De ‘crime’ a se evitar prorrogar problemas de 2020, manutenção do Enem divide opiniões

Portarias baixadas nesta quarta-feira (22) pelo Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) garantiram a gratuidade na inscrição no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aos estudantes que dela são beneficiários e adiaram para 22 e 29 de novembro a aplicação das provas digitais –que poderão ser realizadas em mais cidades. Já as […]

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Portarias baixadas nesta quarta-feira (22) pelo Inep (Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) garantiram a gratuidade na inscrição no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aos estudantes que dela são beneficiários e adiaram para 22 e 29 de novembro a aplicação das provas digitais –que poderão ser realizadas em mais cidades. Já as avaliações impressas seguem marcadas para os dias 1º e 8 de novembro, dividindo opiniões entre estudantes e educadores sobre a possibilidade de serem adiadas.

Entre professores e diretores, há o reconhecimento de que o ano letivo está prejudicado mesmo com a adoção de práticas como o EaD (Ensino à Distância) para manter as atividades presenciais, suspensas por conta da pandemia de coronavírus (Covid-19). A preocupação, porém, é a de levar para 2021 os problemas burocráticos causados pela doença neste ano.

Victória Burema Costa, 16 anos, entrou em 2020 concentrada em conquistar uma vaga no curso de Ciências Sociais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). A preocupação envolvia “apenas” fatores como a preparação e a concorrência. Contudo, a suspensão das aulas presenciais na Escola Estadual Lúcia Martins Coelho criou um obstáculo a mais na preparação.

“Tudo estava encaminhado, tinha uma grade de estudo dentro da escola, que bagunçou. Ficou difícil conseguir estudar”, disse ela que, embora conte com as aulas na modalidade EaD (Ensino à Distância), mantida pela Rede Estadual de Ensino, envolve um sistema diferente. “Tudo foi muito súbito, por isso tem uma dificuldade de aprendizado”. A estudante considera que seria mais apropriado adiar o Enem, “porque os alunos não estão tendo preparação adequada para uma prova de nível tão grande que pode definir o futuro deles”.

Entre o ‘crime’ e se levar problemas para 2021

Professor de Língua Portuguesa na E. E. Maria Constança de Barros Machado, Adalberto Souza Nunes vê o EaD como benéfico para o aluno, “mas a escola não é só prática à distância: é convívio social. É o olhar do professor, da escola, dos coordenadores”. Ele também lembra que muitos alunos na rede pública não têm acesso ao ambiente virtual –embora escolas estejam imprimindo o conteúdo e entregando aos pais nesses casos, há o acompanhamento e explicações online– e destacou que outro papel dos educadores é fazer o aluno “se animar, fazer a prova e conquistar o seu objetivo”.

Tais motivos levam Adalberto a defender que o Inep tenha “uma sensibilidade muito grande com os alunos” manter as datas. “É um crime não adiar”.

Jacqueline Oliveira de Lira é professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação também no Maria Constança. Ela também vê prejuízos com a rápida migração das aulas para o ambiente virtual, incluindo aí a disciplina dos próprios estudantes em dedicarem por si o tempo aos estudos. Especificamente na Redação –uma das provas do Enem e na qual a escola em que leciona sempre obteve bons resultados–, ela vê dificuldades em passar conteúdo sem as aulas presenciais.

Apesar disso, Jacqueline pondera que o adiamento do Enem cria uma “situação complexa”. “Do lado do aluno é injusto, sobretudo o da escola pública, que o Enem não seja adiado e o calendário não seja prorrogado. Mas para o Inep e as Secretarias de Educação em geral, prorrogar o exame gera prejuízos para o ano que vem. É preciso chegar a um meio termo em 2020”, afirmou.

Segundo ela, adiamentos neste ano vão repercutir no calendário de 2021, tanto de divulgação das notas como para início das matrículas e das aulas. “Sou a favor de que seja ajustado o calendário para não postergar problemas. Se 2020 está sendo problemático, que tentemos resolver em 2020”.

Especializado

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Site do Cursinho da UFMS oferece opções de aulas online. (Imagem: Reprodução)

A internet também foi a saída para que cursinhos focados no Enem não paralisassem seu conteúdo. Nesta quarta-feira, por exemplo, o que é oferecido pela UFMS agendou aula online de Química, a ser ministrada pelo coordenador do cursinho, o professor Antônio Borges Pereira.

Ele explica que a unidade segue as determinações da UFMS em relação à pandemia de coronavírus: dispensa de todos os alunos e adoção do EaD que, apesar de implementado de forma rápida, atraiu menos estudantes do que as aulas presenciais. “Quando se tem alunos que preferem as aulas presenciais, ao mudar para o EaD há uma pequena baixa”, reconheceu.

A previsão da UFMS é de retomar as atividades presenciais em 11 de maio. Dali em diante, espera-se “levar algo mais ‘agressivo’ até o final do ano, sem férias ou algo do tipo, para recuperar o conteúdo”, afirma o coordenador. Já a possibilidade de adiamento do Enem é vista com ressalvas por Antônio, outro partidário da tese que não se pode levar as demandas deste ano para 2021.

“Pode-se adiar alguns dias, talvez um mês, mas isso vai postergar um problema que está acontecendo para o ano seguinte. Se você tem problema com conteúdo, lembre-se que alunos de todo o Brasil também o têm na mesma proporção”, opinou. A solução, para ele, é ter o mês de dezembro como um limite para quaisquer adiamentos.

No campus da UFMS em Naviraí, o cursinho estava preparado para iniciar as aulas em 23 de março. Com as ações contra o coronavírus, os cerca de 60 alunos já matriculados aguardam a retomada das aulas, não havendo meios de se implementar o EaD. “Como perdemos um bom tempo, vamos concentrar nas aulas presenciais os temas que mais caem [no Enem], com uma filtragem, de forma concentrada intensiva”, explicou o professor Victor Sordi, coordenador do cursinho na cidade.

Ele também considera um prejuízo maior para alunos da rede pública até mesmo para obterem acesso às informações do Enem. Contudo, é mais um a avaliar que a transferência de datas pode gerar outros prejuízos. “Não tem outra saída que não seja ter o Enem neste ano, mesmo que com baixa adesão se comparado aos anos anteriores”, previu.

Datas

Portarias publicadas no Diário Oficial da União nesta quarta-feira (clique aqui e aqui) preveem as novas datas para as provas virtuais, que no Estado serão aplicadas em Campo Grande (para 1,8 mil candidatos) e Dourados (200).

bem como o cronograma de atividades. A justificativa de ausência na prova de 2019 e isenção na de 2020 deveriam ser apresentadas até 17 de abril, com resultado a ser publicado nesta sexta-feira (24), sendo aberto prazo para recurso. As inscrições vão de 11 a 22 de maio, com a taxa de inscrição podendo ser paga até o dia 28 do próximo mês.

Os editais confirmam a concessão de gratuidade da taxa de inscrição àqueles que se enquadrarem nos perfis especificados, mesmo sem pedido formal, estendida ainda para isentos em 2019 que faltaram aos dois dias da prova e não tenham justificado.

A isenção é garantida ao participante que esteja no último ano do Ensino Médio em 2020 em escola pública; tenha renda igual ou menor a um salário mínimo e cursou o Ensino Médio em escola pública ou como bolsista integral na rede privada; ou renda familiar per capita de até meio salário mínimo ou renda familiar mensal de até três (neste caso, deve ser informado o NIS, o Número de Inscrição Social).

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