Desde o início do mês de março, muitos campo-grandenses viram seus sonhos e projetos serem interrompidos, no campo profissional ou familiar, o coronavírus mudo o curso da vida de cada um de nós. Entretanto, alguns enxergaram nessa triste realidade um oportunidade de crescimento, mesmo com todas as adversidades, houve um reencontro com as salas de aula, do cursinho a faculdade à distância.

“Professor é uma profissão de estudo eterno”, assim disse a professora de Pedagogia, pôs-graduada em docência para o ensino superior e apaixonada pela educação, Marilene Freitas, de 54 anos, que viu na uma oportunidade de se dedicar mais aos estudos. Ela sempre teve vontade de fazer uma segunda em Letras, para contribuir mais com a educação. Devido ao fato de dar em aula em três períodos, e todo o trabalho que precisava levar para casa, era impossível conciliar tudo isso com uma nova faculdade.

Em meados de janeiro, com um período livre em sua carga horária, a professora decidiu retomar o seu sonho,  iniciando o curso de Letras por EAD (Ensino a Distância). Por ironia do destino, o começo das aulas coincidiu com o início da pandemia, possibilitando uma maior dedicação aos estudos. “O fato de estar em casa ajuda, a pandemia me ajudou a focar, tenho mais disponibilidade e mais tempo para me dedicar. Posso pensar com calma, procurar maneiras para melhorar o meu trabalho e legal ter esse tempo para ter novas ideias”.

#CG121: Em tempo de 'reconfigurar' sonhos, campo-grandenses focam nos estudos
(Professora Marilene Freitas Silveira e equipe de trabalho/Foto: Arquivo pessoal)

Quando questionada sobre a origem de tanta motivação, a professora que dá aula desde o início dos anos 90 ressaltou o amor que sente pela profissão. “Quando estava de férias não via a hora de voltar. Ainda quero contribuir muito na educação, ser professora  é ajudar muita gente, são vidas que podem ser mudadas. Estou estudando mais, porque acredito na mudança do ser humano por meio da educação”, finalizou.

Foco no objetivo

Interromper a graduação também foi uma das consequências para diversos estudantes,  no caso do biomédico Willian Roberto, de 36 anos, o sonho de se formar em Medicina teve de ser adiado outra vez. De acordo com o ex-acadêmico, quando a pandemia tomou forma na América do Sul ele cursava o quarto ano de Medicina em Cidade do Leste, no Paraguai. Naquele momento, o país fechava as fronteiras, o que representou uma barreira para Willian, que resolveu voltar para .

O biomédico sempre teve vontade de cursar Medicina, pelo fato de gostar da área da saúde, mas sempre tinha algo que o fazia adiar o sonho, como a situação financeira, trabalho ou  família.

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(Willian Roberto estudando por EAD/Foto: Arquivo pessoal)

Sua última nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não permitiu que ele fosse aprovado no processo para o curso de Medicina de uma universidade local. Contudo, mesmo com o objetivo adiada mais uma vez, ele viu na pandemia uma chance de se preparar para o processo seletivo de 2021, se matriculando em um cursinho pré-.

“Como eu já ia fazer o Enem, resolvi fazer um cursinho pré-vestibular ead, para melhorar minha nota, tentar o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) no ano que vem, ou quem sabe uma federal ou estadual”.

Nova missão

Em alguns casos, a pandemia fez com que profissionais saíssem da sua zona de conforto de uma vez por todas. Foi assim com Wellington Natan, de 28 anos,  professor de Educação física e pós-graduado em educação especial. Por conta do Covid-19, muitos postos de trabalho da área foram fechados, como academias, estúdios e escolas particulares.

Diante dessa situação, o professor sentiu a necessidade de aprimorar seus conhecimentos. Além de estudar os segmentos da sua área, almejando uma vaga no mestrado, ele se matriculou em um cursinho de língua portuguesa com objetivo de se preparar para concursos.

“Eu estava muito estagnado, cheguei em um certo nível profissional, veio uma pandemia e mudou tudo. Você tem que buscar novos horizontes, se você não tem um diferencial, ele não vai cair na sua frente”.

O professor reforça, ainda, o conceito da vida ser uma eterna variável, e da importância de buscar algo além daquilo que você tem como vida estável. “Eu tinha um emprego legal, com um salário legal e um veículo legal, veio o coronavírus e disse: tudo aquilo que você tem não é nada. Existem cerca de sete universidades formando pessoas com novas ideias, ou você estuda ou você fica pra trás. Vou sair da pandemia com coisas boas, com muitos aprendizados”, finalizou.

#CG121: Em tempo de 'reconfigurar' sonhos, campo-grandenses focam nos estudos
Profissões ligadas a exercícios físicos foram impactadas na pandemia e exigiram criatividade (Foto: Arquivo Pessoal)