Jovem que faz festa para comemorar o recebimento do auxílio emergencial do Governo Federal e influenciador digital investigado por falsidade ideológica após se cadastrar no programa são exemplos do método de triagem e distribuição do auxílio emergencial de R$ 600, que vem se mostrando desigual pelo Brasil afora e não é diferente em Campo Grande. A reportagem do Jornal Midiamax esteve em duas regiões periféricas da Capital e conversou com alguns campo-grandenses que vivem o drama diário pela falta de emprego e também do auxílio, que ainda não chegou.

Favelas de Campo Grande vivem avalanche de desemprego e ainda esperam por auxílio de R$ 600
Marcos Antônio Garlindo com documento que recebeu no banco, indicando o status de análise do auxílio. (Foto: Ranziel Oliveira/Midiamax)

Entre eles está Marcos Antônio Garlindo de 55 anos, um morador da favela do linhão que até o dia da nossa visita na sexta-feira (22), não havia conseguido receber o auxílio emergencial, previsto para esse mês.

Marcos trabalhava como pedreiro meses antes da pandemia começar. No dia 8 de outubro do ano passado sofreu um acidente de moto quando voltava do trabalho. A motorista fugiu sem prestar socorro. No acidente, o joelho e fêmur foram quebrados e ele lida, desde então, com uma invalidez que carregará para o resto da vida. Mesmo com essa situação irreversível, ele ainda não conseguiu se aposentar.

Mesmo impossibilitado de trabalhar, ele não recebeu o auxílio emergencial, já foi três vezes ao banco e segundo ele, a resposta é sempre a mesma. “Eles pedem o CPF, mandam esperar e depois falam que está em análise”. Morando com a esposa duas filhas e sete netos, Marcos vive de doações e enxerga no auxílio de R$ 600, uma saída para um momento tão complicado.

Gás deu lugar à lenha

Em outro extremo da cidade na Invasão da Homex, moradores também relatam a falta de sorte para receber o dinheiro. Angélica Teixeira de 20 anos é auxiliar de limpeza e passa uma dificuldade constante para sustentar seu filho de 5 anos e sua mãe de 42.

Favelas de Campo Grande vivem avalanche de desemprego e ainda esperam por auxílio de R$ 600
Angélica Teixeira acendendo o fogão a lenha (Foto: Ranziel Oliveira/Midiamax)

Segundo ela, já fez duas tentativas no aplicativo Caixa Tem. O primeiro resultado deu como não aprovado. Na sua segunda tentativa, a resposta era a mesma que vários campo-grandenses reclamaram nas filas da caixa. “O aplicativo fica só em análise”, relatou para a reportagem no sábado (23).

Ela conta que não chega a faltar comida em casa porque fiéis da igreja ajudam com doações, mas ela deixa claro o sentimento de frustração por não receber. “É ruim, gente que não precisa está recebendo, e quem precisa não”.

O auxílio iria ajudá-la a sustentar a casa e comprar o gás que estava faltando. Como solução, ela utiliza um fogão a lenha na parte externa da casa, que alaga toda vez que chove.

Sem saúde, sem emprego

A poucas quadras de lá mora Osmar Martins, de 25 anos. Dias antes do começo da quarentena, ele buscou por um médico após sentir fortes dores na barriga enquanto trabalhava. Sem condições de continuar pelo seu quadro clínico, Osmar foi dispensado do trabalho.

Favelas de Campo Grande vivem avalanche de desemprego e ainda esperam por auxílio de R$ 600
Osmar Martins procurando os documentos de demissão (Foto: Ranziel Oliveira/Midiamax)

Segundo ele, a perícia para comprovar afastamento do trabalho deveria ter sido feita no mês de março, mas com a quarenta o serviço foi interrompido. Desde então, ele não consegue comprovar que está desempregado para receber o benefício, e nem dar entrada no Loas, benefício assistencial federal. “No aplicativo diz que estou trabalhando registrado, mas fui demitido há semanas”, disse ele.

Há dois meses sem renda fixa, Osmar se vira como pode para sustentar a mulher e o filho de 1 ano, fazendo bicos de pedreiro e lidando com a dor constantemente.

O que diz a Caixa

Em nota,  a CAIXA informa que está realizando a maior operação de pagamento da história do Brasil e já disponibilizou o Auxílio Emergencial do Governo Federal para mais de 31 milhões de brasileiros. Em uma semana, o banco registrou mais de 27 milhões de transações no CAIXA Tem, entre consultas e movimentações  financeiras.

“Quem está acessando o CAIXA Tem, em geral, nunca teve conta em banco ou acesso a serviços financeiros. A CAIXA está fazendo a maior operação de bancarização da história do Brasil em meio a uma pandemia e é natural que tenhamos uma curva de aprendizagem”, disse o VP de Tecnologia da CAIXA, Claudio Salituro.