Com ‘propaganda’ da cloroquina, técnico diz que automedicação é mais perigosa que o coronavírus
Em meio à busca de um medicamento que ajude no enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), a divulgação sobre o sucesso relativo de algumas alternativas causou corrida às drogarias em buscas desses remédios. Um exemplo foi a cloroquina ou a hidroxicloroquina, exaltada pelos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump (EUA) e que, em alguns casos, tornou-se […]
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Em meio à busca de um medicamento que ajude no enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19), a divulgação sobre o sucesso relativo de algumas alternativas causou corrida às drogarias em buscas desses remédios. Um exemplo foi a cloroquina ou a hidroxicloroquina, exaltada pelos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump (EUA) e que, em alguns casos, tornou-se item desejado nas “farmacinhas” domésticas. Porém, o medicamento esconde alguns riscos que podem ser até piores que o coronavírus.
O alerta partiu de Adam Adami, gerente técnico de Medicamentos da Vigilância Sanitária de Mato Grosso do Sul. Durante live na manhã deste domingo (5), na qual foi apresentado balanço recente sobre os casos de coronavírus no Estado, ele lembrou que o país vive um momento de três epidemias simultâneas –Covid-19, dengue e Influenza–, sendo que, em todos os casos, a automedicação é um problema. Principalmente diante do fato de não se saber se, “no início dos sinais dos sintomas comuns às três doenças, como dor e febre, a população pode fazer uso indiscriminado e abusivo de analgésicos e antitérmicos”.
Adami lembrou que o paracetamol, usado para conter alguns dos sintomas da gripe ou mesmo da dengue, é tóxico para o fígado quando administrado em grandes quantidades. “E em relação ao coronavírus, não há medicamento específico até o momento. O que existem são exames preliminares muito promissores, mas com resultado in vitro que mostram algum benefício”, pontuou.
Cloroquina
Especificamente sobre a cloroquina, o gerente técnico lembrou que sociedades médicas, o Conselho Regional de Medicina e a própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) alertam não haver comprovação científica sobre o uso do medicamento na infecção recente. O aviso se tornou necessário depois de uma “busca desenfreada”, como definiu Adami, pelo medicamento e suas variantes.
“E ela [cloroquina] não tem qualquer efeito profilático, ela não vai imunizar o paciente. Pelo contrário”, advertiu. Segundo ele, os estudos conduzidos com o medicamento em países como EUA, China e França indicaram reduções na presença do vírus em secreções respiratórias, “mas não foi conclusivo e não demonstrou redução da mortalidade ou das complicações”.
A orientação do Ministério da Saúde, prosseguiu ele, envolve o uso da cloroquina em ambiente hospitalar, com pacientes internados e nos casos mais graves da Covid-19, no qual o doente será alvo de constante monitoramento para verificar, também, os efeitos colaterais do remédio em seu organismo.
“É importante que se tenha ciência disso: [a cloroquina] pode causar mais efeitos colaterais, mais perigosos e nocivos que o coronavírus”, alertou Adami. Entre eles, ele citou cegueira, retinopatia, anemia e redução das plaquetas no sangue –além de náusea e vômitos. “Aí é colocar a vida das pessoas em risco com o uso indiscriminado, sem indicação médica”, pontuou.
Problemas o fígado e até mesmo cardíacos, como arritmia, também são relatados, o que justifica o uso da medicação apenas mediante monitoramento e segundo protocolos. “Não façam automedicação, não adquiram a hidroxicloroquina porque ela depende de indicação precisa e os estudos são muitos recentes. Vai haver mais risco usando medicamentos do que pela infecção do coronavírus”, complementou Adami.
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