O Cimi (Conselho Missionário Indigenista) repudiou a postagem feita por uma academia na semana passada em , maior cidade de MS que enfrenta surto de coronavírus, com 3.834 casos confirmados da doença e 51 óbitos já registrados , entre eles, um morador da Aldeia Bororó e outro da Aldeia Jaguapiru.

O material divulgado nas páginas da empresa gerou polêmica e foi usado para questionar decreto municipal que determinava o fechamento das academias de ginástica, bares e conveniências.

“Lamentamos o uso indiscriminado da figura para atribuir privilégio dos quais nunca tiveram, repudiamos a desinformação de pessoas que utilizam dos povos indígenas para disseminar preconceito e desinformação” disse o assessor jurídico do Cimi Regional Mato Grosso do Sul, Anderson Souza Santos.

Segundo Anderson, alguns setores da sociedade ainda ignoram a realidade indígena no país, onde milhares de pessoas da reserva de Dourados sobrevivem coletando latinha no lixo e pedindo alimentos. “Como poderia esse povo ter condições financeiras para seguir todas as regras emitidas pela prefeitura da cidade, pelo governo do estado ou pela OMS?”, questiona.

“Por isso, digo mais uma vez, é lamentável que em nosso país ainda tenhamos cidadãos que associem a figura indígena a um privilégio que seria `não seguir as regras' e desconhecem a vulnerabilidade a qual eles estão acometidos, pois eles não têm privilégios, mas sim, não têm condições nem auxílio para sua proteção”, comenta o representante do Cimi.

O material, que circulou no Instagram da  empresa e estampava a seguinte legenda: “As academias são lugares de proliferação do Covid e precisam estar fechadas para que as pessoas fiquem com suas imunidades bem baixas, porém essas pessoas podem andar de bando sem máscara e se eu não me engano a aldeia estava cheia de Covid”, dizia a postagem.

Repercussão

Entre os comentários da postagem, que foi deletada pela academia, está a de um internauta que afirma “Bom pra saber onde nunca gastar tempo e dinheiro!”. Nos comentários outros usuários de redes sociais não pouparam críticas contra a atitude considerada um ato de discriminação contra os moradores da Reserva Indígena de Dourados.

Antes de excluir a publicação a academia afirmou  que a publicação não teve teor preconceituoso.  “Sua interpretação está equivocada. Denunciei que a aldeia tem vários casos de Covid e o governo não cuida dos indígenas, e tampa buraco fechando academias como se estivesse cuidando. Não vi onde foi falado mal de índios”, disse a postagem da empresa.

Na avaliação do professor da   (Universidade Federal da Grande Dourados), Neymar Machado de Souza, o olhar usado pela academia está distorcido. “Considerar que a disseminação da na cidade resulta da circulação indígena  é um equívoco. Na verdade os fatos mostraram que a circulação dos indígenas em ambientes de trabalho na cidade é que os contaminou”, uma vez que o primeiro caso de coronavírus  na Reserva surgiu a partir de contágio em um frigorífico de Dourados.

Outro aspecto analisado pelo pesquisador da UFGD está também na premissa de que não é somente indígena que não usa máscara. “Por quê escolher uma família indígena que vem a cidade atrás de sua sobrevivência, uma família simples que passa necessidade, e colocá-la em exposição desta forma?”, questiona Neymar.

O professor também ressalta que é preciso levar em conta que a imagem mostra uma mãe, de bicicleta, com uma criança na garupa, roupa rasgada, chinelo de dado. “O que esta família necessidade de fato de nós? creio que não seria acusação e preconceito. Talvez nem tenham máscara para usar. É no mínimo uma falta de empatia”, pondera.