Aparecido José Brandão, de 48 anos, primeiro paciente com coronavírus em Corumbá, cidade distante 444 quilômetros de Campo Grande, pode deixar o neste sábado (11).  Ele apresentou os primeiros sintomas no dia 28 de março, procurou ajuda médica no dia 3 de abril, foi diagnosticado e internado. A Secretaria Municipal de Saúde informou que possivelmente foi contaminado após contato com viajante de Fortaleza.

O médico e diretor técnico da Santa Casa, Manoel João de Oliveira, informou ao site local Diário Corumbaense que o paciente, que é serralheiro, reagiu muito bem ao tratamento, deixou o CTI e se encontra em um quarto isolado do hospital.

“Ele deixou o CTI após um quadro de melhora e evolução. Ao ser transferido, até pediu para consertar algumas cadeiras do hospital, para poder passar o tempo. Claro que, mesmo assim, ele segue em isolamento e recebe todo os procedimentos adequados de atendimento por parte da nossa equipe médica”, disse Manoel João.

O diretor técnico contou que a resposta positiva ao tratamento se deve ao uso do coquetel com os medicamentos e azitromicina. Os medicamentos ainda estão em fase de testes no país para tratamento da doença, mas podem ser usados em casos que o médico achar necessário e com autorização do paciente.

“Quando ele chegou, na sexta-feira (03), apresentava bastante cansaço, estava dependendo de oxigênio. Ele evoluiu bem nesses primeiros momentos e, com o consentimento dele, entramos com o tratamento com os medicamentos, mesmo ainda não tendo o diagnóstico positivo para a doença, que foi confirmado quatro dias depois por exames. Porém, pelo fato de o paciente apresentar o quadro clínico para a doença e até mesmo depois de uma tomografia, que apontava para o uso dos medicamentos, iniciamos o tratamento e ele pouco a pouco foi respondendo positivamente, apresentando um quadro significativo de melhora”, disse Manoel João, ressaltando que se aguardasse o resultado do exame sair para iniciar o tratamento, talvez a doença teria evoluído e o paciente poderia estar respirando por aparelho.

“Ele não precisou ser entubado, pois reagiu bem ao tratamento e em 24h, após a chegada dele, foi possível perceber um quadro de melhora”, completou o médico. Com a alta do hospital, o paciente ainda deve ficar em isolamento domiciliar. “Saindo do hospital, ele vai ter acompanhamento da equipe de e deve ficar em isolamento por mais alguns dias”, ressaltou Manoel João.

O diretor técnico da Santa Casa enalteceu o trabalho e desempenho da equipe médica que, com todos os cuidados, realizou os procedimentos necessários junto ao paciente.Ele também reforçou que toda a estrutura preparada na Santa Casa de , foi essencial, na reversão do quadro clínico do serralheiro, já que mesmo antes de a cidade registrar caso suspeito, o hospital foi preparado com leitos e equipamentos para atender eventuais pacientes diagnosticados com a doença.

“Houve um ‘casamento' entre todos esses fatores, que contribuiu para que o paciente pudesse apresentar um quadro de melhora rápida. Ressalto a importância da equipe que nós temos aqui, tanto de médicos como de enfermagem, que são treinados e estamos intensificando ainda mais esse treinamento a partir de semana que vem, para que a gente tenha condições de atender pacientes que cheguem nessas situações e também tenhamos a segurança necessária para não contaminar a equipe”, completou Manoel João.

“Nasci de novo”

Bastante emocionado, Aparecido Brandão, disse em entrevista por telefone ao site que a sensação é de ter renascido. “Me sinto vitorioso. Por ironia do destino fui pego por essa doença que é uma das coisas mais terríveis que passei em minha vida e não desejo que ninguém enfrente essa situação. Sinto que nasci de novo”, falou.

‘Nasci de novo', diz paciente com coronavírus que teve melhora e deixou o CTI em MS
(Foto: Diário Corumbaense)

Ele ainda revelou que não sabe exatamente como contraiu a doença, porém, suspeita que tenha sido após contato com duas pessoas, uma de Fortaleza. “Exatamente eu não sei como contraí a doença, mas suponho que fui contaminado dentro do meu local de trabalho, que é uma serralheria, onde duas pessoas passaram alguns dias lá fazendo trabalho, e uma dessas pessoas era de Fortaleza”, contou Brandão relatando ainda que ao contrair a covid-19, os primeiros sintomas foram terríveis.

“Eu senti muita dor no corpo, dor nos olhos, dor de cabeça, parecia que a cabeça ia partir ao meio. Senti muita falta de ar, foi tudo de pior nessa vida. Mas graças a Deus, quando procurei atendimento, a equipe médica agiu rápido. Me levaram para o CTI e, com o meu consentimento, fizeram o uso da medicação que deu resultado positivo. Agradeço muito mesmo o empenho desses profissionais maravilhosos, preparados e humanos”, disse o paciente ainda frisando: “Tive muito medo, mas me agarrei em minha fé, me lembro que abaixei a cabeça, mesmo com dores, e disse que estava nas mãos do Pai. Se já era confiante em Deus, a partir de agora, sou muito mais nessa nova vida que vou ter”, afirmou.

Entre as primeiras coisas que quer fazer ao sair do hospital e terminar o isolamento domiciliar, é rever a família. “Quero poder abraçar meus pais, falar direito com meus filhos, um mora em Campo Grande e outro em Uberlândia (MG), poder falar com a minha esposa que está em isolamento e mora no sítio, no assentamento Tamarineiro; minhas tias, como a Amélia Brandão, que sempre esteve me acompanhando por telefone, enfim, voltar a viver, pois ninguém merece ficar isolado, sem nada. Aqui, para passar o tempo, pedi e fui liberado para consertar algumas cadeiras do hospital”, finalizou.