários dados ambientais, nos ambientes aquáticos, podendo alterar as condições naturais da biota, afetando a disponibilidade de recursos aos seres vivos nos ambientes lóticos e lênticos”, expõe.

O assoreamento dos canais fluviais é outro problema da erosão nas bacias hidrográficas, aponta o pesquisador, o que favorece a ocorrência de episódios de inundações, principalmente em áreas urbanas. Outra situação é a destruição da vegetação ripária, que em condições naturais funciona com um anteparo e filtro a chegada de sedimentos e protege às margens quanto ao processo de erosão.

Prejuízos

e exploração das terras para a agricultura e pecuária provocam alterações no meio físico-biótico, gerando desequilíbrios na paisagem, assim como a utilização das terras sem levar em conta as características e especificidades dos componentes do meio físico e meio biótico também leva à degradação ambiental.

“A área de estudo é formada basicamente por fragmentos de cerrados (reserva legal) e outra parte da vegetação natural foi convertida para pastagens plantadas. Em geral, não são adotadas na propriedade rural as técnicas de conservação de solos e da água como, por exemplo, a construção de curvas de nível, a preservação das áreas de APP ao longo de trecho do Córrego João Dias, no município de Aquidauana”, diz o professor.

Dessa forma, explica os solos arenosos, sem a cobertura da vegetação natural, ficam desprotegidos em relação à chuva, concentrada principalmente no verão, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

Vários estudos apontam que as pastagens (degradadas) são as principais indutoras do aumento da atividade erosivas, por meio dos processos de formação dos sulcos, ravinas e voçorocas, segundo Vicente, sendo que a maioria dos pesquisadores define a voçoroca por possuir largura e profundidade superior a 50 centímetros.

Na área da pesquisa, o gado bovino utiliza o Córrego João Dias na dessedentação (para aliviar a sede), já que a propriedade faz limite na margem direita do canal fluvial.

“O comportamento típico dos bovinos de caminhar em direção à fonte de água gera compactação dos solos e a formação de sulcos e ravinas, influenciado pela declividade em direção ao canal fluvial. A água da chuva ao atingir o solo é absorvida até um limite. Quando o volume da precipitação for superior à capacidade de infiltração, inicia-se o escoamento superficial”, aponta o pesquisador.

A evolução temporal do processo acelerado de erosão pode levar a formação das voçorocas. “Nesse estágio avançado de erosão induzido pelas atividades humanas, provoca grande prejuízos no ambiente, com a degradação dos solos, o assoreamento dos canais fluviais, deixando-os mais rasos e mais susceptíveis à ocorrência de inundações em áreas rurais e urbanas”.

Os prejuízos são muitos a contabilizar em uma situação e erosão acelerada nas propriedades rurais, desde desvalorização das terras, além do risco, no caso da existência de voçoroca, de acidentes com o gado.

“Também ocorre a diminuição da área de pastagem pela erosão acelerada. A atividade erosiva tende a aumentar a sua área no tempo e no espaço das pastagens. Há uma diminuição na produtividade na atividade pecuária extensiva”, completa o professor.

Preservação

Planejamento ambiental, com realização de diagnósticos do meio físico-biótico é a melhor forma de evitar as voçorocas.

“Para o homem do campo, o solo é um dos maiores patrimônios, assim como a vegetação e a água. A utilização das terras deve ser de acordo com a sua vocação e aptidão, sempre levando em consideração as potencialidades e fragilidades ambientais. É comum no Brasil, a falta de cuidado na exploração da terra”, afirma Vicente.

Aspectos do interior da voçoroca.

Para a redução e o controle da degradação ambiental das terras na utilização em agricultura e na pecuária bovina é fundamental a adoção de técnicas de conservação do solo e da água nas propriedades rurais.

A manutenção da Reserva Legal da vegetação natural em área do domínio de Cerrados e de áreas de preservação permanente (APP) está prevista na legislação ambiental em vigor no país. A vegetação da área de APP, no limite da fazenda, está reduzida e degradada, pois as pastagens invadem as áreas destinadas à preservação permanente, segundo o pesquisador.

Dessa forma, o estudo comandado pelo professor Vicente será importante na compreensão do funcionamento da paisagem nessa área do domínio de Cerrado.

“Na área da bacia hidrográfica do Córrego João Dias espera-se que a instalação e o monitoramento da feição erosiva permitam a geração de dados da evolução do processo, devido às atividades humanas. Serão experimentadas formas de controle à erosão dentro da voçoroca, por meio de procedimentos e técnicas de contenção, com materiais alternativos como, por exemplo, a utilização de barreira com bambu no interior da voçoroca, bem como, outros materiais disponíveis, que servirão de barreira ao avanço da feição erosiva”, diz.

Também serão enviadas propostas ao proprietário rural com ações que visem cessar e/ou atenuar, em conjunto com medidas em torno da voçoroca, para alcançar a recuperação ambiental da propriedade e uso racional da terra, de acordo com as limitações e as potencialidades do ambiente antropizado.

O estudo servirá ainda de aula de campo da disciplina de geomorfologia, hidrologia e de planejamento e gestão ambiental no curso de geografia do Cpaq e irá gerar condições da elaboração de trabalhos que deverão ser apresentados em eventos e enviados para a publicação em periódicos.

Participam da pesquisa os do Cpaq Jaime Ferreira da Silva, Nelson Marisco, Valter Guimarães, o professor do Campus de Três Lagoas Vitor Bacani. São colaboradores do estudo: Felipe Silgueiros Sanches Navarro (professor e mestre em geografia) colabora em trabalhos de campo e monitoramento da voçoroca. Thales Pinto Paschoal (graduado em Geografia pelo Cpaq) auxilia no monitoramento da voçoroca. (Informações da UFMS)