Você sabia que 78 milhões de raios caem todos os anos no Brasil? E qual a chance de um te acertar e, pior ainda, te matar? Estatisticamente falando, a chance disso acontecer é de uma em 25 mil. Parece pouco, mas a chance é maior do que ser mordido por um cachorro – uma em 100 mil. Porém, se você estiver em áreas descampadas durante uma tempestade mais forte, que produz cerca de 30 raios por minuto, a probabilidade de morrer atingido por um raio é 25 vezes maior.

Por exemplo, esta semana Mato Grosso do Sul registrou uma tempestade elétrica, com o registro de 729 raios em um dia, valor sete vezes maior do que o comum, que é cerca de 100. Desses, a maioria foi registrado num intervalo de 4 horas, durante a chegada de frente fria e ocorrência de ‘Ciclone Bomba' no sul do país.

Além disso, estamos numa área propícia a esse tipo de fenômeno. Assim, Mato Grosso do Sul é o quinto estado do país em número de mortes e é a sexta cidade do país com mais casos fatais.

Os dados são referentes a um levantamento inédito feito pelo Elat (Grupo de Eletricidade Atmosférica) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O grupo compilou estatísticas registradas entre os anos 2000 e 2019. “O estudo representa um dos levantamentos mais detalhados sobre mortes por raios no mundo e deve contribuir muito para reduzir as mortes no país”, comentou Osmar Pinto Junior, coordenador do Elat-.

Campo Grande registrou, no período de 20 anos, 11 mortes por raio, sendo a sexta cidade do país com mais óbitos. Em seguida, com 7 casos, aparecem Ribas do Rio Pardo e Ponta Porã – que ocupam o 11º lugar no ranking nacional.

Mato Grosso do Sul ocupa a 5ª posição no país entre os estados com mais mortes por raio no período. Foram 138 casos registrados, ficando atrás de São Paulo (327), Minas Gerais (175), Pará (162) e Rio Grande do Sul (147).

Circunstâncias

Então, a maior parte das mortes por raio (67%) ocorreu no e primavera – estações mais quentes do ano e por isto com maior número de tempestades e raios. Os homens representam a maior parte dos casos (82%), enquanto as mulheres representam 18% dos óbitos.

Dentre as principais circunstâncias de fatalidades, os maiores percentuais são aqueles associados a circunstâncias de agronegócio (26%) e estar dentro de casa próximo a rede elétrica ou hidráulica (21%), seguidos por atividades na água ou próximo em praias, rios ou piscinas (9%), embaixo de árvores (9%), em áreas cobertas que protegem da chuva, mas não dos raios (8%), em áreas descampadas (7%), próximo à veículos ou em veículo abertos (6%), em rodovias, estradas ou ruas, sem estar dentro de veículos (4%), próximo a cercas, varal ou similares (4%) e outros casos (6%). Não há nenhum registro de fatalidade dentro de veículos fechados; esta é circunstância mais segura para se abrigar durante uma tempestade.

Grave, mas nem sempre fatal

Nem sempre um incidente provocado por um raio é fatal, prova disso são as mais de 300 pessoas que sobrevivem por ano após serem atingidas por um raio. Desafiando as probabilidades, existem pessoas que sobrevivem a dois raios. Neide Maria Cardoso, de Curitiba (PR), é prova disso. Aos sete anos de idade, um raio atingiu sua casa pela parede dos fundos e atravessou a sala onde ela estava. O estrondo causou a perda de 80% da audição do ouvido direito. Anos depois, já adulta, ela foi novamente atingida por um raio quando estava num galpão de seu . Desta vez as sequelas foram mais graves, com queimaduras pelo corpo, perda de memória parcial e anos de terapia para superar o trauma.