, de acordo com o dicionário Aurélio é o “sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses a às responsabilidades dum grupo social, duma nação, ou da própria humanidade”, esse é significado de uma palavra que pode ser expressa de inúmeras formas.

No dia 26 de agosto, completa seus 121 anos, desta vez, devido a causada pelo novo , não será a cidade que entregará festas, shows ou eventos presenciais à população, mas sim os moradores que em pequenos gestos divididos montaram um presente para a Capital, ele se chama solidariedade.

Em meio a tantas notícias desanimadoras e um balanço diário que nos mostra como a Covid-19 avança pela cidade morena, o Jornal Midiamax decidiu não mostrar apenas os efeitos negativos dessa pandemia, mas os sentimentos positivos gerados na população. Assim histórias como da Mônica, do João e de um grupo que preferiu não expor nomes, mas suas boas ações.

Segundo um levantamento realizado pela CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), em três meses de pandemia, Campo Grande perdeu cerca de 18 mil empresas prestadoras de serviço e comércio. Não apenas números, pessoas que do dia para a noite perderam sua renda e sustento.

Alimentos aos que não podem comprar

#CG121 Cidade recebe solidariedade como presente durante a pandemia
Ação realizada por voluntários do Instituto Maná do Céu. (Foto: reprodução/Instituto Maná do Céu)

Pensando nessas pessoas que, com as doações da população em conjunto com o trabalho do Instituto Maná do Céu para os Povos, surgiu o projeto Família Protegida. Mônica Vollkopf, de 48 anos, é assistente social do instituto e trabalhou, de julho a agosto, na entrega de cestas básicas e kits de higiene para 500 famílias que residem nas regiões do Prosa, Bandeira, Anhanduizinho e Segredo em Campo Grande.

Mônica conta que o instituto já atuava em causas sociais há anos, mas durante a pandemia ela percebeu um movimento da população nunca antes visto. “Quando a pandemia começou, teve o fechamento do comércio, alguns serviços pararam e muitos perderam sua fonte de renda, estou falando do pipoqueiro, o pai que levava alunos para a escola, e de repente não tinham mais como trabalhar. Eu acho que isso tocou o coração das pessoas e nós do instituto começamos a receber alimentos da população que pediam para que a gente doasse para os necessitados”, disse Mônica ao explicar como o projeto iniciou.

Com isso o instituto reuniu as doações e em parceria com um banco receberam verba para a compra de alimentos para atender as 500 famílias por três meses. “Nós poderíamos ter pegado o dinheiro recebido e comprado várias cestas e então mandado o vendedor entregar na casa, mas resolvemos olhar para cada um, nós visitamos as casas, entendemos o que as famílias precisavam e montamos cestas individuais que puderam atender as necessidades de cada um”, disse Mônica.

Contando com alegria a ação realizada, ao falar sobre as visitas, foi nítido a mudança na voz de Mônica, que não escondeu a moção ao falar sobre as condições em que as pessoas vivem e notar o quanto um gesto tão pequeno, como a doação de alimento, pode mudar a vida de uma pessoa.

“Quando você chega no lugar, eu lembrei das minhas brincadeiras de crianças, quando nó montávamos barraquinhas de pano e madeira no quintal de casa, para mim isso sempre foi uma lembrança da infância, mas você percebe que para outros isso realmente é uma casa, uma realidade”, comentou Mônica.

#CG121 Cidade recebe solidariedade como presente durante a pandemia
João realizando distribuição de cestas básicas durante ação elaborada pelo Amigos do James. (Foto: reprodução/Amigos do James)

Embora a grande quantidade de famílias atendidas, sozinho o instituto que Mônica participa não conseguiria atender todas os que precisam de ajuda. Foi pensando nessas pessoas, onde a ajuda não chega, que João Victor Medeiros do Santos, de 36 anos, administrador e fundador do Amigos do James resolveu concentrar seus esforços e exercer seus atos solidários.

João Victor, conhecido como James, conta que o grupo já trabalha com causas sociais, mas sempre voltada a crianças e idosos, e foi durante a pandemia que eles decidiram que não apenas esses dois grupos seriam ajudados, mas sim todos os que necessitavam.

Ao conversar com pais e mães das crianças já atendidas pelo grupo, James percebeu que muitos não recebiam as cestas, kits e alimentos doados por outros grupos ou instituições. “Algumas famílias recebiam seis ou sete cestas de uma vez, por conta do número de pessoas que vive na casa, e algumas não recebiam nenhuma. É um ato generoso que todos os projetos possuem, mas as vezes por alguma desatenção nas listas, algumas pessoas acabavam ficando sem nada”.

Para tentar atender essa parcela o grupo Amigos do James fez uma parceria com alguns cantores e realizaram uma live no dia 24 de março para arrecadar mantimentos, “A gente fez apenas uma live, mas arrecadações aconteceram até o mês de junho, nós entregamos as cestas até semana retrasada (julho)”, explicou João.

Mônica, do Instituto Maná do Céu para os Povos, e João, fundador do Amigos do James, não foram os únicos que pensaram no próximo durante o difícil momento que Campo Grande vive, juntamente com todo o Brasil. Um grupo de amigos resolveu entregar alimentos para aqueles que vivem nas ruas, que sobrevivem pedindo moedas e comida.

Umas das fundadoras do grupo explicou que já participou de grupos e institutos durante a vida e por isso tinha vontade de ajudar o próximo de alguma forma, a chegada do coronavírus e a pandemia na capital foi o ‘start' para que ela, seus amigos e familiares colocassem o projeto em prática. “Acho que posso dizer que todo mundo tirou um tempo para refletir durante esse momento que estamos passando, e com a gente não foi diferente… Sempre tivemos o mesmo objetivo, dar ao próximo o que tivemos o privilégio de ter e também dar e receber muito amor”.

A fundadora e os participantes optaram por não se identificarem na reportagem, para eles o mais importante é a boa ação e não os que a praticam. O trabalho consiste em preparar e distribuir sopas e pães para pessoas que vivem em situação de rua, sem parcerias eles tiram do próprio bolso para comprar, preparar e entregar as refeições. No total são em média 150 litros de sopa entregues durante um percurso de 40 km.

A ajuda para depois da pandemia

Entregar cestas, kits de higiene e refeições foram as primeiras atitudes tomadas por aqueles que tentavam ajudar os mais necessitados, mas durante entregas, conversas e atendimentos surgiu um novo desafio, recolocar os pais e mães de família no mercado de trabalho.

Mônica e João perceberam que muitos que estavam precisando das doações trabalhavam, com empregos informações, bicos e afins, mas ao verem suas rendas acabarem, caíram em uma realidade onde não tinham mais como se sustentar.

“Era fácil perceber que alguns tinham vergonha de pedir a cesta, isso porque esse pai ou mãe trabalhavam, não ganhavam muito, mas o suficiente para colocar comida na mesa e pegar as contas, então em questão de dias eles estavam precisando de caridade”, comentou Mônica.

João revela ter notado a mesma situação durante as visitas nas casas atendidas pelo Amigos do James. Apesar dessa situação ter aumentado durante a pandemia, João revela que a vontade que as pessoas possuem de se qualificar para o mercado não começou agora.

“Durante essa caminhada (3 anos) eu sempre pergunto se as pessoas querem viver de caridade e nenhuma quer, essas pessoas querem trabalho, elas não querem apenas alimento, eles querem ter oportunidade (de trabalhar)”, disse João.

Pensando nesse grupo, o Instituo Maná do Céu para os Povos e Amigos do James decidiram capacitar essas pessoas sem pedir nada em troca. Segundo a assessoria, as entregas de cestas feitas pelo instituto chegam ao fim neste mês de agosto e eles estão estudando formas de implementar esses cursos gratuitos, levando em consideração os cuidados que devem ser tomados durante a pandemia.

João explica que antes da pandemia já existia um plano para iniciar a capacitação das pessoas, idéias que foram barradas pelo coronavírus, com a finalização das entregas de cestas no final de julho eles também estudam formas de começar a formar barbeiros e barbeiras ou revendedores de cosméticos, primeiros cursos que serão ofertados.