Máscaras de pano são ‘último recurso’ contra o coronavírus na Saúde, diz estudo feito em MS
A pandemia de coronavírus (Covid-19) fez surgir uma demanda, até então, pouco comum entre os brasileiros: a de máscaras cirúrgicas, usadas em boca e nariz na esperança de se tentar evitar o contágio pela doença. Com a falta do produto –algo registrado em todo o mundo–, inclusive para profissionais de Medicina, surgiu, como alternativa, o […]
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A pandemia de coronavírus (Covid-19) fez surgir uma demanda, até então, pouco comum entre os brasileiros: a de máscaras cirúrgicas, usadas em boca e nariz na esperança de se tentar evitar o contágio pela doença. Com a falta do produto –algo registrado em todo o mundo–, inclusive para profissionais de Medicina, surgiu, como alternativa, o uso de máscaras de pano, que geraram dúvidas se realmente geram algum tipo de proteção.
A medida chegou a ganhar defesa pública do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em apelo à população em geral para que não comprasse as máscaras cirúrgicas ou outras focadas em profissionais do setor –como a N95– a fim de evitar desabastecimento em hospitais.
Revisão rápida realizado pelo NEV-MS (Núcleo de Evidência de Mato Grosso do Sul), vinculado à Faculdade de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), com base em uma série de artigos e estudos já divulgados sobre o tema, consideram que as máscaras de pano devem ser consideradas apenas um “último recurso” contra o coronavírus na rede hospitalar, já que não existem evidências de que elas promovam a vedação e o filtro necessários para evitar a contaminação.
Isso não quer dizer que as máscaras de pano devam ser abandonadas. Conforme o estudo do NEV, elas ainda são capazes de gerar alguma proteção, sobretudo para impedir que portadores da Covid-19 espalhem a doença para os profissionais de Saúde –principalmente ao se considerar que muitas pessoas têm o vírus, mas não demonstram sintomas.
O NEV-MS analisou cerca de 50 referências em bases de dados por meio de pesquisadores independentes, sendo realizada triagem e análise dos conteúdos. A intenção foi identificar, em textos da plataforma Pubmed em 19 de março, a possibilidade de se avaliar apenas o uso das máscaras de pano, sem o uso combinado de outros protetores individuais, como os faciais.
“As evidências científicas disponíveis não demonstram desempenho comparável quanto a substituição das máscaras de tecido por máscaras registradas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] por profissionais de saúde. Não há evidências de que elas promovam a vedação e o filtro necessário para impedir contaminação por vírus. Portanto, devem ser utilizadas somente como último recurso disponível”, sentencia o estudo.
Características
O estudo reforça a escassez de EPIs (equipamentos de proteção individual) no mercado durante a pandemia, que levanta a possibilidade de uso de máscaras de pano. Contudo, também reforça que a Anvisa prevê especificações para as máscaras cirúrgicas que não são viáveis para a versão artesanal: tripla camada, eficiência mínima de filtragem de 98,5%, gramatura de 60 gr/mt² (gramas por metro quadrado), ajustes para nariz e vedação, tecido antialérgico e atóxico.
Outra questão é que, se a intenção é utilizar um produto que não seja descartável, a máscara deve ter se algodão para resistir a processos de esterilização em autoclaves a vapor –sendo submetidas a temperatura de 121 ºC por 30 minutos ou 134 ºC a 25 minutos, excluído tempo de exaustão e secagem, que pode chegar a 1 hora e meia.
“Antes de esterilizar, a máscara deve ser lavada com água e sabão e seca para autoclavar”, adverte o estudo.
Formato
Embora não tenham o “padrão da Anvisa” –que não prevê regulação para a fabricação desse insumo, feito em geral de forma artesanal–, há alguns pontos que devem ser observados ao se optar pela máscara de pano. O tecido deve ser resistente para esterilização, sendo preferencialmente de 100% de algodão (como a tricoline).
Quanto ao design, deve cobrir totalmente nariz, boca e mento (partes média e inferior da face, abaixo do lábio inferior), ficando próxima ao trago da orelha (o lóbulo à frente do canal auditivo) para melhor vedação da face. Também deve haver ajuste no dorso do nariz para permitir uma distância “segura e confortável” entre ela e as narinas. Além, é claro, de usar tecido em tamanho que permita a costura.
No ambiente hospitalar, a máscara não deve ser usada mais do que 4 horas.
Possibilidade
Apesar de todas as características que depõe contra a máscara de pano, o NEV-MS ainda a considera como “último recurso” na proteção contra o coronavírus por frear gotículas (expelidas ao falar ou respirar) de pessoas infectadas para os profissionais de saúde. Estudos conduzidos até aqui mostram que as máscaras cirúrgicas têm eficiência três vezes maior no bloqueio de transmissão que as máscaras de pano.
“Porém, ambas as máscaras reduzem significativamente o número de micro-organismos expelidos pelos indivíduos”, pontua o estudo, reiterando não ser possível presumir que máscaras faciais de baixo custo permitam reduções significativas na exposição, principalmente se o usuário fizer escolhas pessoais que não ajudem na autoproteção –como higienizar as mãos ou evitar a exposição.
“Apesar de não ser uma proteção 100% eficaz, [a máscara de pano] ainda apresenta algum nível de proteção em especial aos profissionais de saúde que estão em condições altamente vulneráveis”, pontua o NEV.
O uso também deve contar com algumas precauções: não tocar na máscara sem higienizar mãos, evitar o uso se a máscara tiver furos ou rasgos, usar sempre do lado correto, troca a cada 4 horas ou quando ficar úmida, retirá-la evitando tocá-la no rosto e roupas para evitar contaminações, e higienização das mãos após a remoção e descarte.
O relatório foi elaborado por Ana Tereza Gomes Guerrero, doutora em Farmacologia pela USP e integrante da Fiocruz-MS, e Lívia Fernandes Probst, doutora em Odontologia pela Unicamp e integrante da UFMS; sob concepção e revisão de Sandra Maria do Valle Leone de Oliveira, doutora em Doenças Infecciosas pela UFMS; e avaliação externa de Antonio José Grande (doutor em Medicina Interna e Terapêutica da Unifesp) e Jorge Otávio Maia Barreto, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.
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