Mandetta vê exagero em ‘lockdown’ contra coronavírus, mas pede que ações dos Estados sejam seguidas

Em uma nova roupagem da apresentação das ações do Governo Federal de enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixou um pouco de lado o protagonismo das ações a fim de fugir do tensionamento recente entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, repetiu o argumento de que há “exagero” no […]

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Em uma nova roupagem da apresentação das ações do Governo Federal de enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deixou um pouco de lado o protagonismo das ações a fim de fugir do tensionamento recente entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, repetiu o argumento de que há “exagero” no lockdown (fechamento de comércios decretado nas cidades), mas recomendou que se sigam as orientações dadas pelos Estados até aqui –que vão pela redução da circulação de pessoas a fim de suprimir a circulação viral.

Havia grande expectativa em relação à coletiva de Mandetta nesta segunda-feira (30). Isso porque, no sábado (28), reunião do staff presidencial foi marcada por confronto de ideias entre o ministro e o presidente: o primeiro reiterou que poderia chamar a atenção de Bolsonaro sobre suas posturas e declarações contrárias à gravidade da pandemia de coronavírus, e este reforçou que, caso fosse confrontado, poderia demitir Mandetta.

No domingo, porém, Bolsonaro saiu em visita a pequenos comerciantes do Distrito Federal e chegou a anunciar a intenção de abrandar, por decreto, as medidas de fechamento dos comércios.

Chefe da Casa Civil da Presidência da República, o ministro Walter Braga Netto, que abriu e conduziu parte da coletiva pluriministerial, disse que “não existe essa ideia. Está fora de cogitação, no momento”. Mandetta, por sua vez, lembrou que “em política, quando se fala que não existe, existe”.

“Claro que existem situações em que se aponta um caminho e podem ter dificuldade. O importante é o espírito de todos e tentar ajudar”, disse o ministro da Saúde. Segundo ele, há um “espírito coletivo” de todos no Governo para ajudar. O esforço pela “unicidade”, prosseguiu ele, passou por essa nova forma de divulgar informações sobre o coronavírus –as notícias, até então, eram centralizadas pelo Ministério da Saúde, fato que teria desagradado o presidente.

Mandetta, porém, minimizou a questão. “Tensões são normais pelo tamanho da crise. E isso [confronto com o presidente] não é crise. Seria muito pequeno da minha parte achar que isso é um grande problema, que este é o meu grande problema”, prosseguiu, descartando “perder o foco” de “um vírus corona novo que derrubou o sistema mundial, e é mais dramático que guerras mundiais, mais dramático que qualquer ciosa anterior”.

Ele lembrou que o problema vai além da Saúde, expandindo-se para a economia, políticas sociais e logística e reiterou que, nesse tipo de debate, “enquanto não tiver uma resposta mais cientificamente comprovada, a saúde vai falar: ‘para e vamos evitar o contágio’”. Ele reiterou declarações anteriores de que ficaria no cargo enquanto o presidente o julgar necessário.

Orientações

Durante a explanação inicial, Mandetta reforçou para que sejam mantidas “as recomendações dos Estados, porque essa é, no momento, a medida mais recomendável que temos”. O ministro reforçou manter contato diário com os secretários estaduais de Saúde para traçarem estratégias de ação de forma a evitar que o impacto do cenário atual prejudique a sociedade.

Segundo ele, há muitas fragilidades no momento decorrente da falta de equipamentos e insumos que, agora, devem começar a ser amenizados. “A China abriu suas vendas e saídas de material em 12 dias. Agora competimos [em compras] com Estados Unidos, Europa, com o mundo inteiro, já que lá se concentram mais de 94% dos insumos”.

Além de Braga Neto, que sustentou que a União vai recorrer de decisões da Justiça Federal suspendendo a abertura de casas lotéricas e igrejas por serem esses estabelecimentos essenciais para a população de baixa renda, outros ministros fizeram exposições sobre as ações de suas pastas.

Mandetta, último a se pronunciar, argumentou que o novo modelo de exposição das informações, adotado cerca de 60 dias depois do início dos boletins, é resultado de a situação “extrapolar muito o tamanho do Ministério da Saúde” e exigir ações de outras pastas. Ele garantiu, porém, que sua pasta defenderá sempre os posicionamentos científicos e técnicos sobre a questão do coronavírus.

“O máximo que puder fazer para preservar vidas”, afirmou, apontando, depois, o certo “exagero” em ações de fechamento da atividade econômica. “Parece que é consenso entre todos que o lockdown da sociedade agora não é o que a gente está precisando, porque vai ter muito problema na frente. Temos de moderar como nos movimentar, ativar partes importantes da economia para não ter uma segunda onda maior que a primeira. É consenso entre todos aqui na mesa”.

Efeito manada

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Perante ministros, Mandetta disse que ações de Bolsonaro não são sua “maior preocupação”. (Foto: TV Brasil/Reprodução)

Segundo o ministro da Saúde, é necessário se manter “o máximo grau de distanciamento social para que possa, nas regras dos Estados, dar tempo para o sistema se consolidar na expansão [do sistema de atendimento]”. Ele fez menção aos hospitais de campanha e aparelhamentos regionais para receber pacientes de coronavírus, inclusive com o fornecimento de equipamentos pelo Governo Federal.

“Tudo exige que não se fala movimento descoordenado e em manada, senão teremos dois problemas ao mesmo tempo: um de doença e um no aprofundamento da crise econômica”, sentenciou.

Apesar desses posicionamentos, ele lembrou que muitos países precisaram ampliar o período de quarentena, citando nominalmente os Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump expandiu da Páscoa a até 30 de abril as políticas de isolamento –exemplo usado para dizer que todos os países que se comprometeram com um prazo para retomada das atividades precisaram estender as datas.

Para Mandetta, a “parada” da economia brasileira mostrará seus frutos a partir da próxima quinzena –já que o ciclo de aparecimento de sintomas do novo coronavírus é de 14 dias depois do contágio. “Parar no pico do morro, como a Itália fez, no seu auge [de casos], ou como a Espanha fez, fará a epidemia seguir o curso”.

Ele complementou dizendo que o Brasil cuidará da situação levando em consideração suas peculiaridades, como existência de favelas, alta índice de população carente, ausência de saneamento básico e administrando os conflitos sociais, incluindo os decorrentes do alto número de informais na economia e que dependem de alimentação. “Por isso que o assunto é maior que o Ministério da Saúde e o presidente chamou a todos”.

Mandetta ainda respondeu a jornalista dizendo que o cidadão, o máximo que puder, não deve expor seu núcleo familiar. “Deixar criança com idoso é muito complicado. A criança é assintomática, ela contamina e ele vai para o hospital, onde precisa de CTI. Se todos forem ao mesmo tempo não vai ter [vaga]. Está faltando máscara e o cara com apendicite, que teve infarto, vai precisar também”, destacou, frisando que a letalidade é do sistema de saúde como um todo.

A coletiva foi encerrada quando o ministro foi questionado se a saída de Bolsonaro no domingo seria aceitável na atual situação.

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