#CG121 Campo-grandenses transformam casa em escritório e rola até reforma na pandemia
Que a pandemia pegou o Brasil inteiro de surpresa, todo mundo já sabe. O que (quase) ninguém contava era que o isolamento social, o home office e as consequências do coronavírus durassem tanto tempo. Quem passa maior parte do dia sem ter contato com o mundo externo precisou adequar a rotina de trabalho com as […]
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Que a pandemia pegou o Brasil inteiro de surpresa, todo mundo já sabe. O que (quase) ninguém contava era que o isolamento social, o home office e as consequências do coronavírus durassem tanto tempo. Quem passa maior parte do dia sem ter contato com o mundo externo precisou adequar a rotina de trabalho com as tarefas domésticas em um único lugar. Para isso, muita gente colocou a criatividade em prática e rolou até uma reforma de “faça você mesmo” no maior estilo de programa de TV.
É em uma casa pequena com 2 quartos que Simone Elias mora com o marido e o filho de 1 ano e 7 meses. Tudo ia bem no decorrer do ano até a professora receber a notícia de que as aulas ministradas por ela seriam online. O misto de sensações deixou a profissional confusa sobre como ia adequar o espaço de trabalho com o bebê e os equipamentos do marido. “Um verdadeiro ninho de mafagafos” é como ela define a atual situação da residência.
Entre o estica e puxa, a professora chegou a acordar um dia chorando porque o que era apenas uma gambiarra provisória virou, do dia pra noite, o local fixo de trabalho da família. Foi então que o casal resolveu fazer a própria mudança e transformar o quarto do pequeno em um mini escritório, nem que, para isso, precisasse comer com o prato no colo.
“A única mesa de jantar da casa virou minha mesa de aula. Foi super difícil de entrar no quarto do bebê e agora ela fica grudada no berço.”
Porém não foi só o herdeiro que sentiu as mudanças na casa. A coluna de Simone também foi afetada com a falta de mobília adequada para trabalhar. Como a cadeira que ela tinha não era muito confortável, a professora passou 2 meses ministrando as aulas do jeitinho brasileiro.
“No dia dos namorados meu marido me fez uma surpresa e me deu uma cadeira usada, mas linda. Foi aí que as coisas melhoraram e também começaram os gastos.”
Como nem tudo que é trágico é cômico, um dia o notebook da professora simplesmente pifou. “Meu marido descia nas lojas e voltava correndo com as peças do computador. Foram uns R$ 500 em peças novas porque meu laptop estava morto. Ficar em casa fez a energia aumentar e o consumo de papel higiênico e café também. Moro no bairro Parati e foi tudo do meu bolso.”
Lucca e Anna Lua, os filhos pequenos de Karen Paroni Ratier também perderam o quarto. O local de descanso das crianças, de 4 e 2 anos, virou depósito de material da artesã e os pequenos foram “despejados” para o quarto dos pais. O primogênito não gostou muito da ideia, mas a falta de opção fez a família se espremer em um cantinho para a mãe poder trabalhar.
A transferência das 2 salas que eram o ateliê, de aproximadamente 20 metros quadrados, no Centro para o cômodo na residência localizada no Nova Lima desafogou os gastos com combustível. No entanto, os materiais de trabalho da artesã ficaram ao alcance dos pequenos que, curiosos, mexem e chegam até a estragar alguns itens delicados usados nas confecções dos produtos.
Com a pandemia, o objetivo da família de transformar a varandinha do fundo da residência em área de lazer ficou para depois. A realidade agora é um ateliê de artesanatos em papel, quartos infantil e adulto, espaço dos brinquedos, sala de estar e cozinha tudo em um só lugar.
A entrega das salas onde ficavam o local de trabalho de Karen foi necessária após o rendimento da artesã cair drasticamente por conta da pandemia. Com as encomendas escassas, ficou inviável manter o aluguel e a mudança foi a alternativa encontrada para manter a produção.
“Coloquei meu computador em uma mesinha ao lado da TV junto com uma das impressoras e a plotter de recorte de papel. Mantenho um gaveteiro pequeno do lado com os papéis e materiais que uso todo dia”, explica.
Lyra e Davidson não tem filhos, pelo menos humanos. Se para alguns o teletrabalho deixou a casa de pernas para o ar, os dois resolveram aproveitar para mudar a decoração da casa e investir no estilo minimalista. A jornalista Lyra Libero e o marido arquiteto perceberam que muita coisa mudou na rotina durante a pandemia. Ela tinha uma agência de marketing em um imóvel no Jardim dos Estados, mas entregou o imóvel, alocou a equipe home office e começou a trabalhar em casa. Felizmente a empreendedora já tinha um escritório montado pois quem é autônomo sabe: trabalha o tempo todo.
O casal notou ainda que a casa precisava se organizar mais, já que estando mais no local, mais bagunça e mais ansiedade. As mudanças iniciaram aos poucos como organizar melhor os alimentos, o lazer e a rotina como um todo. A social midia comprou uma etiquetadora e potes de conserva pois, como cozinhava todos os dias, os alimentos estavam acabando mais rápido. E, para melhorar ainda, ela decidiu virar vegetariana. Consequentemente, mais grãos no armário, que mantidos nos sacos pegam caruncho e duram menos. Os potes custaram R$50 em média 20 unidades e a etiquetadora cerca de R$130 com 3 rolos de fita.
Outra coisa que o casal investiu foi em um carrinho multiuso. Como não tinham fruteira e a geladeira é pequena, agora eles não precisam mais ir ao mercado toda semana.
“Embora todo mundo esteja tranquilo indo em barzinho, eu prefiro me preservar, então não saio pra nada, mesmo. Esse carrinho ficou R$300 com o frete, é bonito e combina muito com o estilo industrial da minha casa, e achamos um cantinho perfeito pra ele. Agora, o processo de higienizar os alimentos quando chega do mercado ficou muito mais fácil porque cada coisa tem seu lugar certo.”
Lyra gosta de frisar que passou a dar mais valor para coisas pequenas, como uma cama arrumada. Antes era corrido, como ela mesmo denomina a antiga rotina. A jornalista saia de casa cedo pra ir pra agência e, por conta do trânsito, só dobrava o edredom e tchau.
“Engolia o café. Agora eu acordo, faço café, arrumo a cama e me sinto mais produtiva. Investi em alguns jogos de cama melhores. Só que eu sou adepta do minimalismo, então tudo que eu comprei, o que eu tinha e não usava foi doado. Doei roupas de cama em bom estado, panelas, potes e muitas coisinhas que eu via que eu não usava. Minha casa é pequena, ela é planejada.”
Sem acumular mais nada e prejudicar o espaço, a residência do casal agora é puro amor.
Não foram só as partes internas das residências que sofreram transformações. A frente da casa de Luis Fernando Falcão e Emanuelle Ferreira ganhou ares coloridos e até iluminação nova para abrigar o trailer do casal, na rua Desembargador Eurindo Neves, na Vila Gomes. Antes, escuro e tradicional, o novo negócio da família transformou a calçada em ambiente charmoso e até a árvore ganhou uma repagina pelas mãos da advogada e do técnico de segurança.
O empreendedor garante que as interferências na frente da casa atrai olhares espantados de quem esbarra na fofura do local. Um tambor de óleo usado foi pintado de vermelho pra combinar com o trailer e plaquinhas coloridas foram instaladas para deixar a calçada com cara de sala de estar.
Cuidadosa, a advogada tomou cuidado com cada detalhe para transformar o lugar em um espaço criativo e aconchegante. O casal resolveu reformar objetos que seriam jogados no lixo em mobílias funcionais para a frente da residência. Por considerarem a reciclagem importante, os empreendedores fazem questão de adotar essa linha de pensamento.
O lado negativo de trabalhar “em casa”? Para eles, nenhum.
“Inauguramos em meio à pandemia, em maio. A hamburgueria ficava na frente de onde moramos, mas era sem graça. Com muita criatividade, resolvemos colocar a mão na massa e fizemos tudo sozinhos. Hoje, a nossa fachada é singular nesses moldes de negócio, em Campo Grande.”
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